segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Nivelamento por baixo
"A conclusão que se deduz nitidamente de tudo isto, é que a uniformidade, para ser possível, suporia seres desprovidos de todas as qualidades e reduzidos a simples «unidades» numéricas; é por isso que uma tal uniformidade nunca é realizável de facto, e todos os esforços feitos para a realizar, nomeadamente no domínio do humano, só podem ter como consequência o desprover mais ou menos completamente os seres das suas qualidades próprias, e desse modo, fazer deles qualquer coisa parecida com simples máquinas, porque a máquina, produto típico do mundo moderno, é bem aquilo que representa, ao mais alto grau jamais atingido, a predominância da quantidade sobre a qualidade. É para isso que tendem, do ponto de vista social, as concepções «democráticas» e «igualitárias», para as quais todos os indivíduos são equivalentes entre si, o que leva à suposição absurda de que todos devem estar igualmente aptos para tudo; esta «igualdade» é algo de que a natureza não oferece nenhum exemplo, pelas razões que acabámos de indicar, já que se assim fosse, ela não seria mais do que uma completa semelhança entre os indivíduos; mas é evidente que, em nome desta pretensa «igualdade», um dos «ideais» ao invés mais caros ao mundo moderno, fazem os indivíduos o mais semelhantes que a natureza permite, e para isso, primeiro que tudo, pretendendo impor a todos uma educação uniforme. É claro que, como não se pode suprimir inteiramente a diferença das aptidões, essa educação não dá em todos os mesmos resultados; mas também é verdade que, se é incapaz de dar a certos indivíduos as qualidades que eles não têm, pelo contrário, é capaz de abafar noutros todas as possibilidades que ultrapassam o nível comum; é assim que o «nivelamento» se faz sempre por baixo."
René Guénon
in "O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos", Publicações Dom Quixote, 1989.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Novidade das Edições Réquila: Livro "Diário do Cárcere" de Corneliu Zelea Codreanu.
ResponderEliminaredicoesrequilablogspot.com
«A civilização moderna aparece na história como uma verdadeira anomalia: de todas as que conhecemos, ela é a única que se desenvolveu num sentido puramente material, a única também que não se apoia em nenhum princípio de ordem superior. Este desenvolvimento material que se desenrola há vários séculos, e que se acelera cada vez mais, foi acompanhado de uma regressão intelectual que ele é incapaz de compensar. Trata-se, bem entendido, da verdadeira e pura intelectualidade, que também poderiamos chamar de espiritualidade, sendo que nos recusamos a dar este nome àquilo que os modernos se têm sobretudo aplicado: a cultura das ciências experimentais, com vista a aplicações práticas às quais elas são susceptíveis de dar lugar. Um só exemplo poderia permitir medir a extensão desta regressão: a "Summa Theologica" de S. Tomás de Aquino era, no seu tempo, um manual para o uso de estudantes; onde estão hoje os estudantes que seriam capazes de a aprofundar e de a assimilar?»
ResponderEliminarRené Guénon