terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Mataram o Rei!
Pelas 17 horas do sábado 1 de Fevereiro de 1908 o barco proveniente do Barreiro aproximou-se da Estação de Sul e Sueste de Lisboa, onde era aguardado pelos membros do governo e outras personalidades proeminentes, pois nele vinha o rei D. Carlos, que tinha ido passar uma temporada a Vila Viçosa.
À distância um numeroso grupo de pessoas aguardava a chegada do rei, entre as quais alguns homens da Carbonária em que se destacavam Manuel Buíça, que escondia uma carabina por debaixo de um capote, e Alfredo Costa, que tinha um revólver. Pouco antes haviam estado no café Gelo, no Rossio, e preparavam-se então para realizar um atentado contra o rei.
Em Lisboa vivia-se ainda uma forte tensão política na sequência da abortada revolta republicana ocorrida a 28 de Janeiro, durante a qual se tentara derrubar o governo de João Franco, que exercia o poder sob um regime de ditadura temporária com o apoio do rei. Este autorizara em 31 de Janeiro a condenação ao exílio dos dirigentes presos durante aquele movimento, o que agravou ainda mais a ira dos grupos da Carbonária, organização de radicais republicanos que durante a agitação anterior tentara em vão matar João Franco. Desta vez os alvos eram o rei e dos restantes membros da família real, e os carbonários não iriam falhar.
Depois de ter desembarcado e cumprimentado as pessoas que o esperavam, D. Carlos dirigiu-se para o palácio das Necessidades entrando numa carruagem descoberta e sentando-se ao lado da rainha D. Amélia, tendo à frente os filhos D. Luís Filipe e D. Manuel. Quando o veículo chegou a meio da rua que ladeia a arcada ocidental da Praça do Comércio e antes de começar a virar para a Rua do Arsenal ouviu-se um tiro. Foi então que Buíça, saindo de junto das árvores da praça, colocou-se uns 8 metros atrás da carruagem, apontou com a sua carabina para o pescoço de D. Carlos e disparou um tiro que foi mortal, a que se seguiu outro que atingiu o ombro do rei e o fez cair sobre D. Amélia. Nessa altura ouviram-se mais tiros que terão vindo de junto da estátua de D. José. Nessa altura Costa saiu das arcadas e saltou para o estribo lateral da carruagem disparando dois tiros contra o rei e um contra D. Luís Filipe
Este, que já se tinha levantado com um revólver na mão, ainda conseguiu disparar contra Costa ferindo-o e obrigando-o a cair da carruagem, depois de em pé D. Amélia o ter tentado afastar com um ramo de flores. Durante esta fase do tiroteio, Buíça mudou de posição e disparou um terceiro tiro que atingiu mortalmente o príncipe na cabeça quando a viatura já estava quase a chegar à rua do Arsenal, tendo sido aí que um tiro disparado não se sabe de onde feriu sem gravidade D. Manuel num braço. Só por essa altura é que Buíça foi interceptado e imobilizado por polícias que o mataram a tiros de revólver, o mesmo destino que teve Costa depois de ter caído ferido.
Tinham passado cerca de três minutos desde o início do tiroteio quando pelas 17 horas e 20 minutos a carruagem entrou no Arsenal da Marinha, onde se verificou o óbito do rei e do príncipe real.
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