quinta-feira, 25 de setembro de 2025

CINCO DIAS PELA EUROPA

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Dia 3

A Europa está a enfrentar a decadência.

A nossa Casa Europeia comum foi construída com base:
na sabedoria greco-romana, que sintetizou os conhecimentos arcaicos que herdou,
no Direito Romano,
na ordem do Sacro Império Romano,
nas virtudes cavalheirescas
e na cultura humanística.
Para depois se regenerar nas tentativas heróicas do século XIX.
Hoje, ela é atacada por:
o niilismo moral,
o relativismo cultural,
o materialismo consumista
e as ideologias anti-humanas.


É hora de novos lansquenetes do espírito!
Não precisamos de conquistar novas terras.
Precisamos primeiro reconquistar as nossas almas!
A batalha pela Europa começa nos corações dos europeus!


Lembre-se de assinar e fazer assinar https://chng.it/Cgn76KNTJ8
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quarta-feira, 24 de setembro de 2025

CINCO DIAS PELA EUROPA

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Dia 2: Ameaças Internas

Durante séculos, a Europa permaneceu cercada: da alvorada ao crepúsculo, ventos tempestuosos uivavam de todos os horizontes. Em todas as épocas, surgiram sentinelas — sem saber de onde viria a próxima ameaça, mas firmes nas muralhas.

No entanto, a História ensinou: os perigos raramente vinham apenas de fora das muralhas. O silêncio no interior podia esconder as sementes das revoltas mais profundas — no espírito, no sangue, nos conselhos, na própria alma da cidade.

A Europa resiste, não por acaso, mas porque se lembra desta lição: só quando reina uma verdadeira harmonia no interior é que as portas podem resistir a todas as tempestades no exterior.

A verdadeira luta é tanto fora como DENTRO.

Lembre-se de assinar, conhecer e fazer assinar a petição https://chng.it/Cgn76KNTJ8

A cronologia da batalha todos os dias em inglês no Telegram https://t.me/Les_lansquenets




terça-feira, 23 de setembro de 2025

CINCO DIAS PELA EUROPA

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Campanha para os Cinco Dias pela Europa

23-27 de Setembro

Modelo: a vitória em Viena em 1529

Além de gestos simbólicos e da petição a ser assinada, estamos a trabalhar num projecto europeu baseado nesses fundamentos, que será formalizado à margem da campanha.

Entretanto, assine e faça assinar a petição https://chng.it/Cgn76KNTJ8 

Divulgue também os dados históricos.


Dia 1 Génese

Em 1487, o Imperador Maximiliano I cria os primeiros regimentos de lansquenetes.


Missão: Defesa do Sacro Império Romano e da civilização europeia

Herança: Derrotaram os suíços, detiveram os turcos em Viena. 

Hoje, a Europa precisa novamente dos seus defensores. Os lansquenetes sabiam bem disso: a Europa não é apenas uma geografia – é uma CIVILIZAÇÃO pela qual vale a pena morrer.




segunda-feira, 22 de setembro de 2025

CINCO DIAS PELA EUROPA

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Amanhã começa a campanha para os Cinco Dias pela Europa.

Como já disse, e volto a repetir, não é contra ninguém em particular, porque quaisquer que sejam as convicções sobre os nossos inimigos actuais (as minhas são bem conhecidas), ninguém existe e se define CONTRA, a não ser por um momento efémero, mas sim A FAVOR.

Tal como na arte da espada, o inimigo é apenas um reflexo de nós mesmos que serve para nos tornar senhores de nós próprios em perigo. O inimigo pode sempre mudar, não é tanto ele que importa, mas sim a nossa própria polaridade.

Não gosto de soluções simplistas e demagógicas, face a qualquer ameaça externa (venha ela de onde vier) ou interna. Enfrentá-las serve sobretudo para nos recentrarmos e nos formarmos a nós próprios.  

Não pretendo lançar slogans salvadores, mas avançar, passo a passo, em direcção ao alfa, ao Logos, ao centro, à Fénix.


Este é o texto de abertura da campanha de hoje:

Europa: terra dos nossos pais e dos nossos filhos. Sede do ciclo heróico e berço das maiores civilizações, hoje está ameaçada pela queda da natalidade e corroída pelo cepticismo. Com estas desvantagens, ela enfrenta o crescimento demográfico de outros continentes, a pretensão de potências externas de dominá-la e as reivindicações insanas de extremismos religiosos, racistas ou ideológicos que querem negá-la.

Em momentos que pareciam desesperadores, a Europa sempre renasceu como a fénix. Isso acontecerá novamente.

Por isso, tomamos como exemplo um dos primeiros momentos em que se afirmou, unida apesar das diversidades, contra ameaças normais, e queremos que a memória seja também e acima de tudo um modelo de renascimento, unidade e poder.

Quem quiser participar pode, em primeiro lugar, assinar e fazer assinar a petição no link https://www.change.org/p/europe-s-five-days?

Gabriele Adinolfi

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Jacques Heers, a História e a memória

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Autor de uma quantidade de obras verdadeiramente impressionante, reputado professor, investigador incansável e historiador livre, foi um dos mais brilhantes medievalistas franceses e europeus.




Foi ainda na adolescência, quando devorava aquelas colecções de livros encadernados do Círculo de Leitores que sintetizavam a História da Europa e do mundo, que tive o meu primeiro encontro com Jacques Heers (1924–2013). No segundo volume da História Universal, dedicado ao Mundo Medieval, publicado em 1977, descobri uma Idade Média bastante diferente da que era ensinada na escola e daquela com que me maravilhava nos romances de cavalaria. Era a chegada a um novo mundo, que me faria desconfiar para sempre da consagrada classificação «Idade das Trevas» e aguçar a minha curiosidade por um período fascinante. Naturalmente, Heers foi um historiador que muito marcaria o meu percurso académico, especialmente pelo seu estilo independente e pelas suas conclusões de grande mérito para a investigação séria.

Formado na Sorbonne, Jacques Heers tornou-se professor e, em 1951, investigador do conceituado CNRS. Por indicação de Fernand Braudel, foi enviado para Itália para desenvolver a sua tese de doutoramento sobre Génova no século XV, que defendeu na Sorbonne em 1958. Foi assistente de Georges Duby na Faculdade de Letras de Aix-en-Provence e depois professor em várias universidades, como Argel, Caen, Roeun, Nanterre e na Sorbonne, onde foi director de Estudos Medievais.

Nesta carreira brilhante, foi influenciado por Braudel que o «marcou, apesar de nem sempre subscrever os seus trabalhos», Yves Renouard, grande especialista na História de Itália, e Duby, que considerou ter tido uma «influência inegável» nos seus trabalhos e que sempre o tratou bem, apesar de ambos não partilharem as mesmas opções políticas.

Publicado em Portugal em 1994, A Idade Média, uma Impostura é um livro provocador que desfaz os principais mitos normalmente associados a este período histórico. Na Introdução, afirma: «Não raras vezes, as nossas sociedades intelectuais revelam-se abertamente racistas. Não no sentido em que o entendemos habitualmente, quer dizer, condenações ou desprezo pelas civilizações, religiões ou costumes diferentes dos nossos, mas pela espantosa propensão para ajuizar mal o seu passado.» É esse mau juízo da Idade Média que Heers rebate nesta obra. Para ele, a Idade Média propriamente dita nunca existiu, já que a divisão do tempo histórico em diferentes períodos cronológicos não passa de uma convenção que não corresponde à realidade. Assim, diz que «cada sociedade inventa os seus bodes expiatórios, reflexo para justificar fracassos ou desenganos, e sobretudo para alimentar animosidades» e considera que «Idade Média» e «Renascimento» são «palavras inventadas».

Numa excelente entrevista concedida a La Nouvelle Revue d’Histoire em 2007, Jacques Heers explicou a oposição entre História e memória, a propósito do seu livro L’Histoire assassinée, afirmando que «a História e a memória não têm nada de comparável. São mesmo incompatíveis». Para este historiador é uma questão que toca a situação actual, porque hoje se pensa que fazer memória é fazer História. Como ele explica, «a memória é a celebração ou a recordação do que se passou na vida de um indivíduo ou de uma comunidade. Mas, nesse exercício há apenas uma óptica onde não encontramos qualquer confrontação ou crítica. Ao passo que a História é uma reconstrução artificial e crítica que tem em conta diferentes ópticas».

Um exemplo é o da importância das especiarias. Na sua investigação de doutoramento, Heers chegou à conclusão de que o comércio de especiarias no Mediterrâneo nos séculos XIV e XV foi sobrevalorizado pelos historiadores. Na verdade, o trigo, o sal e outros produtos tinham muito mais importância que as especiarias, tanto em volume como valor nas trocas. Até Braudel, que sempre evocou a importância das especiarias nas trocas comerciais nesse período, reconheceu o valor científico das conclusões dos trabalhos de Heers. Assim, à tese de que a queda de Génova e de Veneza teria sido provocada pelos portugueses quando estes descobriram a rota marítima das Índias pelo Cabo da Boa Esperança para trazer a melhor preço a pimenta e as especiarias, Heers respondeu: «A pimenta e as especiarias estariam na origem da fortuna de Veneza e de Génova? Não. Génova deve a sua primeira riqueza à guerra e Veneza ao trigo e ao sal.»

Por fim, outra das questões analisadas por Heers, que ainda hoje suscita polémica, é a da importância dos árabes na transmissão e na redescoberta do pensamento grego na Europa. Mais uma vez, é algo que está sobrevalorizado, já que o ensino do pensamento grego no Ocidente «nunca cessou nas escolas catedrais e depois nas primeiras universidades. Servíamo-nos, então, de traduções latinas dos textos gregos originais que os clérigos e eruditos de Constantinopla haviam guardado e difundido em larga escala. As traduções do grego em língua árabe e do árabe para o latim apareceram relativamente tarde, quando o ensino já estava estabelecido no Ocidente, onde há mais de um século que a Lógica, directamente inspirada em Aristóteles, era reconhecida como uma das sete “artes liberais” do curso universitário».

Os principais trabalhos de Jacques Heers abalaram ideias preconcebidas e revelaram uma realidade muito diferente da que ainda hoje é comummente aceite. Agora, que tanto se ataca a História europeia, é tempo para o regresso a um mestre.

Duarte Branquinho
Sol, 1/7/2025.

quarta-feira, 21 de maio de 2025

O optimismo de Dominique Venner

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 O acto trágico de sacrifício do historiador francês não foi uma desistência.



No dia 21 de Maio de 2013, Dominique Venner cometeu suicídio em frente ao altar da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Sem surpresa, as interpretações deste gesto multiplicaram-se e, além dos seus detractores, houve muitos que viram na sua morte voluntária um anúncio do fim, um baixar de armas de um soldado que perdera o sentido do combate.

No editorial do primeiro número desse ano de La Nouvelle Revue d’Histoire, revista que fundou e dirigiu, dedicado ao arquiduque Francisco Fernando, a propósito do dossier sobre o fim dos Habsburgos, Venner reflectiu sobre a morte. Nessas linhas expressou um paradoxo premonitório: «Morrer é por vezes uma outra maneira de existir. Existir face ao destino.»

Era um paradoxo digno de um «samurai do Ocidente», expressão que deu título a este editorial e ao seu livro-testamento publicado postumamente, além de se tornar uma descrição exacta de Dominique Venner. Esta é a melhor classificação para um combatente que lutou até ao fim e morreu de pé, depois de um percurso completo, de vida plena dedicada ao que acreditava e sentia.

Note-se que esta reflexão se situa também a propósito de um acontecimento histórico trágico que deu início ao que Venner tratou num dos mais importantes livros da sua longa obra publicada, O Século de 1914. Mesmo nos piores momentos, nem tudo está perdido e até a morte pode dar lugar a um renascimento. Por isso, concluía: «A morte não é a tragédia que parece, excepto para aqueles que choram sinceramente o defunto. Ela põe fim a doenças cruéis e interrompe a decrepitude da velhice, abrindo caminho para as novas gerações. A morte pode também ser a libertação de um destino que se tornou insuportável ou desonroso. Pode mesmo tornar-se um motivo de orgulho. Na sua forma voluntária, ilustrada pelos samurais e pelos “velhos romanos”, pode ser tanto o mais forte protesto contra uma indignidade como um desafio à esperança.» Foi esse desafio ao futuro que Dominique Venner lançou com o seu sacrifício.

Um ano antes deste editorial, Venner respondia lapidarmente a um leitor que o questionava sobre a sua visão optimista do futuro: «O meu “optimismo” não é beato. Não pertenço a uma paróquia onde se acredita que tudo acaba por se arranjar. Vejo perfeitamente tudo o que é negro na nossa época. Pressinto, no entanto, que os poderes que pesam negativamente sobre a sorte dos europeus serão minados pelos choques da História que hão-de vir. Para chegar a um autêntico despertar é ainda necessário que os europeus possam reconquistar a sua consciência indígena e a longa memória das quais foram desapossados. As adversidades que aí vêm ajudar-nos-ão libertando-nos do que nos tem poluído em profundidade. Foi a tarefa temerária a que me dediquei. Tem poucos precedentes e em nada é política. Para além da minha pessoa mortal, tenho a certeza de que os archotes acesos não se apagarão. É o que me transmitem os nossos poemas fundadores. Eles são o depósito de todos os nossos valores. Mas constituem um pensamento em parte perdido. Temos assim de reinventá-lo e projectá-lo no futuro como um mito criador.»

A mensagem inspiradora de Dominique Venner é a de que, mesmo numa Europa adormecida, é possível despertar uma consciência profunda e que, por isso, devemos recusar o fatalismo.


Duarte Branquinho
Sol, 21/5/2025.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Portugal no Waldgänger - Ofensiva da Primavera

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No próximo sábado, 10 de Maio, Portugal estará representado no Waldgänger - Ofensiva da Primavera, o encontro nacional da Passaggio al Bosco Edizioni, sempre sob o signo da cultura, da metapolítica e da comunidade, que terá lugar em Florença na Casaggì - Spazio Identitario.

Duarte Branquinho será um dos intervenientes no debate das perspectivas europeias com o Centro Studi Kulturaeuropa, onde serão ouvidos testemunhos de identitários do nosso continente.
É uma honra Portugal estar representado neste encontro para acender o fogo da “guerrilha cultural” e estruturar o contra-ataque em todos os domínios.


segunda-feira, 31 de março de 2025

A aventura não é o passado

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 Jean Mabire (1927–2006), que se definia como «normando e europeu», foi um dos grandes autores de língua francesa e a sua extensa obra publicada é inspiradora.



Nasceu em Paris, mas morreu junto ao mar como o último viking, em Saint-Malo. Foi desde cedo apaixonado pelas letras e pela escrita, tendo fundado uma revista regionalista pouco depois de se formar. Cumprido o serviço militar como pára-quedista, foi mobilizado para a Argélia, onde combateu e foi condecorado, experiência que inspiraria uma das suas obras mais conhecidas, Comandos de Caça. Colaborou em variadíssimas revistas e escreveu mais de uma centena de livros. O leque de temas abrangidos foi vasto, da Normandia ao paganismo, da História à política, dos romances ao mar e aos marinheiros. Foi também crítico literário e as suas biografias de autores foram publicadas em vários volumes. Defensor da Europa das Pátrias Carnais, esteve na fundação de um movimento regionalista normando e participou na criação do GRECE e da chamada Nova Direita, de Alain de Benoist. Tornou-se uma referência para o Movimento Normando, para a associação Terre et Peuple, de Pierre Vial, e, para preservar e defender a sua obra, foi fundada a Associação dos Amigos de Jean Mabire.

O meu primeiro contacto com a sua obra foi na adolescência, quando o fascínio pela Segunda Guerra Mundial me levou às colecções de História militar publicadas em Portugal pela Ulisseia. Em livros como Os Panzers da Guarda NegraAs Waffen SS, publicado sob o pseudónimo Henri Landemer, ou Os Samurais, escrito em co-autoria com Yves Bréhéret, mas principalmente o seu Comandos de Caça, fiquei maravilhado e absorvido com o estilo com que abordou o difícil tema da guerra. Foi igualmente o tempo do meu primeiro contacto com a obra de Saint-Loup, de seu verdadeiro nome Marc Augier, de quem Mabire foi o herdeiro directo na defesa da Europa das Pátrias Carnais. Ambos seriam referências que jamais esqueceria e pensadores que me acompanhariam na formação e consolidação dos meus ideais.

As pátrias carnais, a história, a cultura, o paganismo, a defesa da identidade, a terra e o povo, entre tantos outros; estava cimentada uma ligação eterna com este bardo normando. E a Europa, sempre o sonho da Europa –unia-nos um destino comum!

Passados anos, em que fui lendo mais obras suas, conhecendo melhor o seu percurso e vendo como havia tocado tantos outros europeus como eu, fiz uma viagem onde ele esteve constantemente no meu pensamento. Percorri de lés a lés a Normandia, a sua amada pátria carnal. Da obra de engenharia moderna em Le Havre ao ancestral e mágico Mont Saint-Michel, passando por Honfleur, de onde partiram os navegadores transatlânticos, e pelas praias do desembarque que marcou o início do fim da guerra fratricida europeia, vi, observei e apreciei a terra e o povo pelos quais Jean Mabire tanto lutou para perpetuar, enquanto reconheci e me identifiquei como mais um membro da nossa grande família europeia.

Guiavam-me os livros – sempre os livros! –, mas também a experiência vivida e Mabire era, nessa síntese, um exemplo. As leituras, como a escrita, reflectem a vida. Nunca a substituem. Essa foi a lição que cedo aprendi e segui até hoje.

Numa longa e cativante entrevista com Laurent Schang, em que reflecte sobre a figura do aventureiro, Mabire alertou: «o romance de aventura não é mais que substituição. O leitor vive o que não é, revive mesmo o que não viveu. Fenómeno ao qual a televisão dá uma dimensão fascinante e onírica. “Fazemos” a guerra ou o amor por procuração em frente ao pequeno ecrã. Triunfo da ilusão absoluta.»

Mas será que nestes tempos dominados pela imagem a aventura está condenada a ser uma memória do passado? Mabire recusava tal fatalismo e, na mesma entrevista, respondeu lapidarmente: «Não, a aventura não é o passado. Acredite, viveremos ainda mais perigosamente no século XXI.»


Duarte Branquinho
Sol, 30/3/2025.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Pensar o trabalho de amanhã: apresentação do Colóquio Iliade 2025

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O décimo segundo colóquio do Institut Iliade realizar-se-á no sábado, 5 de Abril de 2025, em Paris, com o tema “Pensar o trabalho de amanhã: Identidade. Comunidade. Poder”.

 


Globalização e financeirização, desindustrialização e terciarização, digitalização e desmaterialização, externalização e precarização, robotização... Em poucas décadas, o trabalho sofreu profundas transformações, gerando tensões, desilusões e preocupações, levando-nos a questionar o seu lugar na nossa vida e na nossa sociedade. O trabalho está em crise. Por isso, é preciso “repensá-lo”, mas também imaginar novas formas de o “reencantar”, no contexto da nova comunidade de destino que a Europa deve forjar para si própria.


Os gregos e os romanos faziam uma distinção entre o trabalho alienante (ponos, labor) e a actividade criativa propriamente dita (ergon e poiesis, opus), intimamente associada ao logos. O primeiro era inadequado para o homem livre e cidadão, que deveria aprender a cultivar o otium, o tempo dedicado ao lazer estudioso e à meditação, para além do negotium, o domínio da produção e do lucro comercial.


A sociedade medieval estava dividida em três ordens, herdadas de uma antiga estrutura indo-europeia: os laboratores deviam ser produtivos para garantir a sua subsistência, enquanto o manejo das duas espadas, espiritual e temporal, cabia aos oratores e aos bellatores. O exercício de um ofício, visto pela Igreja como um meio de redenção e de santificação, tinha uma dimensão profundamente comunitária, no quadro das comunidades de aldeia, dos grémios e das corporações, onde imperava o ideal do “trabalho bem feito”.


Na sequência da Reforma Protestante, seguida das teorias liberais inglesas do Iluminismo e das teorias marxistas do século seguinte, uma nova concepção do trabalho, essencialmente utilitarista e mercantil, em profunda rutura com as concepções antigas e medievais, foi-se afirmando no Ocidente. Surgida com a ascensão do capitalismo fabril, a noção de trabalho reduzida à sua dimensão estritamente material foi uma invenção da modernidade. Conceito intrinsecamente ligado à procura de produtividade e regido unicamente pela racionalidade económica, o trabalho tornou-se um “valor” determinante no conjunto da sociedade. No século XX, o aumento da mecanização e a era das massas conduziram à “mobilização total” das forças produtivas, de modo que toda a actividade humana tendeu a tornar-se inteiramente quantificável, e as próprias pessoas passaram a ser engrenagens na roda dos processos técnicos e económicos globais.


Nada parecia pôr em causa esta evolução. No entanto, parece que o trabalho é um valor que está agora a ser posto em causa em todo o mundo ocidental contemporâneo. Será o fim de um ciclo?

À medida que se aceleram as revoluções tecnológicas, o trabalho sofre mudanças radicais que acentuam tendências antigas: a perda de sentido do trabalho, a dependência de actividades de lazer fúteis, o desaparecimento da dimensão comunitária, a expansão do mundo virtual, a destruição dos empregos e a transformação do trabalhador numa peça permutável da “máquina de gestão”. Além disso, no momento em que a concorrência entre as grandes potências se intensifica e faz soar o toque de morte das ilusões de uma “globalização feliz”, as escolhas feitas pelos nossos dirigentes nas últimas décadas colocam os povos e as nações da Europa numa situação de vulnerabilidade preocupante: perda de soberania energética e tecnológica, desindustrialização e terciarização excessiva, recurso a uma mão de obra pouco qualificada e de baixo custo extra-europeia, verdadeiro exército de reserva para o capital, destinado a satisfazer tanto a preguiça dos consumidores como a avidez comercial dos grupos de interesses privados, enquanto os governos se esboroam sob o peso da dívida.


Este declínio não é, provavelmente, inevitável, desde que os europeus tomem em mãos o seu destino e se mostrem capazes de pensar o trabalho de amanhã em termos de identidade, de comunidade e de soberania: é apoiando-se nos valores duradouros da sua civilização, mas também dando provas de inventividade, que poderão restituir sentido e eficácia à sua actividade produtiva e voltar a conceber o trabalho como um caminho para a excelência e um instrumento de poder. A conquista de uma autonomia estratégica para o continente europeu é o primeiro passo essencial para esta renovação. Requer decisões eminentemente políticas e não apenas considerações financeiras míopes. Mas pressupõe também uma verdadeira recuperação intelectual e moral, na qual as dimensões espiritual e estética desempenharão também um papel fundamental: para dar sentido ao trabalho, é importante ultrapassar a visão estritamente materialista, individualista e utilitarista da actividade humana e colocá-la na perspectiva de um destino histórico comum.


Para além destas considerações, os europeus precisam também de recuperar o controlo do seu tempo, de modo a substituir uma abordagem consumista do lazer pelo gosto pelo otium, o lazer que eleva a alma e o espírito. Esta é precisamente uma das perspectivas oferecidas pelo desenvolvimento tecnológico, desde que o domínio deste último seja conquistado por uma nova elite inventiva, cuja visão do mundo seja capaz de combinar o sentido das proporções com a vontade de poder.


São estas as pistas que o Institut Iliade pretende explorar no âmbito do seu XII colóquio e do segundo Caderno do Pôle Études, que será lançado neste evento.

 

Henri Levavasseur

 

Informações práticas


XII Colóquio do Institut Iliade

Pensar o trabalho de amanhã: Identidade. Comunidade. Poder

Sábado, 5 de Abril de 2025, das 10:00 às 19:00 horas

Maison de la Chimie, 28 rue Saint-Dominique 75007 Paris

Bilheteira online

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Bons Europeus

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É impossível ficarmos indiferentes ao discurso de J.D. Vance. Para onde vai a Europa?

 


O discurso do Vice-Presidente dos Estados Unidos da América na Conferência de Segurança de Munique deste ano provocou um verdadeiro tremor de terra político e diplomático. Mais à direita, Vance apareceu como uma voz da salvação, um exemplo a seguir. Já para o centro e para a esquerda, foi a encarnação do mal, o demónio que se intrometeu na vida alheia para a destruir.

Estamos condenados a ser «Europeus bons», pacificados e obedientes, esterilizados pelo individualismo consumista, ou «Europeus maus», suicidas e cegos pelo amor incondicional do outro, imbecilizados pelo niilismo progressista?


Escreveu Guillaume Faye que «um povo ou uma civilização que abandonam a sua vontade de poder serão inevitavelmente submersos; porque quem não avança recua, e quem recusa o combate como consubstancial à vida não viverá muito tempo». A chave está exactamente na vontade de afirmação e só os Europeus poderão construir a Europa, como filhos do futuro. A terceira via é a daqueles que Nietzsche distinguia dos patriotas, os Bons Europeus.


As palavras de Vance não são novidade, mas parece que é necessária uma voz exterior, em especial do representante da maior potência mundial, para que vejamos o que está diante dos nossos olhos. Analisemos as três questões essenciais do seu discurso, numa perspectiva europeia.


A imigração maciça é a nossa maior ameaça. Vance não negou as ameaças externas, como a Rússia ou China, mas recordou o óbvio, o perigo interno. As elites europeias esqueceram a figura do «inimigo dentro de portas» e recusaram por demasiado tempo qualquer consequência negativa do fenómeno migratório, mas hoje a fantasia do fim da História desvanece-se. A única resposta política viável para este desafio presente é parar os fluxos e revertê-los, uma mudança que será apenas eficaz se concretizada a nível europeu.


É necessária uma política de defesa europeia. Vance foi taxativo em afirmar que «é importante que, nos próximos anos, a Europa dê um passo em frente para assegurar a sua própria defesa». Da protecção dos seus cidadãos e das suas fronteiras ao investimento nas suas forças armadas, os europeus não podem depender de qualquer potência externa. A paz assegura-se estando preparados para a guerra e este é o ensinamento clássico que nos deve guiar. O desenvolvimento da indústria de defesa europeia e a dinamização de um comando das forças conjuntas dos Estados europeus são os primeiros pilares para a afirmação da Europa como potência militar.


A democracia é o regime da vontade popular. Mas Vance veio recordar que não pode haver lugar a cordões sanitários eleitorais ou outras formas de cercear a expressão do povo. Nas suas palavras, «ao que nenhuma democracia, americana, alemã ou europeia, conseguirá sobreviver é dizer a milhões de eleitores que os seus pensamentos e preocupações, as suas aspirações, os seus pedidos de ajuda, são inválidos ou indignos de serem sequer considerados». Os chamados populismos são actualmente o eixo de viragem deste impasse político-partidário, provocado pela crise de legitimidade.


Os críticos que prontamente viram neste discurso uma ingerência de Vance nos assuntos europeus são os que delegam alegremente a defesa da Europa aos EUA e fecham os olhos aos apoios externos financeiros dos norte-americanos de toda a ordem, incluindo aos media ditos «de referência». Aqueles que observaram nestas palavras um ataque à democracia europeia, são os que querem ilegalizar partidos inconvenientes, especialmente quando representam uma parcela cada vez maior da população, ou que se opõem aos referendos a questões fundamentais, como a imigração.


Perante os presentistas, que confundem a União Europeia com a Europa, os passadistas, que sonham com soberanismos impossíveis, ou os fatalistas, para quem nada vale a pena, a melhor ideia que J.D. Vance transmitiu no seu discurso em Munique foi a de que «não temos de ter medo do futuro».


Sente-se o aceleracionismo neste fim de interregnum e, com a Europa no horizonte, recordo-me das sábias e inspiradoras palavras de Giorgio Locchi: «Se quisermos falar da Europa, se quisermos planear a Europa, temos de pensar na Europa como algo que nunca existiu, algo cujo significado e identidade ainda não foram inventados. A Europa não foi e não pode ser uma “pátria”, uma “terra de pais”; só pode ser planeada, projectada, nas palavras de Friedrich Nietzsche, como uma “terra de filhos”.»


Duarte Branquinho

Sol, 19/2/2025.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Ialta e/ou Weimar

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 Modelos de bandidos, comerciantes e escravos.




Modelos, símbolos e referências moldam as acções na vida e na História.

Riade segue o rasto de Ialta

no espírito de uma “Ialta 2.0” que envolve a Europa, o Médio Oriente e parte de África.

Na realidade, mais do que Ialta – onde, em fevereiro de 1945, foram selados os destinos dos povos submetidos ao sistema internacional dos criminosos e dos mercadores – a cimeira de bandidos da Arábia Saudita remete para Teerão, onde, no final de Novembro de 1943, esses destinos foram decididos.

Mas Ialta continua a ser o símbolo, o modelo

A partir de agora, não se fala de outra coisa e, numa ironia involuntária, é enaltecida como factor de estabilização.

“Óptimo, vamos voltar a ser escravos! exclama um liberto a quem foi retirada a liberdade no filme italiano “Cipião, o Africano”.

De facto, em Riade, pouco se falou da Ucrânia

mas muito sobre a exploração de terras raras, o desenvolvimento de pipelines e a partilha dos despojos, com total desprezo por todos os outros assuntos do planeta.

E há mesmo – e não são raros – aqueles que se regozijam pelo facto de o Vice-Presidente americano Vance, que não tem qualquer poder real e é uma figura perturbadora (dado que até mudou a sua confissão religiosa quando era muito jovem para subir na escada do establishment), ter humilhado os europeus.

Imaginem um futuro chanceler alemão a felicitar-se porque um representante da França humilhou os alemães no Ruhr, em 1923, simplesmente porque foi uma bofetada na cara de Weimar?

Weimar, precisamente

parece ser o modelo escolhido pela UE, com reuniões inconclusivas e mil posições divergentes, como por exemplo em Paris, na segunda-feira à noite.

Weimar, onde reinava a decadência, onde as questões de género e um movimento pré-Woke começavam a emergir, e onde se afirmava ser possível pôr a Alemanha de pé apenas através da economia e da diplomacia.

Este parêntesis alemão, baseado no processo económico unificador renano do Zollverein e reflectido na concepção de uma Europa que, infelizmente, nunca esteve verdadeiramente unida e nunca teve um poder central, foi, de facto, menos desastroso do que a História recorda.

Durante o período de Weimar

havia muitos impulsos e tendências, mas nem todos os opositores eram anti-alemães, tal como, actualmente, os que se insurgem contra a UE não são necessariamente anti-europeus.

Havia aqueles que – tal como fazem hoje muitos entusiastas do vazio – se regozijavam com cada humilhação alemã, porque, fossem eles comunistas ou da direita monárquica, esperavam ser dominados pelos russos ou tornar-se lacaios de Londres.

Mas havia também aqueles que, opondo-se à classe dirigente de Weimar, queriam uma Alemanha unida, forte, empenhada e não sujeita a qualquer influência, quer interna quer externa.

Foram eles que puseram fim ao parêntesis de Weimar

Amavam o seu próprio povo, a sua própria terra; eram movidos pela dignidade e não se viam como cidadãos do mundo, ao ponto de nunca exigirem receber ordens de ninguém – nem de Estaline, nem de Chamberlain, nem mesmo de Mussolini.

Hoje, por outro lado, muitas pessoas têm um imaginário globalizado e falam de TrumpPutin e Netanyahu como se estivessem cá e como se fossem compatíveis com a nossa História, com o nosso sentido de lugar e com o nosso próprio ser.

No entanto, eles tinham fé, não estavam extintos, não estavam mortos e não troçavam daqueles que, no meio do desastre e da decadência total – como em 1923 ou 1929 – acreditavam na Alemanha, sem fingir que ela tinha morrido em Verdun ou Versalhes.

Encontrem a diferença

e compreenderão porque somos fracos, e saberão como renasceremos.

Com ou sem ti!

Gabrioele Adinolfi

NoReporter

 
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