O décimo segundo colóquio do Institut Iliade realizar-se-á
no sábado, 5 de Abril de 2025, em Paris, com o tema “Pensar o trabalho deamanhã: Identidade. Comunidade. Poder”.
Globalização e financeirização, desindustrialização e
terciarização, digitalização e desmaterialização, externalização e
precarização, robotização... Em poucas décadas, o trabalho sofreu profundas
transformações, gerando tensões, desilusões e preocupações, levando-nos a
questionar o seu lugar na nossa vida e na nossa sociedade. O trabalho está em
crise. Por isso, é preciso “repensá-lo”, mas também imaginar novas formas de o
“reencantar”, no contexto da nova comunidade de destino que a Europa deve
forjar para si própria.
Os gregos e os romanos faziam uma distinção entre o trabalho
alienante (ponos, labor) e a actividade criativa propriamente dita (ergon
e poiesis, opus), intimamente associada ao logos. O
primeiro era inadequado para o homem livre e cidadão, que deveria aprender a
cultivar o otium, o tempo dedicado ao lazer estudioso e à meditação,
para além do negotium, o domínio da produção e do lucro comercial.
A sociedade medieval estava dividida em três ordens,
herdadas de uma antiga estrutura indo-europeia: os laboratores deviam
ser produtivos para garantir a sua subsistência, enquanto o manejo das duas
espadas, espiritual e temporal, cabia aos oratores e aos bellatores.
O exercício de um ofício, visto pela Igreja como um meio de redenção e de
santificação, tinha uma dimensão profundamente comunitária, no quadro das
comunidades de aldeia, dos grémios e das corporações, onde imperava o ideal do
“trabalho bem feito”.
Na sequência da Reforma Protestante, seguida das teorias
liberais inglesas do Iluminismo e das teorias marxistas do século seguinte, uma
nova concepção do trabalho, essencialmente utilitarista e mercantil, em
profunda rutura com as concepções antigas e medievais, foi-se afirmando no
Ocidente. Surgida com a ascensão do capitalismo fabril, a noção de trabalho
reduzida à sua dimensão estritamente material foi uma invenção da modernidade.
Conceito intrinsecamente ligado à procura de produtividade e regido unicamente
pela racionalidade económica, o trabalho tornou-se um “valor” determinante no
conjunto da sociedade. No século XX, o aumento da mecanização e a era das
massas conduziram à “mobilização total” das forças produtivas, de modo que toda
a actividade humana tendeu a tornar-se inteiramente quantificável, e as
próprias pessoas passaram a ser engrenagens na roda dos processos técnicos e
económicos globais.
Nada parecia pôr em causa esta evolução. No entanto,
parece que o trabalho é um valor que está agora a ser posto em causa em todo o
mundo ocidental contemporâneo. Será o fim de um ciclo?
À medida que se aceleram as revoluções tecnológicas, o
trabalho sofre mudanças radicais que acentuam tendências antigas: a perda de
sentido do trabalho, a dependência de actividades de lazer fúteis, o
desaparecimento da dimensão comunitária, a expansão do mundo virtual, a
destruição dos empregos e a transformação do trabalhador numa peça permutável
da “máquina de gestão”. Além disso, no momento em que a concorrência entre as
grandes potências se intensifica e faz soar o toque de morte das ilusões de uma
“globalização feliz”, as escolhas feitas pelos nossos dirigentes nas últimas
décadas colocam os povos e as nações da Europa numa situação de vulnerabilidade
preocupante: perda de soberania energética e tecnológica, desindustrialização e
terciarização excessiva, recurso a uma mão de obra pouco qualificada e de baixo
custo extra-europeia, verdadeiro exército de reserva para o capital, destinado
a satisfazer tanto a preguiça dos consumidores como a avidez comercial dos
grupos de interesses privados, enquanto os governos se esboroam sob o peso da
dívida.
Este declínio não é, provavelmente, inevitável, desde que os
europeus tomem em mãos o seu destino e se mostrem capazes de pensar o trabalho
de amanhã em termos de identidade, de comunidade e de soberania: é apoiando-se
nos valores duradouros da sua civilização, mas também dando provas de
inventividade, que poderão restituir sentido e eficácia à sua actividade
produtiva e voltar a conceber o trabalho como um caminho para a excelência e um
instrumento de poder. A conquista de uma autonomia estratégica para o continente
europeu é o primeiro passo essencial para esta renovação. Requer decisões
eminentemente políticas e não apenas considerações financeiras míopes. Mas
pressupõe também uma verdadeira recuperação intelectual e moral, na qual as
dimensões espiritual e estética desempenharão também um papel fundamental: para
dar sentido ao trabalho, é importante ultrapassar a visão estritamente
materialista, individualista e utilitarista da actividade humana e colocá-la na
perspectiva de um destino histórico comum.
Para além destas considerações, os europeus precisam
também de recuperar o controlo do seu tempo, de modo a substituir uma abordagem
consumista do lazer pelo gosto pelo otium, o lazer que eleva a alma e o
espírito. Esta é precisamente uma das perspectivas oferecidas pelo
desenvolvimento tecnológico, desde que o domínio deste último seja conquistado
por uma nova elite inventiva, cuja visão do mundo seja capaz de combinar o sentido
das proporções com a vontade de poder.
São estas as pistas que o Institut Iliade pretende explorar
no âmbito do seu XII colóquio e do segundo Caderno do Pôle
Études, que será lançado neste evento.
Henri Levavasseur
Informações práticas
XII Colóquio do Institut Iliade
Pensar o trabalho de amanhã: Identidade. Comunidade.
Poder
Sábado, 5 de Abril de 2025, das 10:00 às 19:00 horas
Maison de la
Chimie, 28 rue Saint-Dominique 75007 Paris