segunda-feira, 30 de setembro de 2013

À espera

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"Bruscamente, quando no crescendo animado pelas cadeias internacionais de TV, esperávamos o ataque ao ‘reino do Mal’ de Bashar al-Assad, eis que tudo pára numa cena de dramatismo teatral: Kerry e Lavrov aparecem, em Genebra, lado a lado, com uma proposta de saída da crise — a entrega pelos sírios das armas químicas.
Lembrou-me os últimos tempos da Guerra Fria — e da União Soviética — quando Jimmy Baker e Eduard Shevardnaze andavam pelo mundo a parar conflitos periféricos com vista à paz perpétua pós-Guerra Fria… Vinte anos depois de muito conflito periférico, de muito massacre étnico, de muita vítima do macroterrorismo e antiterrorismo, esta aparição foi um ternurento ‘souvenir pieux’.
Aparentemente, todos saem a ganhar, começando pelos protagonistas do arranjo. Putin traz Moscovo de regresso à cena mundial, emparelha com os americanos, modera-os, aguenta um aliado difícil, diz coisas realistas, marca pontos ao enfrentar a hegemonia de Washington. Obama, depois dos erráticos diz e não diz e diz que faz e não faz e de uma linha vermelha que não era assim tão linha ou tão vermelha e de pedir o apoio do Congresso para uma intervenção contrária à Carta das Nações Unidas, depois de tantas voltas e reviravoltas, encontrou uma ponte de prata: livra-se de uma intervenção político-militarmente incerta e livra os aliados ingleses e franceses que podem sair à socapa com o irmão maior, todos a dizerem que, graças à pressão militar, tiveram uma vitória diplomática.
Sauditas, turcos e Emirados, e até Israel, apesar de favoráveis ao ataque, temiam-lhe as consequências imediatas. As consequências estão lá, mas podem esperar.
Assad ganha tempo, adia a queda final que os ataques poderiam precipitar (um Tomahawk podia mesmo acertar-lhe no bunker familiar). Com a natural celeridade e eficácia das inspecções internacionais vai ter tempo de sobra para continuar a liquidar os seus opositores, desde que o faça com armas convencionais…
Os opositores — os rebeldes sírios — são os mais prejudicados pela decisão. Mas, para os tranquilizar à boa maneira idealista do ‘excepcionalismo americano’ invocado por Obama, é natural que este lhes suba a ajuda. Os russos farão o mesmo a Assad.
Outra perspectiva menos optimista: Obama mostrou hesitação, incoerência, indecisão, num tema e numa área — armas de destruição maciça e Médio Oriente — em que se espera decisão rápida. O recurso ao Congresso, a paralisação depois da solene invocação da ‘linha vermelha’, não lhe fica muito bem.
Os aliados sauditas e israelitas já sabem com o que contam (ou não contam); e os inimigos — o Irão, o Iraque, a Síria — também. A oposição armada síria fica frustrada e, com certeza, os seus elementos mais radicais têm aqui um argumento poderoso para não confiar nos ocidentais e radicalizarem-se na substância e na forma. Também não lhes vai faltar apoio."

Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 20 de Setembro de 2013.

Boletim Evoliano #07 - 2ª Série

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sábado, 28 de setembro de 2013

António Sardinha: Monarquia e Nacionalismo

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António Sardinha: Monarquia e Nacionalismo
Ruy Miguel
Editora Contra-Corrente
148 Páginas

António Sardinha foi um dos grandes ideólogos do nacionalismo português do primeiro quartel do século passado. Tradicionalista, anti-parlamentarista e defensor de uma monarquia orgânica, foi um dos destacados dirigentes do Integralismo Lusitano – e talvez o maior dos seus ideólogos. Poeta, polemista, doutrinador e escritor, senhor de uma cultura muitíssimo considerável, publicou mais de uma dezena de livros entre 1910 e 1925. A morte prematura aos trinta e sete anos veio pôr termo a uma das mais brilhantes mentes da nossa cultura do século XX.
Ruy Miguel defende neste livro a importância da preservação de um nacionalismo muito português, intimamente ligado à monarquia, que se diferencia dos demais e não se confunde com outras “experiências estrangeiras”. Questiona-se também sobre a possibilidade, e a oportunidade, de implementação de um regime com tais características na actual realidade geopolítica europeia e mundial. Para tal, recorre a um conjunto de textos de António Sardinha, apresentados de uma forma estruturada para uma compreensão cabal do pensamento do Mestre.
Para quem não conhece António Sardinha, esta obra ímpar pode representar uma excelente introdução ao seu pensamento e à sua obra, qual compêndio da arte de tão iniludível doutrinador. Para quem está já familiarizado com o Mestre, pode aqui apreciar e recordar alguns dos seus melhores momentos, magistralmente enquadrados no tempo e no espaço, numa sequência de raciocínio habilmente dirigida por Ruy Miguel.

Encomendar através de: Editora Contra-Corrente.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Nós somos o lobo

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«Se as grandes massas fossem tão transparentes, tão bem articuladas nos seus átomos, como o declara a Propaganda, precisar-se-ia tanto de Polícia como um pastor de cães para conduzir o seu rebanho. Não é este o caso, porque há lobos, que se ocultam nos rebanhos cinzentos, quer dizer: naturezas que ainda sabem o que é a liberdade. E estes lobos não são apenas vigorosos em si mesmos, como também pode dar-se o perigo de as suas virtudes, numa bela manhã, se comunicarem às massas, transformando-se então o rebanho em matilha. Isto é o pesadelo dos detentores do poder.»

Ernst Jünger
in "O Passo da Floresta", Cotovia, 1995.

A política é a continuação da guerra por outros meios

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"O empreendimento dirigido pela linguagem acarreta uma imensa perda de liberdade — essa secular liberdade do animal de rapina — tanto para o chefe como para os seus subordinados. Qualquer deles se torna, em espírito, corpo e vida, num membro de uma unidade superior. É a isso que se chama Organização: concentração da vida activa em formas definidas, em «estados propícios» aos empreendimentos, sejam eles quais forem. Com a acção colectiva dá-se o passo decisivo que transpõe a distância que vai da existência orgânica à existência organizada, da vida em grupos naturais à vida em grupos artificiais, da horda à tribo, à classe social e ao Estado.
E, suplantando os combates entre predadores isolados surgiu, então, a guerra como empreendimento organizado de tribo contra tribo, com chefes e seguidores, com incursões, emboscadas e batalhas organizadas. Do esmagamento dos vencidos emana a Lei que lhes é imposta. A lei humana é sempre a do mais forte, aquela perante a qual se tem de curvar o mais fraco; e essa lei, reconhecida e instituída duradoiramente entre os povos, constitui a «Paz». Uma paz semelhante prevalece também no próprio interior da tribo, de forma a que o seu potencial de força permaneça disponível para se utilizado contra o exterior; o estado é a ordem interna de um povo com vista aos seus objectivos exteriores. O Estado, como forma e como potencialidade, corresponde àquilo que é a história de um povo como actualidade. Mas a história, agora como sempre, é uma história guerreira. A política não passa de um substituto temporário para a guerra, substituto esse que utiliza armas mais intelectuais. E o conjunto de homens de uma comunidade confundia-se primitivamente com o seu exército. As características do animal predador livre transmitiram-se nos seus traços dominantes, ao povo organizado — esse animal de alma comunitária e múltiplas mãos. As técnicas de governação, da guerra e da diplomacia têm todas a mesma raiz e sempre manifestaram, ao longo dos tempos, uma profunda conexão interior."

Oswald Spengler
in "O Homem e a Técnica", Guimarães & C.ª Editores.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entrevista com Gianluca Iannone

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CasaPound, um nome que representa o mal supremo na sociedade italiana. Os proclamados herdeiros de Mussolini. Razão suficiente para investigar um pouco mais a fundo e mergulhar nas profundezas deste explosivo movimento de direita radical que já atingiu um imenso número de membros e uma grande influência, comparativamente a todos os outros movimentos do género. Sabendo que nesta área a investigação podia ser difícil, decidi pedir uma entrevista a Gianluca Iannone, fundador, actual Presidente da CasaPound Itália e vocalista dos ZetaZeroAlfa.

Salve Gianluca, obrigado por teres aceite a entrevista mesmo com este calor. Imagino que até tu te sentes numa frigideira gigante neste momento, tal como o resto da Europa. Vamos começar então, para termos mais tempo para saborear umas bebidas na praia. Então, como é que tudo começou com os ZetaZeroAlfa (ZZA)? Quais são as tuas raízes musicais?
Gianluca Iannone: Começámos a tocar no final dos anos 90, numa altura de mudança. Tanto política como na sociedade em geral. Na altura o mundo não estava poluído por telemóveis e a Internet era uma coisa apenas ao alcance de alguns. Nessa altura referias-te ao livro do George Orwell quando falavas do Big Brother... O nosso mundo não tinha estruturas, apenas o "Cutty Sark", que ainda hoje é o nosso bar. A grande maioria dos projectos nasceu lá. Parece que 1997 foi há um século, realmente o tempo passa pelo país a uma grande velocidade. Graças aos ZZA, os grupos, livrarias, locais de reunião multiplicaram-se e as pessoas voltaram a falar da política e do activismo com entusiasmo.

Em comparação com outros países, Itália tem uma grande tradição da chamada "Musica Alternativa". Lembro-me de ouvir coisas como os Amici del Vento dos anos 70, por exemplo, que tiveram uma grande influência em bandas do Neofolk italiano, como os IANVA, Egida Aurea ou Roma Amor (talvez não tanto ideologicamente, mas definitivamente na perspectiva musical). Estas bandas, tal como a maior parte da música italiana em geral, têm um tom muito inspirador, se é que me entendes. Gosto de chamar a isso a sonoridade Dolce Vita. Podes dizer-nos o que é para ti a sonoridade tipicamente italiana, a música que representa a alma italiana?
Boa pergunta. Honestamente, não acho que exista uma sonoridade italiana por excelência. No nosso país cada região tem instrumentos e sons associados à tradição cultural local. Mesmo assim, se analisarmos a sonoridade desde os Amici del Vento aos SottoFasciaSemplice, estamos a saltar de um estilo musical para outro, mas mesmo assim, se os ouvirmos, encontramos raízes comuns. Digamos que a sonoridade italiana tende a ser aventurosa, romântica e bélica. Quem conseguir combinar musicalmente estes atributos terá sucesso.

ZetaZeroAlfa e futebol! Duas coisas que combinam. Qual é o teu clube, Gianluca?
A minha ideia de futebol não corresponde à realidade. Uma equipa de jovens que representa a sua cidade, talvez com um ou dois bons jogadores estrangeiros, é algo impossível de encontrar hoje em dia. Além disso, acho que o dinheiro está a envenenar o futebol, já para não dizer que há cada vez mais repressão sobre os adeptos verdadeiros e apaixonados. No meu caso deixei de ir ao estádio, mas é óptimo ver que as bandeiras dos ZZA estão presentes numa série de estádios em Itália e na Europa. Os nossos rapazes estão por todo o lado! Os ZetaZeroAlfa são formados por cinco elementos, todos adeptos da AS Roma. Mas quando os ZZA estão em palco, tocamos para todas as pessoas, não por uma determinada equipa.

Claro que também tropecei na Cinghiamattanza, que para aqueles que não estão familiarizados é uma espécie de mosh, mas com os participantes a agitar os seus cintos, agarrados pela fivela. Como é que essa prática começou? Foi só uma ideia de alguns fãs malucos ou saiu da vossa cabeça?
Cinghiamattanza é uma versão extrema do Pogo. Foi uma ideia nossa. Achámos que seria divertido para nós e um choque para os fracos. Em tempos a juventude decidia o que vestir e o que estava na moda, se seria um mohawk ou uma Lambretta. Agora quem faz isso são as celebridades. Eles dizem aos miúdos que música ouvir, qual é a última moda e até como dançar. Em '69, quando a cena do mosh começou, os tipos eram vistos como loucos. É a mesma coisa com o pessoal da Cinghiamattanza, chocam as pessoas e nós achamos piada a isso.

Quando estava a preparar esta entrevista, li que uma vez tocaste com os ZZA numa prisão. Acho que isso é uma coisa impossível em qualquer outro país, ter uma banda da "nova direita" a tocar em frente de reclusos. Porque é que o panorama político italiano é mais aberto a coisas como a "terceira via"? Consegues explicar essa aceitação da sociedade italiana por ideias da "terceira via" ou da nova direita?
Apesar de não gostar dessas duas definições, em Itália há uma grande maioria que ainda está próxima do fascismo e do princípio do líder. Isto baseia-se no facto de o fascismo ter deixado as pessoas ingratas. Apesar da propaganda moderna não perder uma oportunidade de pintar esta grande revolução italiana como o mal absoluto, a verdade é que os calendários com a imagem de Mussolini vendem milhões nos quiosques. Além disso, os jornais continuam a explorar a figura do Duce. Isto demonstra que ainda há muita curiosidade e interesse sobre um período luminoso que muitos desejavam morto e enterrado. No caso dos ZZA, o concerto na prisão de Rebibbia foi um evento organizado por alguns reclusos como uma festa para as crianças nascidas na prisão. Foi um concerto muito duro, talvez o mais duro que já demos.

Outra coisa que reparei na minha pesquisa é que a CasaPound é uma realidade com algumas parecenças com a Guarda de Ferro de Codreanu. Isto porque vocês também têm muitos projectos sociais dentro da CasaPound. Por outro lado também têm a ética guerreira como referência. O espírito legionário está muito presente. Também consegues encontrar esta ligação entre a Guarda de Ferro romena e a CasaPound? Haverá mais coisas em comum?
Podemos ter algumas semelhanças a nível organizacional. No fundo, a CasaPound Itália (CPI) inspira-se em todas as formas comunitárias e revolucionários que sugiram no último século. Daqui a fazer um paralelismo com Codreanu, talvez seja exagerado. No fundo, a CPI é simplesmente a CPI. Única e inimitável.

O início da CasaPound está marcado pela ocupação de um edifício em Roma no final de 2003. Sou alemão e nos anos 70 tivemos vários casos semelhantes aqui em Hamburgo, ligados à área da extrema-esquerda. Agora, tal como naquela época, o objectivo é obter um espaço de habitação barato e parar o envelhecimento. Na minha opinião, a "direita" e a "esquerda" não irão muito longe com a sua política de vistas curtas. A CasaPound e outros partidos e organizações da "terceira via", assim como apoiantes da chamada quarta teoria política (Alexander Dugin, etc.), não fazem parte deste esquema. Será o século XXI a pôr fim aos partidos políticos clássicos como os conhecemos?  
A CPI começou como um ocupação mas não se esgotou nesse modelo de luta. O sistema corporativo do Estado não se combate unicamente dando casas a famílias italianas. Fizemos propostas para legislação com o objectivo de partir os tectos de vidro que protegem os especuladores imobiliários. Os partidos falharam com toda a sua mesquinhez. São apenas caixas vazias, usadas para encher com dinheiro, enquanto as pessoas normais passam por grandes dificuldades no quotidiano. Todos os partidos falharam pelo simples facto de que a democracia é um grande falhanço, está a implodir e a mostrar a sua verdadeira face, a face da corrupção diária, a face dos modelos errados que tentam exportar de forma forçada.

Falemos um pouco de estética. Na Itália há um passado ilustrado quando se fala de arte e política. O futurismo de F.P. Marinetti continua a ser a representação mais proeminente. O movimento identitário, por exemplo, mas até a CasaPound utiliza uma iconografia muito moderna e evita a típica estética skinhead e outras representações ultrapassadas para atrair uma grande quantidade de jovens. Achas que uma simbologia forte é algo que assusta a classe política dirigente? Se sim,  podes dizer aos nossos leitores o que é que os partidos medíocres actuais poderiam fazer neste campo, apenas em teoria, para obter mais sucesso?
A Itália teve os chamados "três F": fascismo, futurismo e fiumanesismo. Este último foi idealizado por D'Annunzio com a ocupação da cidade de Fiume no final da Primeira Guerra Mundial, em resposta à "vitória mutilada". Ler estas páginas de história, a "Carta del Carnaro", ler a história daqueles homens extraordinários, aventureiros, combatentes, visionários e gigantes perante os outros homens dessa época e todas as épocas, é uma inesgotável fonte de inspiração. O mesmo se pode dizer do Fascismo e do Futurismo. Porque estamos a falar de gigantes, de homens que caminharam por esta terra com elegância, de forma marcial e poética. Pessoas excepcionais. Um partido pode inspirar-se nisso, mas se não tiver gente com essa atitude, será apenas uma cópia de uma cópia de uma cópia. Não são precisos novos programas, são precisos homens novos. É aí que está a dificuldade.

Vocês têm também uma associação de estudantes ligada à CPI, o Blocco Studentesco. Podem dizer-nos o que faz o Blocco Studentesco pelos estudantes? Posso imaginar que será semelhante às fraternidades de estudantes alemãs, que dispensam quartos para os seus membros se estes precisarem de um sítio para ficar e esse tipo de coisas.
O Blocco Studentesco é a organização estudantil e universitária da CPI. É o movimento estudantil líder em Roma e arredores, com 11.000 votos em eleições internas das universidades. Tem também vários representantes académicos em diversas cidades. Organiza ainda concertos, festivais e competições desportivas, contribuem para fazer crescer a juventude desta nação de uma forma saudável. Tem algumas diferenças em relação às fraternidades alemãs, parece-me mais próximo do associativismo estudantil francês.

Qual é a tua opinião sobre a Síria e a sua guerra civil? Uma guerra pela liberdade do povo ou apenas mais um plano do imperialismo "democrático" para um mundo "melhor"?
Subitamente a Al-Qaeda, inimiga do mundo Ocidental, tornou-se uma organização de rebeldes democratas que combatem pela liberdade. Os "rebeldes" são afegãos, somali, chechenos, sauditas e por aí fora. E as forças armadas sírias, fiéis e Assad e verdadeiramente sírias como o povo que defendem, são os maus? A única nota positiva nesta tragédia é que a Síria pode tornar-se um novo Vietnam para os americanos. Talvez isto interrompa, pelo menos por enquanto, a exportação da democracia para o Médio Oriente.

Li recentemente um artigo de Ettore Ricci sobre o significado que a "juventude" tem para ele. Ele cita-te na frase "der Marmor, der den Sumpf besiegt" (o mármore contra o pântano), a propósito do que acontece quando vocês ocupam casas. Quero terminar esta entrevista com uma pergunta: como descreves, numa palavra, a tua missão auto-imposta que é a CasaPound?
Uma tirania!

Traduzido e adaptado de uma entrevista de Gianluca Iannone ao blogue alemão Bellum Musicae.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Revolta Contra a Arquitectura Moderna

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"A arquitectura pré-modernista foi concebida para aproveitar a luz solar para o aquecimento e iluminação dos edifícios (e as brisas, que também são produzidas pela acção solar no ar, para o arrefecimento). O desenvolvimento dessas técnicas tradicionais foi uma acumulação lenta e dolorosa de experiências ao longo de séculos. Foi a abundância anómala de petróleo e gás baratos na nossa época que permitiu aos construtores, e sobretudo aos arquitectos, preocupados com questões de estilo, afastarem-se das práticas tradicionais que tiravam partido da energia solar passiva. O século XX foi a era das curtain walls de vidro nos prédios de escritórios, das janelas que não abriam (ou que não existiam), das fachadas em titânio e de outras façanhas da moda destinadas a decorar os edifícios para proclamar o génio ousado e criativo de quem os concebia. Este comportamento narcisista só foi possível numa sociedade com uma energia barata, na qual pouco mais importava na arquitectura do que a moda e o estatuto associados a um lugar de vanguarda. Num museu concebido por Frank Gehry, pouco importava que entrasse ar ou luz, porque era para isso que serviam o ar condicionado e os focos de halogéneo. O que importava era que a cidade fosse abençoada com um objectivo da moda criado por um xamã célebre. Ora, nada está mais sujeito a desvalorizar-se por deixar de estar na moda do que uma coisa que só é valorizada por ser moderna."

James Howard Kunstler
in "O Fim do Petróleo - O Grande Desafio do Século XXI", Bizâncio, 2006.

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A Revolução do século XX

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"Se não percorremos as ruas de Paris, nem andamos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L’Action Française com Bardeche, Thierry Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias [...] Não colaboramos num Je Suis Partout com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lebre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhavámos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.
Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença e da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Defense de l’Occident, que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barres, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutávamos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas, mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.
Não presenciámos la dure floraison dês jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de voluntários franceses antibolchevista; não deparámos com o fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré-cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da nação e do chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas ao conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.
De qualquer modo, porém, foi para nós o fascismo, como o foi para Brasillach, encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim, esse fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado, e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido, era sempre o mesmo fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.
No fascismo encontrámo-nos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela revolução que foi a revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano."

António José de Brito
in "Tempo Presente", n.º 10, Fevereiro de 1960, pp. 10-13.

Agenda d'A Casa

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sábado, 21 de setembro de 2013

Morreu António José de Brito

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Faleceu esta madrugada, no Porto, o Professor António José de Brito, docente universitário e autor de uma importante obra filosófica e política.
António José de Brito licenciou-se em Direito e Ciências Jurídicas, em Coimbra, e doutorou-se no ano de 1979, em França, com a tese "O Ponto de Partida da Filosofia". O autor de "Destino do Nacionalismo Português" (1962) não conheceu Salazar pessoalmente, e o único cargo que teve no Estado Novo foi o de secretário da Universidade Porto. Demitiu-se em 1975, "fui embora antes que me pusessem fora", conforme declarou em Maio de 2007 numa entrevista ao DN. Considerado um dos consolidados neo-hegelianos portugueses, só começou a dar aulas nos anos 80.
As suas obras políticas: "Sobre o Momento Político Actual" (1969), uma crítica muito dura a Marcelo Caetano, "Diálogos de Doutrina Anti-democrática" (1975), estudos sobre Alfredo Pimenta, António Sardinha, Charles Maurras e Salazar reunidos na obra "Pensamento Contra-Revolucionário" (1996). Acusado de colaborar com a polícia política do Regime o seu caso acabou por ser arquivado: "Infelizmente não tive a honra de ser preso!", referiu ainda abertamente na mesma entrevista.
António José de Brito tem o seu trabalho filosófico publicado na Imprensa Nacional. Os ensaios políticos — como "Pensamento Contra-Revolucionário" ou "Compreender o Fascismo" — aparecem dispersos por pequenas editoras. O último texto doutrinário de sua autoria é "A Actualidade do Fascismo", que serviu de posfácio ao livro "Discurso da Revolução", de Benito Mussolini, editado pela Réquila.
O 'Professor Brito', como era conhecido, estará sempre presente entre nós. A sua obra é um monumento de coerência e coragem intelectual e a sua atitude foi sempre consequente, o que lhe provocou não poucos problemas. Morreu um Homem Vertical que passa à História, mas a sua Lição permanecerá sempre como uma referência de integridade.

Texto publicado pelo Movimento de Oposição Nacional.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Manifesto de fidelidade

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"Seja onde for que se manifeste qualquer maioria abdicando ou abandonando as atitudes e as ideias justas, nunca renegaremos os nossos princípios nem nos desviaremos das nossas convicções. Entendemos que o cumprimento do dever possui uma importância primordial e que é indispensável manter um testemunho inteiro da verdade. Desdenhamos do relativismo, tão corrente e crescente onde seria de estranhar que ele se instalasse. Recusamo-nos ao extraordinário acervo de contradições, de desnecessários e duvidosos realismos, de pressurosas adaptações. (...) Em lugar do pequeno maquiavelismo, do jogo da alta-baixa política, preferimos a irredutibilidade dos que querem permanecer na honra, iguais a si mesmos e ao que os ultrapassa, ao que foi timbre e herança do passado e que cumpre transmitir ao futuro; como depositários, guardando as sementes e, na medida total das nossas capacidades, deitando-as à terra que laborarmos.
Afirmamos ainda que esta atitude de idealismo e de pretenso "irrealismo" tem uma função vital e decisiva na construção da realidade (que não se limita a mero dado), assumindo, pois, um carácter também realista.
Não nos remetemos à condição de resignados. Não nos curvamos ao jugo e à desculpa duma condenação. Acompanhando e confirmando a declaração de outros, não julgamos ser apenas os últimos de hoje; "afrontosamente", sustentamos ser os primeiros de amanhã.
As nossas recusas provêm do irrecusável, da aceitação de responsabilidades incómodas. As nossas rejeições traduzem um modo de assumir. Dizemos não, pelo imperativo sim a que estamos ligados. Não nos movemos no indiferentismo, nem com a interesseira prudência, nem por simples negativismo, mas sim na vivência da profunda afirmação."

Goulart Nogueira

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Somos abertamente avarentos

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«Por fim, atiram-nos à cara um pano molhado, esta neo-primitiva "sociedade da informação", a bolha das bolhas, na qual pessoas aparentemente adultas adoram brinquedos; na qual os meios e a substância se misturam e decompõem até à papa, na qual os computadores evoluem e o conhecimento diminui. Esta sociedade da informação, na qual a informação necessária se dilui sem deixar rasto.
Enquanto mergulho nas profundezas da miséria, recordo que mesmo a insuficiente faísca da civilização, encarnada pela sombra de educação popular, a procura da cultura, está irremediavelmente condenada. Os movimentos idealistas de esquerda desapareceram ao mesmo tempo que as ideias de sobriedade e educação das massas; desapareceram as milhares de horas de trabalho voluntário das associações de trabalhadores; desapareceu o ideal das cooperativas; desapareceram pelas fendas na terra tal como todo o capital produzido pela propriedade colectiva — para bancos e oportunistas.
Vivemos um momento histórico de grande depressão, o reino de um ultrajante materialismo simplificado — esse materialismo, do qual o homem tentou em tempos desprender-se, em parte conseguindo. Agora, até as antigas famílias cultas se agitam no meio da turbulência deste mundo inferior, simples e estúpido, da bolsa, de fundos de investimento e de cálculos de interesse. Profissões das antigas classes educadas reivindicam agora melhorias de salários. Que vergonha!
Ironicamente, é possível descobrir algo positivo nesta atmosfera de fim do mundo: a honestidade. Somos abertamente avarentos. Consegue encontrar algo mais sincero que os poderes do mercado, que a economia de mercado? Mercado: o sumário dos preços baixos, os espectáculo dos mais pobres, o festival da multidão.
A civilização e a educação eram das poucas coisas bonitas e nobres que a miserável humanidade conseguia espremer de si própria. Sinto falta disso. Ainda pude testemunhá-lo. Já não gosto mais.»

Pentti Linkola

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Manifestação plástica da loucura

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"Em Belém, ao levar Stanca para ver a Torre, entendi que o estilo manuelino é apenas uma manifestação plástica da loucura, do delírio de grandeza e das intoxicações de poder provocadas pelos descobrimentos marítimos. Pessoas que tinham conquistado continentes e tinham descoberto novas terras, perderam pura e simplesmente a cabeça. Não há nada de demiúrgico: apenas a bebedeira de uma riqueza e de um poder encontrados."

Mircea Eliade
in "Diário Português", Guerra e Paz, 2007.

Desamericanizar

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terça-feira, 17 de setembro de 2013

"Não podemos impor um crescimento ilimitado a um planeta"

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«O decrescimento pode ter continuidade na vida pessoal de cada um através da escolha da simplicidade voluntária. Uma iniciativa individual que leva a acções colectivas.
Face aos problemas que afectam o nosso planeta, o decrescimento não é uma opção entre outras, é necessária. Não podemos impor um crescimento ilimitado a um planeta, a Terra, fechado e limitado. De facto, um tal crescimento assenta na utilização sempre maior dos recursos do planeta e gera resíduos cada vez mais abundantes; ora, neste momento, já ultrapassamos a capacidade de produção da Terra; consumimos o capital terrestre em vez de aproveitarmos os seus frutos; consumimos a capacidade da Terra de utilizar as suas multiplas substâncias químicas devido às invenções humanas, e para as quais a natureza não tem mecanismos suficientes de metabolização. Resultado: o equilíbrio do planeta tal como o conhecemos e tal como o necessitamos para a nossa sobrevivência está ameaçado a curto prazo. Vinte anos, cinquenta anos, cem anos até que os desastres batam à porta? A maioria vê esta ameaça muito longínqua, apesar de o seu modo de vida estar já, directa ou indirectamente, a ser afectado. E que são estes poucos anos na história da Terra, que data de milhões de anos, ou na história da humanidade, que conta centenas de milhares de anos? À escala de uma vida humana, a história da humanidade vive, talvez, os seus últimos segundos. E que fazemos face a esta perspectiva? Os que podem, consumem cada vez mais, os que não podem aspiram chegar lá o mais rapidamente possível. E os nossos governos puxam a maquina à sua capacidade máxima: “é preciso manter um crescimento contínuo para conseguir criar empregos e suportar o aumento constante do consumo”.»

Serge Mongeau
in "Vers la simplicité volontaire".

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Os bons e os maus

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"O monopólio da bondade (jornal Público de 29 de Agosto) é o título da crónica de João Miguel Tavares sobre a permanência entre nós do espírito de guerra civil, apesar dos 40 anos de democracia.
A propósito dos comentários de alguns cronistas de esquerda que, por ocasião da morte de António Borges, partiram da denúncia ideológica das posições do economista para a sua desqualificação moral, Tavares conclui que, «enquanto um homem de direita olha para um homem de esquerda como um adversário político, demasiados homens de esquerda olham para demasiados homens de direita como inimigos a abater».
É coisa de que tenho alguma experiência dos tempos de faculdade, quando fazia parte de uma minoria resistente frente às maiorias associativas. Nessa altura de ‘muitos inimigos, muita honra’ não me incomodava e até achava estimulante. Hoje continua a não me incomodar, mas já não lhe acho tanta graça, até pela pobreza de espírito que revela.
É sabido que há causas ‘boas’ servidas por gente ‘má’ e gente ‘boa’ ao serviço de causas ‘más’, e que os nossos não são necessariamente bons nem os outros necessariamente maus. Mas alguma esquerda, por cinismo, fanatismo ou burrice (também há burros do lado de lá, graças a Deus) persiste nesta obsessão maniqueísta. Para eles, há ideias intrinsecamente perversas (todas as que não vêm na cartilha), e os que as perfilham — nacionalistas, conservadores, liberais — são inevitavelmente indivíduos tacanhos e de má rês, exploradores perversos e desumanos.
De onde vem este complexo, este demónio da rectidão da esquerda façanha? De Rousseau e da vontade geral, ou de Robespierre, o da virtude pela guilhotina? Imitam Lenine e os bolcheviques, ou Estaline e os cúmplices que exterminou? Inspiram-se nos anarquistas e comunistas espanhóis que mataram sete mil padres ou, mais recentemente, nos maoístas e Khmers Vermelhos? Toda esta gente proibiu, encarcerou, matou, massacrou, fez campos de concentração, sempre em nome de grandes e nobres princípios, da mesma compaixão e solidariedade, que, segundo agora dizem, faltavam a António Borges.
Estes intelectuais e articulistas não mataram nem matam ninguém, mas eles e os seus homólogos europeus foram celebrando à distância, do alto do cachimbo e da eterna camisa à pescador, essas grandes vitórias da humanidade.
Só discordo de João Miguel Tavares quando diz que tudo isto é falta de democracia: os ‘democratas’ portugueses sempre entenderam, desde a Primeira República, a democracia como o governo dos democratas. E democratas, para eles, são eles, os antifascistas. Só eles e mais nenhuns."

Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 6 de Setembro de 2013.

sábado, 14 de setembro de 2013

Visão História: Portugueses que combateram na Frente Leste

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«Na sua mais recente edição (n.º 21, Setembro de 2013), a Visão História identifica 159 voluntários portugueses que combateram, comprovadamente, por Hitler na frente russa. Mais de centena e meia de compatriotas nossos participaram naquela que foi a maior operação militar de todos os tempos: a invasão da União Soviética pelas forças da Alemanha nazi, lançada no verão de 1941.
Nascidos entre o Minho e o Algarve, estes homens foram permeáveis ao ambiente político de uma época favorável aos regimes ditatoriais, mas também se alistaram aventureiros e mercenários para tomar parte na "cruzada anti-bolchevique" apregoada pelos fascismos.
É dessa participação activa de portugueses num dos principais teatros de operações da Segunda Guerra Mundial, que em Fevereiro foi capa na edição de linha da Visão e que tem sido praticamente ignorada pela historiografia portuguesa, que aqui damos conta. Identificam-se os homens pelos seus nomes e dão-se rostos concretos a inúmeras histórias, numa reconstituição que só foi possível graças ao laborioso trabalho — quatro anos de investigação em dezenas de arquivos internacionais — levado a cabo por Ricardo Silva, mestre em História Contemporânea pela Universidade Nova de Lisboa e autor da tese Portugueses na Wehrmacht. Os voluntários da Divisão Azul (1941-1944).»

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

A elite que dá forma e vida à história

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"A realidade e, portanto, o valor de uma ideia histórica, não se mede pelo número de adeptos que a serviram, mas pela sinceridade, pelo génio, pela energia espiritual luminosa e criadora dos poucos que acreditaram nela e daquele que ergueu o pendão dessa fé e teve a virtude de arrastar multidões. A história não é feita por heróis nem por massas, mas pelos heróis que acolheram no coração o frémito secreto e o ímpeto potente das massas, e pelas massas que só fazem história quando encontram num homem a consciência da sua alma obscura.
Na verdade, o mundo moral é o das multidões, mas das multidões governadas e postas em movimento por uma ideia de traços precisos que se revela apenas a poucos, à elite que dá forma e vida à história. Multi vocati, pauci vero electi."

Giovanni Gentile
in "A Filosofia do Fascismo".

Picheleira 55

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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Contra a vontade física como ponto de referência absoluto

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"O mito heróico de base individualista, voluntarista e de «super-homens» na época moderna representa um desvio perigosíssimo. Em virtude deste mito, o indivíduo, «cortando-se todas as possibilidades de desenvolvimento extra-indidivual e extra-humano, assume — por uma diabólica construção — o princípio da sua pequena vontade física como ponto de referência absoluto, e ataca o fantasma exterior opondo-se-lhe com a exacerbação do fantasma do seu Eu. Não deixa de ser irónico o facto de, perante esta demência contagiante, alguém que se apercebe do jogo destes pobres homens mais ou menos heróicos pensar novamente no conselhos de Confúcio de que todo o homem razoável tem o dever de conservar a vida com vista ao desenvolvimento das únicas possibilidades que tornam o homem verdadeiramente digno de ser chamado como tal». Mas a verdade é que o homem moderno tem necessidade, como se se tratasse de uma espécie de estupefaciente, dessas formas degradadas ou profanadas de acção: precisa delas para encontrar em sensações exasperadas o sucedâneo de um verdadeiro significado da vida. Uma das características da «idade obscura» ocidental é uma espécie de agitação tetânica que ultrapassa todos os limites, que arrasta de febre em febre e desperta cada vez mais novas fontes de embriaguez e de atordoamento."

Julius Evola
in "Revolta Contra o Mundo Moderno", Publicações Dom Quixote (1989).

"Mate que se farte, e espere!... basta!..."

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"...Oh! não que Hiroshima me dê um grande abalo!... olhe para o Truman, como ele está feliz, todo cheio da sua pessoa, a tocar cravo!... o ídolo de milhões de eleitores!... o viúvo sonhado por milhões de viúvas!... o Landru Cósmico!... sentado ao cravo de Amadeus!... só tem que esperar um pouco... mate que se farte, e espere!... basta!..."

Louis-Ferdinand Céline
in «De Castelo em Castelo», Publicações Dom Quixote, 1992.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Mouvement d'Action Sociale

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Em 2013 como em 1871

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"O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja  desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual, parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As quebras sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo."

Eça de Queiroz
in "As Farpas", Maio de 1871.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Acabemos com isto

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"Às vezes, mesmo antevendo a catástrofe para que nos encaminhamos com aquela fúria singular de quem tem medo de não chegar a tempo, sorrimos de desdém, ouvindo a gritaria, a choramingaria, os protestos, os discursos, as ameaças, as reclamações, que surgem nos jornais, nas representações, nos parlamentos, nas salas, nas ruas, em toda a parte. Porque tudo isso, gritos, choradeiras, protestos, discursos, ameaças, reclamações, — é poeira vazia, é linguagem de papagaio, e tolice... Gritam, protestam, contra o assassinato e o roubo, contra a injúria e a calúnia, mas fazem muralha, quando alguém, audaz, se ergue contra a origem do assassinato que os aflige, do roubo que os amedronta, da injúria que os vexa e da calúnia que os irrita."

Alfredo Pimenta
in «A Época», n.º 1749, p. 1, 01.06.1924.

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Fukuyama revisitado

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"Os recentes acontecimentos no Egipto vieram confirmar a ilusão e fracasso da ‘Primavera Árabe’ como sinónimo de modernização e viragem democrática.
Este fracasso, registado em todo o Magrebe e Médio Oriente (fora a transição reformista marroquina) põe em causa a tese do determinismo evolutivo, enunciada por Francis Fukuyama no final da Guerra Fria, segundo a qual o mundo — todo o mundo — caminharia para sociedades democráticas e capitalistas.
Na década de 1970, tinham terminado na Europa, por ruptura ou transição, os regimes autoritários da Península Ibérica e caído a ditadura militar grega, ficando democratizado o espaço NATO. Na década seguinte, seria a vez das Américas: o Brasil concretizava a transição do regime militar e em 1985 o Chile de Pinochet iniciava essa transição concluída em 1988. Os generais argentinos tinham caído com a guerra das Malvinas em 1983. Assim, com excepção de Cuba, a América Latina democratizara-se.
Nos finais da década de 80, em consequência da política de Reagan e da Perestroika, era a vez da queda dos regimes comunistas da Europa Oriental, seguida pela fragmentação da própria União Soviética. Depois em 1994, chegaria o fim do regime minoritário branco da África do Sul.
Apesar dos conflitos dos Balcãs e dos grandes Lagos, do macroterrorismo da al-Qaeda e das guerras do Afeganistão e do Iraque, a vaga continuou com a queda de sucessivos ‘homens fortes’.
Dois tipos de regimes não democráticos sobreviviam: os inspirados no marxismo-leninismo e as autocracias tradicionais islâmicas (como a Arábia Saudita e a clerocracia iraniana).
Os cépticos anti-Fukuyama, como S.P. Huntington, sempre insistiram em que as democracias constitucionais funcionariam basicamente naqueles espaços que eram cristãos e tinham tido uma experiência constitucional no século XIX e criado uma sociedade civil, como era o caso da Europa e das Américas.
Os factos parecem voltar a dar-lhes razão: além do claro impasse e recuo das instituições democráticas no Magrebe e no Oriente Próximo, importantes Estados como a República Popular da China e a Rússia de Putin mostram-se pouco permeáveis ao modelo democrático.
Na China, sob a liderança do novo Presidente, Xi Jinping, o Partido Comunista distribuiu um texto conhecido como ‘Documento n.º 9’, que aponta os ‘Sete Perigos’ subversivos, em termos de ideias e princípios, que a China enfrenta.
O primeiro é a ‘democracia constitucional ocidental’ e os outros têm a ver com o ideário implícito neste modelo — direitos humanos universais, independência dos media, neo-liberalismo… A difusão destes valores é contrária à liderança política do Partido Comunista. Apesar das iniciais interpretações ‘liberais’ do novo líder, é claro que o nacionalismo e a autoridade do Partido vão continuar a ser dominantes.
Na Rússia de Putin, é também a personalização do poder e o nacionalismo populista que dominam. Como na Turquia, na Hungria e em outros países da Europa Oriental e ex-comunista.
Dificuldades para a tese de Fukuyama."

Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 27 de Agosto de 2013.

Solidariedade com a Síria em Portugal

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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A indústria dos sonhos

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"Vivemos mergulhados em ficção. A humanidade sempre se elevou da dureza quotidiana saboreando romances, teatro, epopeias, poesia. Mas nas novas formas de expressão - cinema, televisão, videojogos, sites, revistas - sobretudo em férias, devoram-se três e quatro enredos por dia.
Esta gula, além de empanturrar, envenena pela má qualidade. Os artistas têm propósitos elevados. Sempre houve pantomimas e "literatura de cordel", mas a verdadeira criação aspira à excelência. Só que hoje a ficção é dominada por uma indústria cuja finalidade é divertimento e a motivação comercial. O "produtor de conteúdos" tornou-se apenas uma peça numa poderosa máquina alimentada a popularidade. Os resultados são tristes.
Primeiro, desapareceu a "moral da história". Antes, a imaginação pretendia instruir, aconselhar, inspirar. Com a vida orientada para finalidade superior, a comunicação era o meio para um objectivo sublime. Mas num tempo em que a cultura dominante se orgulha da perda do transcendente, tudo se reduz ao material. Alguns sicofantas da modernidade chegam a tentar justificar a "arte pela arte" pondo o objecto acima do sujeito. No cinema actual, a história até teria vergonha de ter uma moral.
O segundo efeito da industrialização ficcional é a explosão da quantidade, que coloca a criação a prémio. Como a imaginação é rara, fica mínima a parte de ideias realmente inovadoras na imensa torrente de produções. Isso leva à multiplicação de séries, sequelas e reedições, para espremer ao máximo cada gota de originalidade. Assim o apetite voraz pela novidade recicla e requenta velhas ideias, rarefazendo a própria novidade.
Pior, a multiplicação reduz o valor. Para ser rentável e agradar às massas apela-se aos instintos básicos. Os condimentos indispensáveis são violência, erotismo, velocidade, grosseria, atrevimento, banalidade, secundarizando arte, elegância, subtileza, sofisticação, profundidade. A adrenalina é rainha, a rebeldia virtude suprema, sempre com filosofia, mas de plástico. Ideias antigas mas nos cenários da moda. As séries situam-se quase sempre em hospitais, esquadras, tribunais e cadeias, locais onde o espectador detestaria ver-se na vida real. Como a lei e a sociedade são sempre corruptas, o protagonista é anti-herói, transgressor, subversivo. E está sempre zangado. Se o bom é negativo, quem pode ser o malfeitor? Numa sociedade igualitária de direitos, onde está o inimigo? Para punir sem remorso e da forma brutal que a adrenalina impõe, é preciso que os vilões contemporâneos sejam caricaturas unidimensionais, irredutivelmente perversas e sem remissão. O psicopata é a personagem preferida, mas também zombies, vampiros, monstros e alguns nazis e capitalistas são esquartejados, explodidos e sangrados sem incómodo para o espectador.
Apesar de tanta televisão, Internet, quadradinhos e videojogos, ainda vivemos na realidade. Nela, o efeito desta inundação de ficção boçal é ambíguo. A intensidade da emoção empacotada estimula a sensibilidade e tende a extravasar para a vida. Somos uma época hiperactiva e neurasténica. Mas a ficção também serve de escape, descarregando no ecrã ou na página aquilo que se poupa ao próximo.
O pior está noutro nível. Toda esta produção fictícia vem mergulhada numa mesma ideologia, impondo que cada um viva na prossecução de um sonho. Num tempo que julga eliminar o transcendente, a finalidade última fica autocentrada. A pessoa define-se a si mesma, determina o seu horizonte num ideal individual e mítico, medindo-se pela dedicação a esse propósito.
Ambição e persistência são grandes virtudes. Mas a doutrina obsessiva do sonho é um deus ciumento. Gera pessoas ansiosas, não satisfeitas; exigentes, não humildes; egoístas, não agradecidas. Ser um falhado é o pior dos destinos, e o estado natural de quem não se contenta com o que tem. Com a desilusão inevitável, a demanda torna-se terrível armadilha, que devora liberdade, alegria, personalidade. Daí a depressão crónica, revolta endémica e turbulência social, que depois a ficção retrata."

João César das Neves
in "Diário de Notícias", 26 de Agosto de 2013.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

XI Universidade de Verão da Generation Identitaire (2)

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Homens duros, resistentes, sofridos

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"Que matéria prima para um povo aqui existe! Que vitalidade a desta gente! E que prolíferos, santo Deus! Como se hoje a sua principal exportação fosse a exportação de homens, de gado humano, como um deles afirmou. E de homens duros, resistentes, sofridos. Dizia Spencer que o principal é fazer do homem um bom animal; e como o animal é uma espécie do género ser vivo, o principal é fazer dele um bom ser vivo. Como os há aqui: bons viventes, com uma robusta vitalidade de planta, como a desses pinheiros que deitam raízes nas areias das costas portuguesas. E tão submissos. Submissos até quando se rebelam. «O sentimento inato de rebeldia (que não deve confundir-se com o da independência) — diz Oliveira Martins — essa vis íntima dos celtas submissos da Irlanda e da França, existe no minhoto...» Têm a cólera do cervo ou do carneiro, que os leva a actos de violência frenética, para logo a seguir tudo voltar ao mesmo. Assim se explica o regicídio e as suas consequências. Rebeldia, sim; independência, não. Aqui, como na Galiza, pode florescer o anarquismo, mas não o sentimento de liberdade. E a anarquia é a servidão."

Miguel de Unamuno
in "Portugal, Povo de Suicidas", Letra Livre, 2012.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

O direito à violência

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«— (...) Uma civilização que renuncia à possibilidade de recorrer à violência nos seus pensamentos e acções destrói-se a si mesma. Transforma-se num rebanho de carneiros a degolar pelo primeiro que passe. O mesmo acontece com os homens.»

Arturo Pérez-Reverte
in "O Mestre de Esgrima", Edições Asa.

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Ambiguidades democráticas

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"A situação no Egipto evoluiu para uma daquelas encruzilhadas que embaraçam as boas almas liberais e as instituições simpáticas e cooperativas. Como uma narrativa pícara de Boccaccio ou Maquiavel, um conto perverso de Gógol ou Púchkin, até uma daquelas ficções curtas de Borges ou Bradbury, quando bruscamente percebemos que o bem e o mal ficaram pelo caminho, a bússola também e não sabemos onde estamos.
É assim no Egipto, onde os clichés ideológicos esmorecem e desaparecem perante a brutalidade dos factos e das imagens dos factos: no começo havia a ditadura de Mubarak, uma cleptocracia familiar detestável; os democratas (incluindo a Irmandade Muçulmana), desceram à rua e a comunidade mediática euroamericana aplaudiu; os generais egípcios, iluminados pelas luzes da liberdade, trataram de pôr o velho ditador a andar e a família na cadeia. Depois seguiu-se o processo que, desde o fim da guerra fria, do Haiti ao Mali, do Iraque à RDC, vemos ser aplicado — eleições livres e justas, com ou sem observadores internacionais, mais chá e simpatia, publicação dos resultados, tomada de posse. Uma festa.
Os Irmãos Muçulmanos e Morsi ganharam as eleições como minoria mais votada, como o NSDAP de Adolf Hitler em 30 de Janeiro de 1933.
Daí o dilema complicado — ‘o povo é soberano, com a democracia há sempre soluções, os eleitores não se podem enganar, há que respeitar-lhes a vontade’. Mas a teoria da bondade popular e democrática pode entrar em crise: os islâmicos começaram a queimar igrejas cristãs, quiseram cortar as liberdades dos não crentes, impor e alargar a prática corânica numa sociedade em parte laicizada? Foi a vez dos laicos saírem à rua e dos militares, aproveitando a boleia do povo, prenderem o Presidente democraticamente eleito (o primeiro civil do Egipto moderno) mais as lideranças dos Irmãos.
A seguir, o povo da Irmandade saiu, por sua vez, à rua em nome da democracia. E aí os generais entraram ao modo militar e securitário de lidar com protestos de rua — com helicópteros, tanques e as balas dos snipers que anonimamente vão eliminando os agitadores. Ou o desgraçado que está próximo do agitador, vá-se lá saber…
Assim os Irmãos, que começaram por ser maus, que passaram a bons contra Mubarak, ainda melhores quando ganharam a eleição, que voltaram a maus no poder, estão outra vez a voltar a bons, já que são mártires e perseguidos. E os militares fazem o percurso contrário.
Os ocidentais cortam agora os apoios. Mas os países árabes conservadores — sauditas à frente, com os biliões de ajuda (têm sido eles que têm aguentado a economia egípcia, desde que a Primavera Árabe afugentou os turistas), já disseram que cobrem a parada. Ou seja, não será esse o problema.
O problema é que a democracia tem duas versões, que são contraditórias — uma, à Rousseau, é a vontade sagrada e absoluta da maioria, que nunca se engana. Noutra — ao modo de Locke, Smith e Mill dos Founding Fathers americanos — é a protecção de um núcleo de direitos individuais, anteriores à própria comunidade política e que devem ser preservados mesmo contra a maioria.
Duvido que isto aproveite muito aos egípcios, mas aqui fica."

Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 20 de Agosto de 2013.

O totalitarismo também é compatível com o «pluralismo»

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"Porque «totalitária» é não só uma forma de coordenação da sociedade através do terror político, mas também uma forma de coordenação económico-técnica que, sem recurso ao terror político, opera por meio da manipulação das necessidades através dos interesses adquiridos. Exclui assim a emergência de uma oposição efectiva frente ao seu todo. O totalitarismo não é produzido apenas por uma forma particular de governo ou de poder partidário, mas também por um determinado sistema de produção e distribuição que pode ser perfeitamente compatível com um «pluralismo» de partidos, jornais, «poderes compensatórios», etc."

Herbert Marcuse
in "O Homem Unidimensional", Letra Livre, 2011.

domingo, 1 de setembro de 2013

Frente Europeia de Solidariedade com a Síria

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A Frente Europeia de Solidariedade com a Síria nasceu no início de 2013 por iniciativa de alguns activistas que desde o início dos tumultos na Síria apoiaram as posições do presidente Bashar Al-Assad e do povo sírio. Como tal não é uma organização política nem está ligada a qualquer movimento, partido ou grupo político. Actualmente, a Frente Europeia de Solidariedade com a Síria une os esforços de todos os europeus que apoiam esta causa, deliberadamente silenciada pelos meios de comunicação internacionais. O movimento conta com delegações em Itália, Grécia, Chipre, Bélgica, Holanda, Finlândia, Espanha, República Checa, Irlanda, Roménia, Polónia e Portugal, contando ainda com simpatizantes em muitos outros países. A Frente Europeia de Solidariedade com a Síria está aberta a todos os que amam a Síria e que se encontram solidários com o povo sírio e o seu exército.
 
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