sexta-feira, 1 de julho de 2011

Harukichi Shimoi, um samurai em Fiume

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Grande intelectual, profundo conhecedor da obra de Dante, o poeta Harukichi Shimoi é certamente um dos personagens mais originais do panorama de Fiume. Nascido na província de Fukuoka a 20 de Outubro de 1883 numa família de antigos samurais, opta por estudar italiano depois de obter um diploma de inglês na escola de Tóquio. Através do embaixador de Itália no Japão, o marquês Guiccioli, Harukichi Shimoi obtém um lugar em Itália, no Regio Istituto Universitario Orientale da Universidade de Nápoles. Aqui, dedica-se à divulgação da poesia japonesa, nomeadamente através de publicações como La Diana e L'Eco della Cultura. Em 1918, a guerra interrompe as suas investigações. Tendo conhecimento da constituição de tropas especiais, Harukichi Shimoi oferece-se como voluntário para lutar no exército italiano, onde começa a ensinar karaté aos soldados dos Arditi.

Na atmosfera febril das trincheiras, tem a oportunidade de conhecer Gabriele D'Annunzio, com o qual partilha não só a paixão pela poesia, mas também a visão estético-heróica da existência. No fim do conflito, segue o poeta até Fiume, na qualidade de embaixador. À sua chegada à cidade, Harukichi Shimoi é acolhido calorosamente pelos legionários, enquanto D'Annunzio pronuncia um discurso em sua honra. Harukichi Shimoi é igualmente uma personagem chave nas várias disputas entre D'Annunzio e o director do jornal Il Popolo d'Italia, Benito Mussolini. Com efeito, d'Annunzio, na sequência do cerco de Fiume, está isolado do resto do mundo. O único capaz de entrar e sair da cidade sem levantar suspeitas é, paradoxalmente, Harukichi Shimoi, já que os sitiantes não entendiam o japonês. Graças a isso, tornou-se o emissário oficial de D'Annunzio. O poeta encarrega Shimoi (ao qual chamava camarada samurai) de transmitir as suas mensagens ao futuro Duce, em Milão. De um lado para o outro entre os dois correspondentes, o mensageiro vai conquistando a confiança de ambos. Segundo as suas memórias, os dois líderes não gostavam um do outro; odiavam-se, cada um suspeitando que o outro quisesse roubar o papel de protagonista. Para poeta, Mussolini era um camponês, enquanto o futuro Duce achava que D'Annunzio era um palhaço.

É igualmente graças a Shimoi que Mussolini se vai interessar pela cultura do Sol Nascente. O poeta japonês conta ao futuro Duce a gloriosa epopeia dos tigres brancos, ou dos fiéis samurais da dinastia Tokugawa que, após uma derrota e achando que o seu imperador estava morto, suicidaram-se cometendo seppuku. Em honra desses combatentes e da sua fidelidade, Mussolini enviou para o Japão uma coluna romana do palácio de Gneo Pompeu. Na base da estrutura, Mussolini instalou uma placa comemorativa com a inscrição: "No espírito do Bushido".

Em 1924, Harukichi Shimoi regressa ao Japão, onde se torna um homem político e um dos principais defensores do regime italiano, revelando-se num curto espaço de tempo um dos melhores oradores do país. O seu trabalho de propaganda nacionalista foi frequentemente comparado ao do próprio D'Annunzio, então muito apreciado pelos leitores japoneses graças à difusão das suas obras, feita por Shimoi. O poeta morre em 1954, com 71 anos.

1 comentário:

  1. En la biografía de D´Annunzio de Lucy Hughes-Hallet, que considero muy buena, no menciona a Shimoi en ningún momento. ¿Se le ha escapado? Gracias por dar a conocer a este samurai/spaghetti.

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