terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pensar além da "felicidade"

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«Sem dúvida, a experiência do Homem não deixa de ser proveitosa para os legisladores e os políticos, mas o homem ultrapassa sempre, em algum aspecto, as definições com as quais se pretende cercá-lo. Pelo menos o homem de que eu falo. Esse não quer a sua felicidade, como gostais de dizer, quer a sua Alegria, e essa não é deste mundo, ou pelo menos, não o é inteiramente. Sois livres, evidentemente, de só acreditar no homo sapiens dos humanistas, mas mal andaríeis se pretendêsseis dar à palavra o mesmo sentido que eu lhe dou, porque a vossa ordem, por exemplo, não é a minha, a vossa desordem não é a minha desordem — e aquilo a que chamais mal não passa de uma ausência. O espaço vazio deixado no homem como o da marca do sinete na cera. Não digo que as vossas definições sejam absurdas, mas elas jamais nos serão comuns. Porque eu posso utilizar as vossas e vós não vos podeis servir das minhas. Elas permitiram-vos atingir durante algum tempo a grandeza — durante algum tempo, apenas, porque as vossas civilizações desmoronam-se no próprio momento em que as julgais imortais.»

Georges Bernanos
in "Os grandes cemitérios sob a Lua", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988.

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