Há livros que não devem ser postos nas prateleiras. Estas são as obras chamadas "clássicas" pelos seus leitores, que têm o prazer de as incluir no seu panteão literário. A biblioteca ideal de um jovem europeu será composta por obras literárias, filosóficas e políticas. Com o seu Archéofuturisme. Techno-science et retour aux valeurs ancestrales (“Arqueofuturismo. Tecnociência e regresso aos valores ancestrais”, inédito em português), Guillaume Faye fez jus ao seu título de artesão da palavra e do pensamento. O Institut Iliade reedita esta obra com um acento muito actual. Uma reedição salutar, ou mesmo indispensável, uma vez que as linhas de Faye permanecem muito actuais.
Publicado pela primeira vez em 1998 e reeditado em 2011, L'Archéofuturisme
foi um marco no pensamento de Direita. O homem que foi um dos principais
teóricos da Nova Direita e do GRECE, e uma das principais figuras do movimento
identitário, fez um balanço da luta travada pela Direita durante anos, num
livro escrito no início do século XXI, para chegar à conclusão de que a
rivalidade entre tradicionalistas e modernistas na Direita tinha de ser
ultrapassada, se quiséssemos esperar ganhar a luta contra os nossos inimigos
comuns. Para o efeito, propôs um conceito essencial: o de Arqueofuturismo.
Na esteira de Nietzsche e de Giorgio Locchi, Guillaume Faye considera que uma catástrofe é inevitável e que conduzirá ao fim do mundo tal como o conhecemos e ao nascimento de uma nova civilização. O igualitarismo, a modernidade e o seu angelismo cada vez mais cego são males a combater graças a um "espírito arcaico", ou seja, a um pensamento pré-moderno, deliberadamente desigual, que está longe de um humanismo universal defendido por uma civilização que atingiu o seu ponto de ruptura.
Desta "convergência de catástrofes" devemos sair vitoriosos, combinando valores arcaicos e ancestrais com a tecnologia e a ciência. Negar a importância de um destes dois aspectos seria insensato e garantiria uma derrota indiscutível. Persistir numa disputa entre o regresso à tradição e o desejo de ir cada vez mais longe na tecnologia seria igualmente vão.
O balanço feito por Guillaume Faye no seu ensaio é incontestável e nada escapa à pena afiada de um homem que perscruta os acontecimentos que o rodeiam à procura de sinais desta "convergência de catástrofes". Da análise dos erros cometidos pela Nova Direita às questões sociais, nada escapa ao olhar de Guillaume Faye, que sente a urgência de uma terceira via: a do Arqueofuturismo. E Faye não se contenta em desenvolver conceitos livres de qualquer realidade, aplica-os e põe-nos em prática num conto que encerra o seu ensaio e que fará lembrar aos mais atentos distopias bem conhecidas, como Guerilla de Laurent Obertone...
O leitor não pode deixar de ficar impressionado com a
lucidez do autor, cujas palavras, datadas de 1999, assumem um carácter quase
profético. Este olhar cru sobre a realidade do seu tempo adquire uma tonalidade
infelizmente demasiado actual. Reler ou ler Guillaume Faye torna-se uma
obrigação para aqueles que querem estar preparados quando chegar o momento de
construir uma nova civilização sobre as cinzas de um modernismo enlouquecido
que, como Cronos, devora a sua descendência. Para sairmos vitoriosos da catástrofe,
Faye convida-nos a seguir Evola e a "cavalgar o tigre", a agarrar a
chama prometeica, sem nunca romper com a tradição e os seus mitos.
L’Archéofuturisme. Techno-science et retour aux valeurs ancestrales, de Guillaume Faye, co-edição L’Æncre / La Nouvelle Librairie, 2023, 456 pp. Preço : 21 €. ISBN : 978 – 2‑36876 – 090‑1.