terça-feira, 31 de maio de 2011

A Arte de Ser Português

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«O bom português deve cultivar em si o patriota, que abrange o indivíduo, o pai e o munícipe e os excede, criando um novo ser espiritual mais complexo, caracterizado por uma profunda lembrança étnica e histórica e um profundo desejo concordante, que é a repercussão sublimada no Futuro da voz secular daquela herança ou lembrança...
É já grande o homem que subordina à Pátria, sem os destruir, os seus interesses individuais, familiares e municipais.
Por isso, o viver como patriota não é fácil, principalmente num meio em que as almas, incolores, duvidosas da sua existência, materializadas, não atingem a vida da Pátria, rastejando cá em baixo, entretido em mesquinhas questões individuais e partidárias. Mas para Portugal continuar a ser, precisamos de elevar até ele a nossa pessoa e conhecê-lo na sua lembrança e na sua esperança, na sua alma, enfim.
Não podemos amar o que ignoramos.
Impõe-se, portanto, o conhecimento da alma pátria, nos seus caracteres essenciais. Por ela, devemos moldar a nossa própria, dando-lhe actividade moral e força representativa, o que será de grande alcançe para a obra que empreenderemos, como patriotas, no campo social e político.
O político estranho à sua Raça não saberá orientar nem satisfazer as aspirações nacionais. É preciso que ele encarne o sonho popular e lhe dê concreta realidade. Do contrário, fará obra artificial, transitória e nociva, por contrariar e mesmo comprometer o destino superior de uma Pátria.
Sim: o bom português necessita de conhecer e comungar a alma pátria, a fim de se guiar por ela, no seu labor. Depois legislará, reformará ou criará literária e artisticamente uma obra duradoura e útil.»

Teixeira de Pascoaes
in «Arte de Ser Português», Assírio & Alvim (2007).

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Nada é estático

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"Dantes, bastava-me saber que, quando chegava a casa zangado e sabendo que a minha vida não estava a corresponder ao meu plano quinquenal, podia limpar o meu apartamento ou dedicar-me a afinar o carro. Um dia morreria sem uma única cicatriz e ficariam um carro e um apartamento francamente bonitos. Muito, muito bonitos até o pó assentar no dono seguinte. Nada é estático. Até a Mona Lisa se está a desfazer. Desde o clube de combate, consigo fazer abanar metade dos dentes dos meus maxilares.
Se calhar, o auto-aperfeiçoamento não é a resposta."

Chuck Palahniuk
in "Clube de Combate", Casa das Letras.

Viver pelo espírito

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"Por vitalidade de uma nação não se pode entender nem a sua força militar, nem a sua prosperidade comercial, coisas secundárias e por assim dizer físicas nas nações; tem de se entender a sua exuberância de alma, isto é, a sua capacidade de criar, não já simples ciência, o que é restrito e mecânico, mas novos moldes, novas ideias gerais, para o movimento civilizacional a que pertence. É por isso que ninguém compara a grandeza ruidosa de Roma à super-grandeza da Grécia. A Grécia criou uma civilização, que Roma simplesmente espalhou, distribuiu. Temos ruínas romanas e ideias gregas. Roma é, salvo o que sobremorre nas fórmulas invitais dos códigos, uma memória de uma glória; a Grécia sobrevive-se nos nossos ideais e nos nossos sentimentos."

Fernando Pessoa

domingo, 29 de maio de 2011

Méridien Zéro e o governo mundial

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A edição de hoje do programa Méridien Zéro lança a questão «Amanhã, um governo mundial?"». O convidado é Pierre Hillard, politólogo e ensaísta francês. Especialista em assuntos europeus e mundialismo, é autor de diversas obras publicadas, marcando presença na imprensa de forma regular. A emissão pode ser escutada através da Radio Bandiera Nera a partir das 22 horas portuguesas.

sábado, 28 de maio de 2011

28 de Maio: Recordemos os Tenentes

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Tudo pela Nação, nada contra a Nação

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«Repelir o invasor, restaurar as ruínas — tornavam-se assim motivações nacionais cada vez mais fortes e imperiosas. Motivação negativa, "contra", a primeira, e positiva, "a favor", a segunda. Mas ambas implicavam uma terceira, bem forte e sensível também, que no fundo a ambas por igual englobava.

Efectivamente: por um lado, políticos e intelectuais (desiludidos, uns; adversários de sempre, outros) combatiam no sistema o seu afastamento dos valores centrais da sociedade portuguesa, o alheamento em que os responsáveis se mantinham de quanto era profundamente nacional ("os portugueses estrangeiros que nos desgovernam", a quem se referia Fernando Pessoa em 1912); por outro lado, a grande massa da população, desentendida das altas especulações da filosofia política e dos bastidores da governação, sentia que no fundo os seus males vinham daí, de se ter dado prioridade a subalternos interesses partidários perante os superiores interesses nacionais, de se anteporem, às concretas necessidades das realidades próprias, preocupações de abstractos esquemas políticos alheios.

Dessa forma, excluída a minoria dos políticos profissionais, todo o País desejava ardentemente que a Nação recuperasse os seus direitos — havia tanto tempo e tão criminosamente postergados. Algumas instituições, por definição mais sensíveis — em especial — ou à superioridade do conceito de Pátria sobre meras perspectivas parcelares (como as Forças Armadas) ou à consideração da primazia dos valores morais (como a hierarquia da Igreja) ou às exigências da razão e da inteligência (como a Universidade e a Imprensa) ou às preocupações da justiça (como a Magistratura), tinham chegado a essa conclusão geral com mais aguda consciência da restauração necessária e, chegado o momento, não deixariam de contribuir decisivamente — cada um a seu modo — para vertebrar o consenso popular em favor de qualquer movimento político disposto a sobrepor o bem comum aos privilégios particulares, o conceito integrador de Nação à acção desintegradora dos partidos políticos.

De tal forma — ao fim de um século de parlamentarismo, primeiro monárquico e depois republicano — se havia identificado o sistema político cristalizado na Carta Constitucional do Imperador D. Pedro com a ideia de que se tratava de modas e fórmulas estrangeiras importadas, por tal modo a degradação e as carências materiais generalizadas humilhavam e ofendiam o orgulho nacional, que ambas as correntes de opinião — a que era movida pela ânsia de se libertar daquela imposição como a que se sentia estimulada pela nobre ambição de sanar estas feridas e mutilações operadas no corpo da Nação — vinham a convergir num renovado patriotismo, ao mesmo tempo racionado e emocional.

Em tempos del-Rei D. Pedro V, as primeiras tímidas iniciativas de fomento haviam despertado uns primeiros lampejos desse patriotismo sempre latente mas, desde os "afrancesados" de princípios do século, quase troçado como coisa de "cavernícolas" e analfabetos; com os africanos del-Rei D. Carlos, esse patriotismo profundo vivera algumas das suas horas altas; mas esse sentimento instintivo do povo português, depressa se via de novo frustrado e abatido pela mediocridade e a chateza da agitação partidária, cada vez mais vazia de sentido.

Era um terceiro componente do ambiente pré-revolucionário que estava também a chegar ao ponto de ruptura, ao limite para além do qual se tornava inevitável (e de imprevisíveis consequências) a explosão. Anos mais tarde viria a condensar-se essa aspiração aguilhoante e incoercível num lema que se popularizou: "Tudo pela Nação, nada contra a Nação". Mais do que uma linha de orientação, a fórmula resumia o que havia sido a síntese de todas as motivações anteriores: o movimento político esperado por tudo quanto no País se mantinha imune às politiquices rasteiras dos partidos havia de responder, na essência, a esse imperativo fundamental: era cada vez mais urgente reaportuguesar Portugal.»

Eduardo Freitas da Costa
in "História do 28 de Maio", Edições do Templo, 1979.

domingo, 22 de maio de 2011

Méridien Zéro no panorama actual

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Na emissão de hoje, o programa Méridien Zéro aborda o panorama noticioso actual, nomeadamente o caso Dominique Strauss-Kahn, a execução de Bin Laden, os resultados que as sondagens dão a Marine Le Pen e a acção da CasaPound. Tudo isto através da Radio Bandiera Nera, como sempre a partir das 22 horas portuguesas.

sábado, 21 de maio de 2011

Portugal e o Mar

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Portugal e o Mar
Tiago Pitta e Cunha
Fundação Francisco Manuel dos Santos
136 Páginas

Através deste ensaio, procura-se evidenciar o potencial do mar para a nossa economia, dando um contributo para uma visão estratégia que os portugueses devem ter quanto ao seu futuro.

Encomendar através de: Fnac, Bertrand, Wook.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A honra é um absoluto

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«Nunca me senti tentado, por exemplo, a tratar por «Lealistas» os republicanos da Espanha. A sua lealdade, do mesmo modo que a dos seus adversários, era certamente condicional. No capítulo de lealdade, como diria o Sr. Céline, não faço distinções entre essa gente. As suas combinações políticas não me interessavam absolutamente nada. O mundo tem necessidade de honra. É honra que falta ao mundo. O mundo perdeu a estima de si próprio. Ora, nenhum homem sensato terá jamais a extravagante ideia de aprender as leis da honra com Nicolau Maquiavel ou Lénine. Parece-me igualmente estúpido ir perguntá-las aos casuístas. A honra é um absoluto. Que tem ela de comum com os doutores do relativo?»

Georges Bernanos
in "Os grandes cemitérios sob a Lua", Edição «Livros do Brasil», Lisboa, 1988.

Cocktail Molotov

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Cocktail Molotov é o nome genérico de uma variedade de armas incendiárias improvisadas. Graças à relativa simplicidade de produção, são frequentemente usadas por combatentes não-profissionais. O nome cocktail molotov foi cunhado pelos finlandeses durante a Guerra de Inverno em 1939, numa provocação ao diplomata soviético Vyacheslav Mikhailovich Molotov. No entanto, o primeiro uso registado destes dispositivos incendiários improvisados deu-se na Guerra Civil Espanhola (1936-1939), quando legionários nacionalistas recorreram a estas armas para imobilizar os tanques soviéticos T-26, usados pelo exército republicano num assalto ao reduto de Seseña, em Toledo.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Uma quimera

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"Para serem legítimas as bases da Democracia, seria indispensável que existissem a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade, cuja célebre trilogia a Revolução Francesa escolheu para lema.
São os homens iguais? Ninguém ousará afirmá-lo. Uns, são mais fortes, mais trabalhadores, mais económicos, mais inteligentes que outros. Decretar a igualdade absoluta, é esquecer uma inflexível lei natural — que justifica as aspirações de todos os que se querem distinguir, conquistar um nome, uma fortuna, uma posição de comando.
Liberdade absoluta — não há, também, entre os homens. Presos às cadeias familiares, às dependências sociais, às regras morais que adoptaram, às carreiras que escolheram — os homens não são nunca inteiramente livres, nem podem sê-lo.
Quanto à Fraternidade, olhe-se a História, desde o início do mundo; descobre-se uma sucessão de lutas, de crimes, de conflitos... A Fraternidade é uma bela aspiração. Nada mais.
Logo, a Democracia, supondo a Igualdade, a Liberdade, a Fraternidade — é uma quimera."

João Ameal
in «Integralismo Lusitano — Estudos Portugueses», 1932. 

Há uma revolução para fazer

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Roger Scruton e as vantagens do pessimismo

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«Pouco menos de um ano após a edição original no Reino Unido (Junho de 2010) chega no próximo dia 29 às livrarias “As Vantagens do Pessimismo” de Roger Scruton, o polémico intelectual conservador inglês.
Composto de 12 capítulos e um prefácio a obra acaba por abordar todos os aspectos do mundo em que vivemos, os leitores habituais de Scruton já sabem o que os espera: uma crítica mordaz à insensatez e à loucura dos tempos modernos. Um verdadeiro ‘page turner’, inédito num ensaio filosófico. Urge chamar a atenção para o prefácio, pese embora o acompanhamento mensal que devoto aos escritos de Scruton fui apanhado de surpresa pelo tom e pelas referências literárias constantes do mesmo: resume de uma assentada toda a teoria primitivista, do decrescimento e até da crítica anti-civilização como reflexo do raciocínio pessimista. Ignora, é certo, alguns autores como Zerzan e Benoist, mas o essencial está lá: “os transumanistas prometem alegremente um futuro como o de Huxley, em que a liberdade, o amor e o compromisso desaparecem, mas em que a sua perda nunca pode ser notada pela nova raça de supernerds transumanos.”
Toda a obra gira em torno da máxima de que a liberdade só pode advir da responsabilidade e que esta não surge sem a razão, a denuncia de que o mundo moderno, e as suas crises, têm por responsável uma “espécie de vício de irrealismo”, todas as decisões modernas partem do pressuposto da “melhor das hipóteses” ignorando sempre que algo pode correr mal e que a actual crise podia ter sido evitada se assim não fosse. O modo como o filósofo desmantela a abstracção do actual sistema económico é, no mínimo, brilhante.
Mas a principal surpresa foi o elogio a Maomé! Scruton é um dos mais vorazes críticos do Islão, o que o levou inclusive a ser orador convidado no congresso do Vlaams Belang, segundo maior partido da Flandres, de extrema-direita, em 2006: “fui porque só esta está disposta a debater a problemática da imigração”, diria mais tarde aos seus críticos, “fossem socialistas iria na mesma”. O elogio não se fica por Maomé, estende-se aos juristas e às leis islâmicas referentes à usura e à especulação, “obra do Diabo”, à banalização do empréstimo como “activo irreal”, com a promessa de uma produção futura, e não ocorreu aos optimistas que mil e uma coisas podiam impedir que tal se realizasse? Uma lúcida voz que alerta para a anormalidade da actual normalidade que “uma dose de pessimismo certamente preveniria”.»

Flávio Gonçalves
in "O Diabo", n.º 1792, 3 de Maio de 2011.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Itália na Primeira Guerra

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«Em 24 de Maio de 1915, os italianos entraram em guerra contra a Áustria-Hungria sem qualquer consciência das provações que iam defrontar. O esforço imposto ao país revelar-se-á excessivamente pesado. A guerra custará 670 000 mortos e um milhão de feridos. Assim que foi assinado o armistício com a Áustria-Hungria, a tensão que tinha permitido a mobilização da sociedade desvaneceu-se. Nas esferas dirigentes, todos retomam os hábitos de antigamente. (...) O passado parece levar a melhor sobre o futuro. Parece que a guerra não existiu.
A sociedade italiana, porém, não saiu indemne do conflito. Em relação com os enormes sacrifícios pagos por tantos homens e tantas famílias, os ganhos vão revelar-se pesadamente desapontadores. Quer as forças conservadoras quer as forças populares já não são o que eram antes de 1915. A guerra revolveu-as por dentro. Transformou milhões de rapazes em soldados, revelando em alguns deles uma alma guerreira até então adormecida. Os 160 000 jovens oficiais milicianos, tenentes e capitães, que o fim da guerra devolve à vida civil, deixaram em grande parte de ser burgueses no seu coração e na sua existência. O que viveram, as hecatombes, os camaradas mortos e feridos, fizeram-nos entrar para sempre no registo da dureza. A experiência da guerra fê-los tomar o gosto por uma vida despreocupada, liberta das rotinas do tempo de paz. A guerra gravou na sua carne e na sua alma uma visão do mundo que não tem a felicidade como objectivo. Aspiram a qualquer coisa de mais inebriante e de mais forte. Nisso, são irmãos de outros jovens combatentes em toda a Europa, mas não o sabem.»

Dominique Venner
in "O Século de 1914. Utopias, Guerras e Revoluções na Europa do Séc. XX", Civilização Editora (2009).

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lançamento do segundo número da Finis Mundi

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A oficialização do lançamento do segundo número da Finis Mundi, revista de cultura e pensamento, está marcada para o próximo dia 21 de Maio, pelas 16h, no Hotel ibis Lisboa Saldanha, onde decorrerá uma apresentação subordinada ao Regresso do Elmo de D. Sebastião, levada a cabo pelo conhecido especialista de armas antigas, Rainer Daehnhardt. Entretanto, a edição pode ser adquirida através da página da editora Antagonista.

No parar hasta conquistar

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O tempo dos demagogos

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"A ditadura carece de Demagogia no discurso porque suprime as oposições sociais e políticas, enquanto a Democracia as cultiva e incentiva.
Não é só de hoje que o país encontra demagogos. A experiência histórica portuguesa do final da monarquia e durante toda a República parece mais uma parada de pavões que uma ordeiro formigueiro de atarefados trabalhadores e soldados.
Portanto, os regimes demagógicos são a especialidade portuguesa, que contrastam só com ditaduras famosas e que têm nome: a ditadura de João Franco, ministro do Rei Dom Carlos, a Ditadura de Sidónio Pais, a Ditadura de Salazar. Esta experiência de Ditaduras também é portuguesa e em geral partilhada com outros países do globo, embora a análise do tipo de regime caiba por inteiro a Carl Schmmit, no seu ensaio de Doutoramento, A Ditadura.
De facto a ditadura carece de Demagogia no discurso porque suprime as oposições sociais e políticas, enquanto a Democracia as cultiva e incentiva. A democracia não representa qualquer ameaça à demagogia, por esta é apenas a sua degenerescência.
Um regime que a própria democracia pode engendrar quando não encontra limites aceitáveis para a mentira razoável. A mentira torna-se a textura da vida política e social, demagogos e povo mentem, não há palavra, há apenas promessas vãs e inúteis e um multiplicar de palavras marteladas, prejudiciais ao entendimento do que se está a passar.
São tempos baixos, assolados por um primarismo atroz na linguagem, acossado por iniciativas necessariamente curtas de vista, devastado por leis iníquas e mentirosas. É o pântano, nem há mar, nem montanha, nem terra firme. E no pântano só prosperam aqueles que pertencem ao núcleo predador das criatura ao pântano: crocodilos, jacarés, lagartos, abutres comedores de carne podre. A mentira gera o seu ciclo de desgraças e quer se queira, quer não, é sempre uma mentira. O pior é que as mentiras tornam-se cada vez mais graves, mais caras, mais hediondas. A experiência em Demagogia das cidades gregas saldou-se pelo apagamento das suas culturas, do seu poder e finalmente do seu nome. As que sobreviveram tiveram de mudar de regime por força dos cidadãos que entendiam ao tempo mais de política que o português médio.
É consensual que a Democracia nos novos tempos sai caro aos países. Cada competição faz gastar fortunas sem se apurar com isso seja o que for, porque tudo depende da resposta que a sociedade deu a perguntam tão simples quanto estas: quem vota? Quem se apresenta para ser votado? Como se apuram os resultados? Um sistemas criam sistematicamente maiorias e não podia deixar de ser assim, outros sistemas como o nosso preparam minorias e governos de minoria, deixando sempre tudo suspenso. É consensual que se em tempos normais isto é difícil de aguentar, em tempos de crises violentas, simultâneas e com colapsos de sectores inteiros, tal sistema é o pior dos piores e por isso eu sempre detestei esta Constituição de Pântano, escrita quando o país era um grande pântano, a aguardar definição entre a planície e a montanha. Apesar de reformada várias vezes continua a ser o mesmo texto imprestável que era ao início.
Permitia tudo, desde os desmandos de Vasco Gonçalves, até golpadas do PCP, passando pela golpada final dos civis ansiosos de se sentar nas cadeiras do poder.
Todavia o que sobre de tudo, num arco partidário arco-íris é a demagogia. Até com as crises, que mais parecem um Maelstrom, os políticos são capazes de fazer demagogia, de se atribuírem culpas, de discutirem necessidades, sem ver o tsunami que aí vem a uma velocidade estonteante e escondendo a situação ao povo votante. Com a múmia a dizer umas palavras de encorajamento e a dar uns conselhos de cães de palha.
De facto chegou-se ao fim do sistema, esgotaram-se as possibilidades e caminhos abertos na revolução do 25 de Abril. Esgotou-se tudo. Abusaram da nossa paciência, foram-nos ao bolso e planeiam saquear-nos.
Mas, a verdade é só uma: O povo merece o que tem.

António Marques Bessa
in "O Diabo", n.º 1789, 12 de Abril de 2011.

domingo, 15 de maio de 2011

"Bardamerda para o fascista!"

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«O desvio do debate político-económico para o âmbito púbico-capilar, feito por Eduardo Catroga esta semana na SIC Notícias, trouxe àqueles que ainda vão tendo memória de longo alcance a recordação do emblemático "Bardamerda para o fascista!", dito pelo almirante e primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo, a 12 de Novembro de 1975, na Assembleia da República.
O País estava virado de pés para o ar pelo PREC, a que, duas semanas depois, o 25 de Novembro, poria fim formalmente, o Parlamento estava cercado por trolhas teleguiados pela Intersindical e pelo PCP (os mesmos que então iam destruindo a economia portuguesa e hoje batem no peito pela sua defesa), que invectivaram Pinheiro de Azevedo de "fascista" (na altura, quem pusesse a mais ínfima objecção aos métodos usados pelos revolucionários para conduzir Portugal ao socialismo, à democracia popular e de massas, ou à ditadura do proletariado, era logo taxado de "fascista"). Fartinho do epíteto e massacrado pela agitação non-stop, o primeiro-ministro, que fervia em pouca água e não tinha papas na língua, e era também conhecido como "o almirante sem medo" e "o Pinheiro maluco", gritou: "Bardamerda para o fascista!"
O contexto político, social e emocional em que o castiço Pinheiro de Azevedo recorreu ao vernáculo era completamente diferente daquele em que o mortiço Catroga se referiu às regiões púbicas: um país em pré-guerra civil contra um país prostrado. De tal forma, que agora um político diz que outro disse uma "inverdade", com medo de lhe chamar "mentiroso". É por essas e por outras que às vezes tenho saudades do PREC e do Pinheiro maluco.»

Eurico de Barros
in "Diário de Notícias", 14 de Maio de 2011.

Méridien Zéro e o recurso ao Paganismo

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A edição de hoje do programa Méridien Zéro tem o título «O Recurso ao Paganismo» e recebe Jacques Marlaud, jornalista e ensaísta francês. Nascido na Argélia em 1944, Marlaud foi um dos fundadores do GRECE, do qual foi presidente entre 1987 e 1989, e mantém o Círculo de Reflexão e Estudos Metapolíticos (CRÉM) na Univseridade Lyon III. Para além de vários livros editados, tem dezenas de artigos publicados em diversas revistas, focando domínios como a metapolítica, a geopolítica internacional, a desinformação mediática, a questão religiosa e o pensamento ecologista. Como é habitual, a emissão pode ser escutada através da Radio Bandiera Nera a partir das 22 horas portuguesas.

sábado, 14 de maio de 2011

As Vantagens do Pessimismo

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As Vantagens do Pessimismo
Roger Scruton
Quetzal Editores
232 Páginas

Na argumentação - provocadora e apaixonada - que propõe neste livro, Roger Scruton defende a ideia de que o maior perigo e a maior ameaça advieram sempre dos que defenderam o idealismo e o optimismo, fossem eles de esquerda ou de direita. E que chegou o momento de substituir a exuberância irracional pelo pessimismo humano. Scruton demonstra que as tragédias e os desastres da história europeia foram consequência do falso optimismo e das falácias que daí derivaram. Enquanto rejeita essas falácias, constrói uma robusta defesa tanto da sociedade civil como da liberdade, mostrando que o verdadeiro legado civilizacional não é o falso idealismo que, com o facismo, o nazismo e o comunismo, quase nos destruiu. Há, pelo contrário, que proteger a cultura do perdão e da ironia. "As Vantagens do Pessimismo" é um convincente argumento em favor da razão e da responsabilidade, escrito numa época de profunda mudança. 

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Inovação retórica: inventar para desmentir

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"O discurso de Sócrates na terça-feira sobre o acordo com o triunvirato BCE-FEEF- FMI teve um carácter absolutamente singular na história da comunicação política portuguesa, porventura mundial e até histórica. Desde os discursos políticos de Péricles e o último do verdadeiro Sócrates, na versão de Platão, nunca antes um dirigente nacional, a quem coube anunciar um acordo que moldará a vida colectiva nos anos seguintes, teve a cobardia política de esconder o que realmente o documento estabelece e a ousadia de inventar o que o documento não diz.
A retórica do primeiro-ministro foi delirante: o acordo não prevê a revisão constitucional, o fim da escola pública, não prevê crocodilos a voar nem terramotos às segundas, quartas e sextas. O acordo não prevê nada disso. Nos manuais de retórica, procurei, entre as figuras de estilo registadas pelos peritos da linguagem desde Roma Antiga, uma que se assemelhasse a este ilusionismo, como lhe chamou Helena Matos (PÚBLICO, 05.05). Não encontrei. Há figuras de estilo em que se nega uma coisa para afirmar outra, mas nenhum autor, desde há mais de dois milénios, parece ter previsto esta velhacaria política de omitir a realidade concreta (má), substiuindo-a por invenções concretas (boas).
Ao pé deste recurso discursivo, espelho de uma governação limitada ao “luzes-câmaras-acção!” e o país que se dane, o resto do que aconteceu na terça-feira não passou de detalhes, mas vale a pena registar.
- Sócrates chamou “conferência de imprensa” à declaração sem direito a perguntas.
- Semanas depois de desaparecido da vida pública, como um ministro de Stalin ou Brejnev, Teixeira dos Santos marcou inusitada presença espectral atrás do líder.
- O governo agendou a declaração para as 20h30, coincidindo com o intervalo do habitual “serviço público” da bola na RTP1, mas atrasou para as 20h40, dificultando à RTP1 ouvir a oposição em directo, o que esta preferiu não fazer, mesmo quando Catroga já estava no ar na TVI e na SIC às 20h47. A RTP1 deu anúncios e voltou ao futebol, que recomeçou às 20h50.
- A Central de Propaganda é tão boa a criar imagens como a proibi-las: impediu aos repórteres de imagem fotografar a declaração; só houve as imagens oficiais da TV e dum fotógrafo do governo. A preocupação de Sócrates em controlar ao máximo a visão de si que sai nos media motivou este acto de censura, por receio da liberdade do olhar dos repórteres fotográficos, que sempre ultrapassa a rigidez das câmaras de TV.
O objectivo desta operação de desinformação visou enganar os cidadãos mais ingénuos, que não acompanham as manobras políticas e propagandísticas em detalhe ou que são crédulos em relação aos governantes. A acção foi planeada ao pormenor. Durante semanas, a Central de Propaganda, e até o próprio Sócrates, conseguiram endrominar alguma imprensa, passando-lhe falsas medidas, que nunca estiveram previstas, para assustar os portugueses. “Houve desinformação gritante nos últimos dias, com exagero claro de medidas de austeridade”, escreveu Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios (05.05). Beneficiário único da desinformação: o Governo. Que desinformação perversa, esta de inventar mentiras para que o primeiro-ministro as possa depois desmentir.
Os media que serviram de mensageiros das falsas medidas de austeridade deveriam pedir desculpa aos seus leitores ou espectadores. Os proprietários e os jornalistas destes media deviam perguntar a si mesmos se as baixas vendas de jornais não estarão relacionadas com uma persistente subserviência à mentira e à amplificação da propaganda do poder. Como escrevia Pedro Guerreiro, ou se está ao serviço de fontes mentirosas ou ao serviço dos leitores."

Eduardo Cintra Torres
in "Público", 6 de Maio de 2011.

domingo, 8 de maio de 2011

Méridien Zéro volta aos Esgostos da República

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Hoje, o programa  Méridien Zéro volta a «Os Esgotos da República», com a segunda parte de uma emissão alargada dedicada aos escândalos, corrupção, manipulação e assassínios associados ao regime republicano francês. Como é habitual, o programa pode ser escutado através da Radio Bandiera Nera a partir das 22 horas portuguesas.

sábado, 7 de maio de 2011

Tens Visto o Antão?

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Tens Visto o Antão? Contos pícaros e outros não.
António Manuel Couto Viana
Quetzal Editores
152 Páginas

15 histórias que não chocam entre si, que pertencem ao mesmo universo já estruturado em livros anteriores, onde a morte e a vida tratam as pessoas por tu, sem distinção, e onde o burlesco, muita vez, apaga com uma lágrima a emoção. Desde a Guida, a sempre pronta, ao bicudo caso do Deodato, passando pelo "strip" da coleante cunhada viúva do irmão mais novo do Dr. Floriano Bata Curta; do medo do Quim pela sujidade do mar ou do amor impossível que o aristocrata Carlos Medina alimenta pela tísica Misse Jeny até ao militar impotente que cede a noiva ao amigo estéril; do grito estridente da saia bormelha ao ferrete de ser filho de pai incógnito - são farrapos de alma que a esperança acorrenta aos personagens, num estilo escorrido e ático. "Onde, o Natal?" é o único texto já publicado num jornal. Os demais, da dadivosa Mariana do Rego ao velho do "Regresso" ou ao lúbrico "Tens Visto o Antão?", outras tantas são as páginas arrancadas ao inesperado, por vezes com violência, em que se entrelaçam fantasia e realidade. Enquanto isso, os velhos da cidadezinha, que na verdade é este sítio onde todos nos cruzamos, lembrarão sempre coisas passadas, deixando, para os mais novos, o inalienável direito ao sonho que alimenta a vida.

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sexta-feira, 6 de maio de 2011

É agora!

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«É mentira a democracia, a liberdade, a fraternidade; é mentira o parlamentarismo, a independência dos poderes, a soberania nacional; é mentira a família pervertida pelo divórcio; é mentira a propriedade, assaltada por atributos arbitrários; é mentira a educação, inspirada nas campanhas nefastas de uma imprensa medíocre; é mentira a nossa riqueza, estagnada ou rotineira; é mentira a nossa ilustração feita de farrapos dessas doutrinas, ministrada por professores quase sempre — burocratas sem paixão pelo seu mister, inutilizando, assim, os esforços sadios de uma minoria por demais conhecida — a nossa ilustração que, em vez de técnica, é livresca, em vez de criar utilidades sociais, cria bacharéis decorativos.
Não me perguntem se ainda vamos a tempo de vencer a onda que se desencadeou. Não curo disso. Tratemos de, com tempo ou sem tempo, fazer frente à tempestade. Eu não sou obrigado a triunfar das minhas afirmações: mas sou obrigado a formulá-las, para que outros oiçam. Falo para os que estão comigo e para os que estão do outro lado — para que todos iniciem a acção construtiva, orgânica, positiva, absolutamente indispensável para o levantamento da Nação. Pode ser que, por tardia, ela nada consiga já. Mas temos a certeza de que continuando na orientação dominante — espera-nos a morte.»

Alfredo Pimenta
in «Novos Estudos Filosóficos e Críticos».

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dourados

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"Em períodos de crise há sempre quem traga à baila a memória das reservas de ouro. É como quem lembra os ensinamentos de outrora para enfrentar o futuro. Um bom princípio que devia continuar a nortear-nos.
Mas as coisas mudaram muito. Passámos do ouro, que é como quem diz de um hábito de poupança, para o dourado, ou seja os cartões de crédito e toda uma facilidade generalizada de endividamento.
Esses rectângulos plásticos que hoje substituem as notas nas carteiras dos portugueses internacionalizaram-se nos anos 80 do século passado, mas foi na década seguinte que a sua utilização se generalizou. Com a massificação do consumo e o acesso cada vez mais facilitado a empréstimos para tudo o que se possa imaginar. Desde a casa ou o carro ao telemóvel de último modelo, passando pelas férias nos destinos paradisíacos em voga. No mundo materialista de hoje mais vale ter que ser.
Vi há tempos noticiado que muitos portugueses, vendo a sua vida num aperto financeiro, preferiam cortar nos medicamentos e na alimentação do que na televisão por cabo ou no telemóvel. Parece que preferimos continuar a ser dourados do que voltar a ser ouro. Ainda por cima numa altura em que tudo começa a ruir. Em que a festa acabou e alguém pôs a conta – dolorosa – na mesa. Tudo se paga e quanto mais tarde, mais caro.
Presos às nossas dívidas, aos nossos caprichos materiais que agora servem de afirmação social, que se tornaram verdadeiras “necessidades” de primeira, vivemos presos numa gaiola, também ela dourada."

Duarte Branquinho
in "O Diabo", n.º1791, 26 de Abril de 2011.

Escória da Europa

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"E os nossos letrados puseram mãos ao trabalho!... todos os casos da pior sicofantagem torturados um pouco por todo o lado! Espartaquianos? Girondinos?... Templários!... a Comuna?... nós julgámos... escrutámos todas as Crónicas, Códigos, Libélos... comparámos... por esta... por aquela razão... éramos bem capazes de ser... talvez?... uma escória da Europa a pedir despejo no primeiro esgoto encontrado, enforcamento sumário, como os incondicionais do Napoleão?... uma vez em Santa Helena!... talvez?... principalmente os incondicionais espanhóis!... colaboracionistas hidalgos!... os josefinos! um nome a ter sempre presente!... o que nós também éramos!... adolfinos! e o que os josefinos tinham apanhado! ah, os «colaboracionistas» da época!... todos os Javert da altura na anilha! um sus a eles! análogo ao nosso, ao dos 1142!... nós, e o exército Leclerc em Estrasburgo!... e os seus Senegaleses da catana corta corta!..."

Louis-Ferdinand Céline
in «De Castelo em Castelo», Publicações Dom Quixote, 1992.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Uma mentira

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"Para obter um simulacro de existência, a Democracia recorre à Eleição. Sabe-se bem o que é a Eleição. Nem vale a pena salientar os tumultos, os escândalos, as mistificações que nunca deixam de caracterizar a comédia eleitoral. Adiante, aludiremos ainda a um dos seus aspectos dominantes: a feira dos sufrágios.
Mas admitamos que se realize a Eleição com honestidade e verdade. No fim, é a maioria que manda. E basta uma diferença de um voto (que pode ser o de um malfeitor, o de um incapaz, ou o de um vendido) para que um sector prevaleça sobre o sector oposto. Portanto, se sessenta indivíduos têm uma opinião e sessenta indivíduos mais um têm a opinião contrária, são estes que vencem - e aqueles vêem-se esbulhados de tal soberania que, em princípio, fingiram dar-lhes.
A Democracia mostra assim merecer a justa definição de tirania em nome do algarismo, que lhe aplicou Alexandre Herculano. Não são as vontades individuais que lhe importam — embora o proclame; é apenas a soma dessas vontades. Ora, tão sagrada é a vontade de uma pessoa, como a vontade de dez pessoas, como a vontade de cem. Com que direito escravizar as duas primeiras à última?!
Logo, a Democracia, prometendo ao indivíduo uma soberania que só lhe reconhecerá, se ele se encontrar dentro da maioria e que lhe retirará, se ele se encontrar dentro da minoria — é uma mentira."

João Ameal
in «Integralismo Lusitano — Estudos Portugueses», 1932.

Presente!

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terça-feira, 3 de maio de 2011

A evolução da técnica e o declínio da nobreza

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"Rememoremos o que era o estado nos fins do século XVIII em todas as nações europeias. Bem pouca coisa! O primeiro capitalismo e as suas organizações industriais, onde pela primeira vez triunfa a técnica, a nova técnica, a racionalizada, tinham produzido um primeiro crescimento da sociedade. Uma nova classe social apareceu, mais poderosa em número e potência que as preexistentes: a burguesia. Esta burguesia indigna possuía, antes de mais nada e sobre tudo, uma coisa: talento, talento prático. Sabia organizar, disciplinar, dar continuidade e articulação ao esforço. No meio dela, como num oceano, navegava a «nave do estado». A nave do estado é uma metáfora reinventada pela burguesia, que se sentia a si mesma oceânica, omnipotente e prenhe de tormento. Aquela nave era coisa de nada ou pouco mais: mal tinha soldados, mal tinha burocratas, mal tinha dinheiro. Fora fabricada na Idade Média por uma classe de homens muito diferentes dos burgueses: os nobres, gente admirável pela sua coragem, pelo seu dom de mando, pelo seu sentido de responsabilidade. Sem eles não existiriam as nações da Europa. Mas com todas essas virtudes do coração, os nobres andavam, andaram sempre, mal da cabeça. Viviam de outra víscera. De inteligência muito limitada, sentimentais, instintivos, intuitivos; em suma: «irracionais». Por isso não puderam desenvolver nenhuma técnica, coisa que obriga à racionalização. Não inventaram a pólvora. Tramaram-se. Incapazes de inventar novas armas, deixaram que os burgueses — tomando-as do Oriente ou doutro sítio — utilizassem a pólvora, e com isso ganhassem automaticamente a batalha ao guerreiro nobre, ao «cavalheiro», estupidamente coberto de ferro, que mal podia mover-se na lide, e a quem não ocorrera que o eterno segredo da guerra não consiste tanto nos meios de defesa quanto nos de agressão (segredo que Napoleão iria descobrir)."

Ortega y Gasset
in «A Rebelião das Massas», Relógio d'Água.

Dia d'O Diabo

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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Adufe

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Adufe, instrumento musical português. É um pandeiro membranofone quadrangular. No seu interior são colocadas sementes ou pequenas soalhas a fim de enriquecer a sonoridade. Os lados do caixilho medem aproximadamente 45 centímetros. O adufe é segurado pelos polegares de ambas as mãos e pelo indicador da mão direita, deixando deste modo os outros dedos livres para percutir o instrumento.
Encontra-se essencialmente concentrado no centro-leste de Portugal (distrito de Castelo Branco), onde é executado exclusivamente por mulheres, acompanhando o canto por ocasião das festas e romarias.
Na tradição oral, nomeadamente nos versos de algumas canções que são acompanhadas pelo adufe, é referida a madeira do instrumento como sendo de "pau de laranjeira". Esta referência, de certo simbólica pela ligação entre a flor de laranjeira e o matrimónio, é reforçada por outra particularidade da construção do instrumento que refere ser a pele de uma das membranas de um animal macho e a outra de um animal fêmea. Dizem as tocadoras de adufe que a razão de ser desta diversidade se traduz na harmonia do instrumento e na maneira como ele soa. Este testemunho dá pistas para a iconografia mágica ligada ao instrumento, à sua construção e mesmo à sua utilização, que tradicionalmente era reservada a executantes femininos.
Também a sua forma quadrada, ao tornar mais difícil a manutenção da pele esticada, levanta questões sobre o carácter simbólico do instrumento e acentua a sua particularidade face ao "bendir" árabe ou ao "bodrum", seu congénere céltico.

Consumo infinito num planeta finito

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Entrevista com Marine Le Pen

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Como vê a situação na UE perante a crise económica e financeira actual?
A obstinação dos líderes europeus em salvar o euro a todo o custo condena os povos à austeridade e à pilhagem social. É espantoso o autismo das elites ultraliberais, que impõem às opiniões públicas as suas loucas certezas. Os planos de salvamento impostos à Grécia e à Irlanda e, talvez amanhã, a Portugal, criam dívida e sofrimento à custa do poder de compra e da prosperidade.

Disse que o euro está morto. Que devem fazer países como Portugal? A UE e o FMI não deveriam ajudar?
Os planos de salvamento têm a marca do FMI e das organizações supranacionais, com um único objectivo: salvar a moeda seja a que preço for. O pacto proposto pelos dirigentes europeus, com a bênção do FMI, criará regressão económica e social sem precedentes: baixa de salários, prestações sociais e pensões, aumento da idade de reforma... e tudo sem resultados, porque as taxas de juro da Grécia, por exemplo, voltam a níveis históricos!

Qual é a alternativa?
Relançar a economia com uma política monetário eficaz. Promover uma saída organizada do euro, reencontrar a liberdade monetária, para que os bancos centrais nacionais financiem o Tesouro sem terem de pedir dinheiro emprestado nos mercados internacionais, predadores. É preciso criar protecções razoáveis nas fronteiras.

Os portugueses imigrados em França são amigos da França e da FN? A sua presença é positiva para o país?
A FN não alimenta ressentimentos contra estrangeiros que respeitem as regras, princípios, valores e cultura do nosso país. É o caso dos portugueses, que sempre mostraram vontade de assimilação. A minha ‘cantina’, e dos dirigentes e pessoal da FN, é um restaurantezinho português ao pé da nossa sede. É muito caloroso.

Tem tido bons resultados eleitorais e boas sondagens. Como vê as próximas presidenciais, dentro de um ano?
Não sou obcecada por sondagens, mas é certo que há uma dinâmica à volta da minha candidatura. Traduz o desejo dos franceses de uma alternativa credível e eficaz ao sistema instalado há décadas e que conduziu o país ao caos económico e social. O povo percebeu que não há diferença entre o Partido Socialista, a ala esquerda do ultraliberalismo, e a União para um Movimento Popular (UMP), sua ala direita. Em 2012 vamos oferecer-lhes outra escolha ideológica: a nação contra a globalização.

Como vê o debate lançado pela UMP sobre o Islão e a laicidade?
É mais uma manobra do partido de Sarkozy para seduzir os nossos eleitores, mais vai sair-lhe pela culatra: divide a UMP. Mas não é razão para o promover. O que é preciso é aplicar a lei. Defendo que deve ser inscrito na Constituição que a República não reconhece qualquer comunidade, para evitar reivindicações comunitaristas. Não aceito que os contribuintes franceses financiem mesquitas ou outros locais de culto.

Que pensa da intervenção internacional na Líbia?
Sou contra. Há dois pesos e duas medidas: no Iémen, Síria e Bahrein também morrem muitos manifestantes vítimas da repressão e isso não interessa à comunidade internacional. Receio que na Líbia as coisas vão durar, porque este país — composto por tribos, minado por conflitos e com muita gente armada — parece mais o Iraque ou o Afeganistão do que a Tunísia ou o Egipto. Sarkozy sucumbiu de novo aos impulsos, sem reflectir sobre as consequências geopolíticas e militares. Acho, até, que se meteu nesta guerra devido à aproximação das presidenciais do que por outras razões... Não estou com o chefe de Estado e o Governo neste conflito, mas estou, firmemente, com as nossas forças armadas: receio pela vida dos nossos soldados enviados para lá.

Fonte: Expresso, 2/4/11.

domingo, 1 de maio de 2011

Chamam a isto uma Esplanada?

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"Uma das expressões mais visíveis e omnipresentes da desordenação urbana em Lisboa são as esplanadas. Se é que se pode chamar isso ao par de mesas periclitantes com cadeiras de cores agressivas e um toldo encardido, que fingem sê-lo em muitas das ruas, ruelas e praças da cidade. É que esplanadas a sério em Lisboa, bonitas, homogéneas, confortáveis, arrumadas e regulamentadas, devem contar-se pelos dedos das duas mãos. O resto, é um salve-se quem puder. Melhor: um sente-se quem puder.
Na minha rua, por exemplo, há um restaurante cujo dono decidiu fazer uma "esplanada". Plantou duas mesas e quatro cadeiras à porta, permitindo a alguns clientes almoçar ou lanchar quase em cima dos automóveis e aspirar-lhes os fumos dos escapes, e reduzindo o espaço de circulação dos peões. Uma mesa mais, e as pessoas comiam à beira do passeio e os transeuntes passavam pelo meio delas, antes ficarem com umas nódoas de bacalhau ou de bitoque, do que serem atropelados.
Como esta esplanada minimalista, há muitas mais em Lisboa. E também esplanadas equilibristas (em ruas inclinadas), esplanadas-bunker (enquadradas por blocos de cimento desirmanados), esplanadas finórias (manhosas mas com toldos alvos), esplanadas com patrocínio (cadeiras e mesas a anunciar a mesma marca de cerveja) ou esplanadas-instalação (duas cadeiras sem mesa).
A Câmara de Lisboa vai regulamentar as esplanadas da Baixa. Tem de fazer o mesmo às do resto da cidade, ou, por este andar, o restaurante chinês do meu prédio ainda me põe uma esplanada temática à porta, entre os contentores do lixo e a loja de móveis do lado."

Eurico de Barros
in Diário de Notícias, 16 de Abril de 2011.

Méridien Zéro onde pára a República

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A edição de hoje do programa Méridien Zéro tem o título «Os Esgotos da República», e é a primeira parte de uma emissão alargada dedicada aos escândalos, corrupção, manipulação e assassínios associados ao regime republicano francês. Como é habitual, o programa pode ser escutado através da Radio Bandiera Nera a partir das 22 horas portuguesas .
 
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