sábado, 30 de novembro de 2013
Mistérios
Mistérios
Knut Hamsun
Cavalo de Ferro
296 Páginas
A chegada de um misterioso estrangeiro, de nome Johan Nagal, a uma pequena cidade costeira da Noruega, transformará para sempre a aparente vida tranquila e inocente dos seus habitantes. Nagal, indivíduo controverso, com uma personalidade irracional e autodestrutiva, simultaneamente um herói e um charlatão, estabelecerá uma relação especial com Grogaard, o Anão, personagem repudiada por todos. Com a involuntária ajuda deste exporá todos os segredos da pequena comunidade, fazendo emergir os seus instintos mais negros e os seus desejos reprimidos, para depois desaparecer logo a seguir, tão misteriosamente como quando surgiu. "Mistérios", pela primeira vez traduzido em português, é unanimemente considerado pela crítica uma das obras fundamentais da literatura mundial e Joahn Nagel uma das suas personagens mais enigmáticas e marcantes. Um livro que impressionou os seus contemporâneos pela radical (e polémica) visão do mundo que destila das suas páginas, cuja leitura provoca ainda hoje o mesmo forte impacto no leitor.
Encomendar através de: Cavalo de Ferro, Wook, Fnac, Bertrand.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Comparações
"No passado, utilizou-se o antifascismo para legitimar o comunismo e o anticomunismo para legitimar o nazismo. Hoje, é a crítica ou a evocação do totalitarismo que se instrumentaliza para fazer aceitar o liberalismo ou os desgastes do mercado. Esse procedimento, causa de desespero para inúmeros indivíduos e povos que não avistam outra alternativa entre o totalitarismo e o horror, não é aceitável. Assim como as conquistas positivas de um regime totalitário não podem justificar os seus crimes, ou os crimes de um regime totalitário não podem justificar os de outros, também a recordação dos sistemas totalitários não pode fazer aceitar a sociedade actual naquilo que ela tem de mais destruidor e de mais desumanizante. Não temos o direito de aceitar uma sorte injusta sob o pretexto de que ela poderia ser pior. Os sistemas políticos devem ser julgados por aquilo que são, não por comparação com os outros, cujos defeitos atenuariam os seus. Toda a comparação deixa de ser válida quando se torna uma desculpa: cada patologia social deve ser estudada separadamente."
Alain de Benoist
in "Comunismo e Nazismo: 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917-1989)", Hugin Editores, 1999.
quinta-feira, 28 de novembro de 2013
Europa Patria Nostra
"O individuo que pertence à Europa, o Europeu, e, com ele, aquelas instituições e comunidades que a Europa criou, desde as universidades às nações, negar-se-ão, negarão a qualidade humana, ao caírem no egoísmo, no particularismo, ou na abstracção, na artificial e artificiosa unidade, inteiramente irreal e imaginaria, quando não é falsa, forçada e assassina. O ideal humano pede-nos, por conseguinte, que, em todos os planos, procedamos como Nacionalistas e Europeus. Defendamos a definição europeia dos valores. Defendamos as tradições europeias. E o mesmo quanto às nações, cada nação, a nossa nação em unidade e integridade, e as nações na unidade da Europa, unidade cultural, económica e política, unidade e força materiais e espirituais, a afirmarem-se no mundo. Hostilidade às outras criações culturais e continentais? Não, enquanto elas são realmente universalistas e humanas. Entendemos que, em certas épocas históricas, algumas delas foram mesmo civilizações e comunidades condutoras e criadoras. Aceitamos, hoje, que, dessas, muita contribuição importantíssima poderá vir ainda para desenvolvimento, maior pujança e enriquecimento da civilização europeia. Consideramos que cada comunidade cultural será através de si própria que compreenderá e efectivará a civilização europeia, a mais alta realização espiritual do Mundo, desde há muitos séculos. Não se veja nisto a pretensão de aniquilar nações, soberanias e culturas não europeias. Desejamos, apenas, que a Europa se afirme como quem é, se intensifique e se una e se desenvolva."
Goulart Nogueira
in Tempo Presente – Europa, nº10, Fevereiro de 1960.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Nacionalismo e Universalismo
"Para o Individualismo, (…) toda e qualquer espécie de Nacionalismo é absurda e indefensável. [...]
Considera-o a negação de todo o universalismo, a defesa dos exclusivos agressivos na ordem internacional, tendo a sua razão de ser naquela negação e nesta defesa, porque os sacrifícios que se exigem ao indivíduo em favor do egoísmo colectivo dos países desapareceriam ao desaparecer desta espécie de egoísmos, quando os homens, abolidas as fronteiras, passem a ser irmãos. [...]
No entanto, é errado supor que estes princípios procurem aniquilar e esmagar o homem. Aniquilado e esmagado, talvez seja o indivíduo que não ultrapassa o próprio egocentrismo. […] É pessoa, na medida em que se eleva a esse superior plano e repele o individualismo, perigo para os homens e os valores. Perigo para o homem, não sendo obrigado a elevar-se a nível superior a si próprio, perigo para os valores que se diz residirem no homem e que descem assim à esfera do particular.
Ensinar portanto que o Nacionalismo é uma doutrina divinizadora do Facto, materialista, bárbara, é desconhece-lo ou não o compreender.
O Nacionalismo é espiritualista e ético. Não é utopístico, evidentemente, e uma vez dito o que vale a Nação não elabora, abstractamente, um conceito desta, mas estuda-a e compreende-a no seu desenvolvimento orgânico, no tempo, sendo então um «empirismo organizador».
Ensinar que o Nacionalismo é a guerra em potência senão em acto, baseia-se, igualmente, no desconhecimento e na incompreensão. Já Sardinha exclamava ser possível reconstruir «o tipo histórico duma nacionalidade desligando-o por completo do ambiente em que houvesse de respirar e de se prolongar».
Quer dizer: a existência duma Pátria não se pode conceber sem a existência doutras, que são de facto o estrangeiro, mas em relação a nós, desempenhando uma função na própria consciência do nosso país.
Por isso o nacionalismo cuja ideia-força fosse a destruição dos outros povos seria antes um imperialismo internacionalista.
Repelindo o Individualismo na sua tradução interna, isto é, como Demo-Liberalismo, repelindo-o nas suas modalidades externas como cosmopolitismo que pretende abater as fronteiras para «libertar o homem», opondo-se ao mito duma Humanidade inexistente em relação a qual se pretenda organizar geometricamente o Mundo, afirmando o respeito pelas outras pátrias, afirmando a dignidade das totalidades humanas reais, afirmando a superação do indivíduo pela pessoa, o Nacionalismo surge como expressão verdadeira actual e concreta do Universalismo."
António José de Brito
in Mensagem, Nacionalismo e Universalismo, nº4, 3 de Abril de 1947.
terça-feira, 26 de novembro de 2013
Amadeo de Souza-Cardoso: retrato de um modernista
Celebrou-se no último dia 14 de Novembro o 126.º aniversário do nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso, um dos principais pintores do nosso modernismo. Activo durante um período de aproximadamente 14 anos, a sua obra acabou por marcar a pintura portuguesa e europeia do século XX. Apesar de ter viajado pelo mundo e frequentado os ciclos parisienses, onde privou de perto com a vanguarda artística europeia, Amadeo jamais perdeu a sua matriz, ou esqueceu as suas raízes, conseguindo um perfeito equilíbrio entre a tradição e o modernismo.
Fecundadas pelas outrora milagrosas águas do Tâmega, as terras amarantinas foram berço de inúmeras personalidades ligadas à nossa pintura, música, literatura, poesia, fotografia e pensamento filosófico. António Cândido, Teixeira de Pascoaes, António Carneiro, Acácio Lino, Eduardo Teixeira Pinto, ou Agustina Bessa-Luís, são apenas algumas das figuras ilustrativas do génio criador português, que nasceram em terras de S. Gonçalo, numa região então pouco urbanizada e fortemente voltada para a terra e o seu trabalho.
Amadeo de Souza-Cardoso foi outra dessas personalidades naturais daquela região, tendo nascido em Manhufe, concelho de Amarante, a 14 de Novembro de 1887. Apesar de oriundo de um meio pequeno, a condição dos seus pais como reconhecidos produtores vinícolas permitiu-lhe estudar e alimentar a sua precoce vocação artística, inicialmente associada à caricatura. Uma arte que desenvolveu durante as estadias em Espinho, durante a época balnear, onde conheceu Manuel Laranjeira, com quem haveria de travar uma amizade bastante forte e duradoura.
A sua formação artística levou-o até Lisboa em 1905, onde frequentou o curso preparatório de desenho na Real Academia de Belas-Artes. Um ano depois, no dia em que perfez 19 anos, o jovem Amadeo partiu para Paris, com intenção de estudar arquitectura na École des Beaux-Arts, iniciando assim uma das mais brilhantes e fascinantes carreiras artísticas da arte portuguesa do século XX.
A internacionalização
O seu primeiro contacto internacional dá-se com a chegada a Paris, onde se instalou em Montparnasse, juntamente com um outro jovem artista que o acompanhou desde Portugal – Francis Smith. De imediato Amadeo passou a frequentar ateliers de pintura, bem como exposições e locais de convívio entre artistas, desbloqueando e estimulando a sua crescente criatividade. Sentindo uma constante necessidade de descoberta e experimentação, este artista português começou a explorar outras formas de expressão para além da caricatura, destacando-se também na ilustração e, obviamente, na pintura.
Colocando de parte qualquer intenção de estudar arquitectura, Amadeo abraça definitivamente a sua carreira artística em meados de 1908. O mesmo ano em que conhece em Paris Lucie Meynardi Pecetto, sua eterna companheira, com quem haveria de casar-se anos mais tarde na cidade do Porto. A partir de 1910, ano em que “Le Figaro” publicou o “Manifesto Futurista” de Marinetti, Amadeo começou a estabelecer ralações de grande amizade com alguns artistas como Amedeo Modigliani, Constantin Brancusi e Alexander Archipenko. As suas exposições vão-se sucedendo, assim como as suas viagens, levando a que o nome de Amadeo de Souza-Cardoso fosse ficando cada vez mais conhecido entre os círculos artístico-culturais europeus.
A recepção da sua obra
Em 1911, foi inaugurada uma exposição de Amadeo e Modigliani, no próprio ateliê do artista português, situado nas imediações de Quai d’Orsay, iniciando-se um período bastante activo no que concerne a mostras do seu trabalho e respectivo reconhecimento junto dos críticos e do público internacional. Amadeo passou a expor em França, Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos da América e Portugal. Bastante apreciados, os seus quadros eram igualmente muito procurados pelos coleccionadores de arte, o que indicia bem o seu sucesso.
Não obstante a vasta aclamação internacional, a sua obra foi repudiada pelo público português, valendo-lhe uma série de apupos e insultos nas exposições que realizou nas cidades do Porto e Lisboa, assim como uma agressão que o deixou incapacitado por algumas semanas. Durante esse período, animado pelo apoio recebido por personalidades como Teixeira de Pascoaes e Almada Negreiros, Amadeo continuou a criar a partir do isolamento do seu atelier, entre as montanhas de Manhufe.
Impossibilitado de regressar a Paris durante o período da I Guerra Mundial, Amadeo envolveu-se em alguns projectos editoriais com Almada Negreiros, intercalando os momentos de criação artística com os habituais passeios a cavalo e a caça.
A imortalidade conquistada
Amadeo de Souza-Cardoso faleceu precocemente a 25 de Outubro de 1918, vítima da malfadada gripe espanhola, contando apenas 30 anos de idade. Mas essas três décadas de vida revelaram-se suficientes para deixar uma extensa obra e conquistar um lugar na História.
Apesar de nunca ter pertencido oficialmente ao Orpheu, ficou para sempre associado àquele grupo e a nomes como Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Santa-Rita Pintor, Luís de Montalvão, Raul Leal, Armando Côrtes Rodrigues, ou António Ferro, em virtude da sua colaboração com um desenho feito para o terceiro número daquela revista, entretanto não publicado.
Os seus trabalhos integravam na generalidade os motivos tradicionais nas diversas gramáticas modernistas perfilhadas por si, revelando uma originalidade sem precedentes na história da nossa pintura. O reconhecimento de Amadeo em Portugal, como em tantos outros casos, acabou por chegar tarde, já após o seu desaparecimento. Neste caso, deve-se ao SNI a sua entronização cultural, que tomou uma série de medidas destinadas a celebrar a obra deste importante artista nacional. Repondo-se assim a justiça, a sua marca nos panoramas culturais nacional e internacional acabaria por coroar a memória deste insigne artista português, tão admirado e respeitado hoje, aquém e além-fronteiras.
Adaptado de um texto publicado no blogue Nova Casa Portuguesa.
segunda-feira, 25 de novembro de 2013
25 de Novembro
"Jaime Neves tinha a fibra dos heróis. Não deixava ninguém indiferente, algo que se pode ver na forma como o seu nome tinha uma força especial. Ainda em vida, atingiu uma dimensão sobre-humana. Gerou paixões e amores, mas também ódios. Quando se ouvem as histórias dele – muitas já mitificadas – percebemos bem que a lenda cedo se começou a criar.
Foi um homem de acção e de posição, determinado e determinante. Nunca é demais recordar a sua importância no dia ao qual ficou para sempre associado – o 25 de Novembro. O seu nome confunde-se mesmo com este momento fulcral da História de Portugal.
Estávamos num perigoso cruzamento histórico e Jaime Neves conseguiu evitar o pior. Um só homem, com a sua vontade e carisma, conseguiu mudar o rumo de um país."
Duarte Branquinho
in "O Diabo", 5 de Fevereiro de 2013.
Vamos rir pois
"Vamos rir pois. O riso é um castigo; o riso é uma filosofia. Muitas vezes o riso é uma salvação. Na política constitucional o riso é uma opinião."
Eça de Queiroz
in "As Farpas", Maio de 1871.
Frente de batalha do espírito
«Dobrou os braços, com as mãos por baixo da cabeça e olhou para as tábuas escuras do tecto, na escuridão situada para lá do alcance do candeeiro. Era da morte que estava à espera? Ou de um violento êxtase dos sentidos? As duas coisas pareciam sobrepor-se, quase como se o objecto do seu desejo físico fosse a própria morte. Mas, fosse como fosse, a verdade é que o tenente nunca antes tinha experimentado esta sensação de liberdade.
Na rua, ouvia-se o barulho de um carro. Conseguia-se perceber os guinchos dos pneus sulcando a neve amontoada ao pé do passeio. O som da buzina fez eco nas paredes da vizinhança... Ouvindo estes barulhos, o tenente teve a sensação de que a sua casa se erguia como uma ilha solitária no oceano de uma sociedade que continuava, como sempre, a fazer o seu negócio. À volta, extenso e desarrumado, estendia-se o país pelo qual ele sofria. Ia dar a vida por ele. Mas prestaria aquele grande país, que ele estava preparado para admoestar a ponto de se destruir a si próprio, alguma atenção à sua morte? Não sabia; e isso não importava. O seu campo de batalha era um campo sem glória, no qual ninguém podia mostrar acções de coragem: era a frente de batalha do espírito.»
Yukio Mishima
in "Morte no Verão", Editorial Estampa, 1996.
sexta-feira, 15 de novembro de 2013
O mito de uma economia de serviços que iria substituir a velha economia fabril
"Nos Estados Unidos, a globalização representou o desmantelamento acelerado da base industrial nacional e a sua transferência para outros países onde a mão-de-obra era baratíssima e onde não se aplicavam regulamentações de defesa do ambiente. Também representou a ascensão de uma «economia de serviços» ou, melhor, do mito de uma economia de serviços que iria substituir a velha economia fabril. Digo «mito» porque era essencialmente absurdo, como a velha história da aldeia que prosperou porque os seus habitantes trabalhavam todos lavando a roupa uns dos outros. Com efeito, na economia de serviços criavam-se cada vez menos coisas reais com valor. Era mais outra manifestação temporária e inconstante da tremenda entropia produzida pelo contributo de combustíveis fósseis baratos."
James Howard Kunstler
in "O Fim do Petróleo - O Grande Desafio do Século XXI", Bizâncio, 2006
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Pensar para além da economia
"A minha falta de interesse pela sociologia, marxismo e o resto, deve-se à constatação frequente de que essas disciplinas dão a ilusão de uma explicação global da história, quando, no fundo, apenas tomam em consideração a multidão humana. Não tenho qualquer dúvida de que os milhares de homens inertes e não-criadores têm um comportamento exclusivamente económico — mas também é legítimo dizer que eles se comportam biologicamente ou fisicamente, enquanto objectos submetidos à lei da gravidade. O homem eleito — e qualquer pessoa se pode tornar eleita se for infundida com alma — movem-se a outro nível. No fundo, eu não sei nada sobre o homem real se souber as leis económicas que o obrigam a tornar-se proletário ou a criticar as instituições sociais. Sei coisas essenciais acerca do homem real se observar a reacção da pessoa para com a alma, do homem frente à morte e ao amor, aí está um objecto de investigação. O homem eleito — seja ele Goethe ou um simples mortal, no momento sublime do seu enamoramento. Evidentemente, o homem está integrado numa sociedade e submete-se às suas leis históricas. Mas o homem, ao mesmo tempo, é composto por órgãos e é biológico; é composto por moléculas, e é físico; etc."
Mircea Eliade
in "Diário Português", Guerra e Paz, 2007.
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
Trincerocrazia
"Com a guerra, ressurgia nos ânimos o Estado, a pátria veneranda, não a palavra retórica ou abstracta, mas a lei e a vida da alma; e o parlamento dos representantes do povo italiano era superado, posto de parte, morto ou moribundo. A guerra foi totalmente obra da Itália jovem que não se deixava prender às ideologias libertárias, que voltava desdenhosamente as costas à Câmara dos advogados e aventureiros das condecoraçõezinhas, aos cultores da alquimia de grupos e grupinhos, aos espertalhões e velhacos das combinações habilidosas dos buracos formidáveis e de minas subterrâneas aos gabinetes. Guerra da Itália jovem, que nos primeiros anos do século começava a aprender algumas verdades importantes: que a vida não é esse miserável jogo de habilidade, de esperteza e de cálculo a que os homens políticos do liberalismo radical e socialistóide a tinham reduzido; é coisa séria, semelhante a uma religião, como Mazzini, o maior profeta do Risorgimento, pregava aos seus partidários: vida que não nos pertence como um direito a exercer e a gozar, mas que é dever a cumprir, missão a realizar e, sendo missão, a realizar mesmo através do sacrifício pessoal, posto que o indivíduo, separado da solidariedade espiritual, da nação e da humanidade, não tem valor em si visto ser apenas, como diria um filósofo, aquilo que actua através da universalidade do espírito."
Giovanni Gentile
in "A Filosofia do Fascismo".
"Vamos desbloquear a cultura!"
“Estamos fartos de provincianismo estrangeirante e pacoviamente deslumbrado. Enfartados daqueles que querem fazer de nós macaquinhos de imitação atentos e obedientes.
Vamos desbloquear a cultura.
Libertemos a Terra da Luz do negrume que A submerge.
Basta de receituários de pacotilha normalizada aviados na pseudo-boémia artística, dos bairros altos e baixos.”
Linhas de Fogo — Manifesto de Cultura Lusíada para o Terceiro Milénio, Nova Arrancada, 2001.
terça-feira, 12 de novembro de 2013
O Fim do Romantismo e da Revolução, do Império e da Utopia
"Em qualquer caso terão acabado as “épocas quentes”, trágicas, de aceleração histórica. Teríamos que nos resignar, conformar, aceitar este fim do Romantismo e da Revolução, do Império e da Utopia. Condicionados pelas condições geopolíticas objectivas, pela demografia, pelos recursos, não temos mais capacidade de romper o ciclo da dependência, em termos de sujeição ao modelo dominante na área onde nos situamos. Ou seja, não há projecto, para além das gestões alternativas propostas a nível da classe política; e, não havendo projecto, a não ser em modos de anti, de tipo resistencialista ou hermético, é difícil, nestes dias, qualquer mobilização de massas, qualquer acção dramática ou revolucionária."
Jaime Nogueira Pinto
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
Sangue, Trabalho, Família, Corporação
"A antiga sociedade fundamentava-se no Sangue e no Trabalho, na Família e na Corporação. A Corporação e a Família eram assim as bases dum acordo permanente das classes, identificadas pelo seu interesse comum com o interesse próprio duma dinastia. Tudo se subverteu, porém, na hora em que pôde mais a oratória duma turba anónima de agitadores. E, de então para cá, correndo sempre atrás de uma miragem que nunca mais se alcança, os homens dividem-se furiosamente na demanda dessa fraternidade por que tanto suspiram, mas da qual cada vez se afastam mais."
António Sardinha
in "Durante a Fogueira", 1927.
domingo, 10 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
"Os homens não podem prescindir de raízes"
"Todas as grandes civilizações descansam sobre uma antiga tradição que atravessa o tempo e transporta com ela as chaves do reino. Todas têm por origem o livro ou a palavra de um sábio, de um profeta ou de um poeta fundador. A tradição chinesa com Confúcio, a tradição himalaia com Buda, a semita com Moisés e Maomé, a tradição hindu com os Vedas, a tradição europeia com Homero. A tradição não ensina a construir um computador. Revela os princípios de perpétuas regenerações. Saber que se é filho de Ulisses e Penélope e não de Maomé, Abraão ou Buda, não é indiferente."
Essa consciência favoreceu a espectacular modernização da China pelo regresso a Confúcio. Para os europeus, é um mistério perturbante. Impregnados por uma visão teleológica da história, pela cultura do progresso, pelo desprezo pelo passado e pela sua ausência de memória longa, encontram-se desamparados perante o descomunal movimento mundial de retorno identitário que vêem facilmente como uma regressão. Na sua cegueira, procuram soluções técnicas (políticas, económicas, organizacionais) para uma crise de civilização que é espiritual. (...) Desnorteados pela falta de memória identitária e pela sua terrível derrota histórica do século de 1914, não têm agora outra opção que não seja a de recorrer à fonte de energia espiritual donde surgiu o impulso inicial da sua civilização há vários milénios. Impregnar-se da exegese de Homero, para os europeus, de Confúcio para os chineses, de Maomé para os muçulmanos, é viver na companhia de modelos que alimentaram a parte mais autêntica das respectivas civilizações. Não é voltar para trás, é reactualizar os princípios vivos de um específico ideal de vida.
Os homens só existem pelo que os distingue: clã, linhagem, história, cultura, tradição. Não há uma resposta universal às questões da existência e do comportamento. Cada povo dá as suas respostas, sem as quais os indivíduos, homens ou mulheres, privados de identidade e de modelos, são precipitados numa perturbação sem fundo. Como as plantas, os homens não podem prescindir de raízes. Mas as suas raízes não são apenas as da hereditariedade, às quais se pode ser infiel; são também as do espírito, isto é, da tradição que cabe a cada qual reencontrar."
Dominique Venner
in "O Século de 1914. Utopias, Guerras e Revoluções na Europa do Séc. XX", Civilização Editora (2009).
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
A autodestruição do meio urbano
"O momento presente é já o da autodestruição do meio urbano. O rebentar das cidades sobre os campos, cobertos de «massas informes de resíduos urbanos» (Lewis Mumford) é, de um modo imediato, presidido pelos imperativos do consumo. A ditadura do automóvel, produto-piloto da primeira fase de abundância mercantil, inscreveu-se no terreno com a dominação da auto-estrada, que desloca os antigos centros e exige uma dispersão cada vez maior. Ao mesmo tempo, os momentos de reorganização incompleta do tecido urbano polarizam-se passageiramente em torno das «fábricas de distribuição» que são os hipermercados edificados em terreno aberto com um parking por pedestal; e estes templos do consumo precipitado estão eles próprios em fuga no movimento centrífugo, que os repele à medida que eles se tornam por sua vez centros secundários sobrecarregados, porque trouxeram uma recomposição parcial da aglomeração. Mas a organização técnica do consumo não é mais do que o primeiro plano de dissolução geral que conduziu a cidade a consumir-se a si própria desta maneira."
Guy Debord
in "A Sociedade do Espectáculo", Antígona.
"Aqui, todos reencontrámos a noção de camaradagem"
"Aqui, todos reencontrámos a noção de camaradagem. Se os nossos rapazes só conservarem uma recordação (o cantil quase vazio que se divide com um amigo, numa terra gretada de sede) a guerra já não terá sido inútil."
Jean Mabire
in "Comandos de Caça", Editora Ulisseia.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
Entrevista com Ernesto Milá
Ernesto Milá é um jornalista e escritor espanhol, autor de várias obras. O seu livro “Identidade, patriotismo e enraizamento no século XXI” foi recentemente traduzido para português e publicado no nosso país pela editora Contra-corrente. Esteve em Lisboa para a apresentação deste seu trabalho.
Qual é a ideia fundamental deste livro e qual é o seu objectivo?
Quero dizer, em primeiro lugar, que não sou um doutrinador, nem ideólogo, mas jornalista e escritor. Interessa-me o mundo das ideias e sinto-me tributário das ideias tradicionalistas de Julius Evola e René Guénon e das ideias da Nova Direita francesa, da mesma maneira reconheço um tributo devido à obra dos pensadores nacionais-sindicalistas espanhóis, especialmente José Antonio Primo de Rivera e Ramiro Ledesma. O problema com que me deparei nesta obra foi como actualizar, definir e sintetizar todas estas influências tendo em conta a realidade iniludível da modernidade.
A ideia deste livro é sintetizar ideias prévias, definir alguns conceitos claros e estabelecer uma série de questões novas que todos nós sentimos e que não foram interpretadas pelos mestres de pensamento da nossa corrente. Na prática, neste livro defino o paradigma identitário.
Traça a distinção entre nacionalismo e patriotismo. Porque é que é importante definir tais conceitos?
É fundamental que nos movamos com conceitos claros com os quais todos estejamos de acordo. Um deles é o patriotismo que tem que ver essencialmente com a ideia de Tradição. A “pátria” é a “terra dos pais”, liga com um passado que se quer projectar para o futuro. A nação, ao contrário, é outra coisa: é um conceito fundamentalmente moderno, não anterior à Revolução Francesa e que substitui o “reino”. Assim, como nos reinos antigos o poder estava nas mãos de uma aristocracia, na nação histórica é a burguesia que detém a hegemonia. Dito de outra maneira, a origem do nacionalismo é fundamentalmente liberal e burguês, referindo-se a uma ordem de ideias que tem que ver com os valores inerentes às revoluções liberais do século XIX.
Em cada país atribui-se um sentido diferente a estes conceitos. Em Espanha, por exemplo, quando se fala de “nacionalismo” está-se a falar de ideias de tipo regionalista que apareceram espacialmente na Catalunha, no País Basco e na Galiza. Em França, pelo contrário, a partir da escola da Action Française e da obra de Charles Maurras, o “nacionalismo integral” vem a ser uma forma de patriotismo. No entanto, é importante recordar que as palavras estão carregadas e podem ser perigosas: todo o pensamento deve ser “orgânico” e ter uma ordem de ideias perfeitamente encadeadas. Se aceitamos que a nação aparece onde a guilhotina corta a cabeça dos reis, temos que aceitar que uma coisa é a ordem liberal e outra é a ordem tradicional e a primeira tem como valores a Nação, o mercado livre, a burguesia, o republicanismo, enquanto que a ordem tradicional tem como valores a Pátria, a economia corporativa, a monarquia, etc. É muito perigoso inserir em cada elo da cadeia um elemento que pertence a outra, por isso prefiro referir-me ao patriotismo em vez de ao nacionalismo.
Em Portugal, quando nos referimos ao nacionalismo, é diferente?
Não, creio que não. Em cada país europeu há uma forma de chamar as coisas. O que me parece importante é que, seja qual for a palavra utilizada para definir uma ordem de ideias, esteja acompanhada de uma tomada de posição nítida. Por exemplo, é importante que quando um “nacionalista” define o seu projecto deixe claro que se trata de um projecto fundamentalmente antiliberal e antiburguês. Isto implica resgatar a palavra das garras de quem detém historicamente o monopólio da mesma e dar-lhe um conteúdo que está nos antípodas do conceito que tinha originalmente. Creio, definitivamente, que de uma forma ou de outra temos que estar de acordo quanto aos termos a utilizar na luta política e o conteúdo a atribuir a cada termo.
No seu livro fala também no enraizamento. É possível num mundo urbanizado?
A ideia do enraizamento foi teorizada inicialmente por Charles Maurras, cujo pensamento influenciou poderosamente a reconstrução do património doutrinal de todas as direitas nacionais europeias, especialmente dos monárquicos no início do século XX. Posteriormente foi incorporada no património da Nova Direita francesa na medida em que supunha uma modulação de um instinto que está presente nas espécies animais, especialmente nos mamíferos superiores: o instinto territorial que, basicamente, faz com que se tenha tendência a identificar-se com o local que se considera como próprio e a defendê-lo, especialmente porque se nasceu ali. É o que em França se chama “as pátrias carnais” e em Espanha se chama a “patria chica", é a terra natal. Explica por que sentimos mais ou menos atracção pela zona que nos viu crescer. Nas cidades esse sentimento é muito mais atenuado. Não é por acaso que uma velha tradição dizia que a primeira cidade foi construída por Caim. As cidades modernas converteram-se em colmeias massificadas, em monstros burocrático-administrativos com cheiro a gasolina e em que a capa de asfalto, para cúmulo, nos separa da terra natal. É indubitável que nas grandes cidades se destrói a ideia de enraizamento. Mas isto também tem implicações: é evidente que as nossas cidades são como são porque o factor especulativo, o mau ordenamento, conceitos urbanísticos obtusos, geraram verdadeiros monstros que progressivamente se vão tornando mais hostis e incómodos para os seus habitantes. Era preciso um novo urbanismo capaz de dar um rosto mais humano às cidades e que estas recuperassem a dimensão humana.
O nosso pior inimigo é a globalização?
Sim, sem dúvida. A globalização é o aspecto económico de um fenómeno mais amplo e anterior: o mundialismo, matriz doutrinal de que a globalização é a aplicação económica. Já no início do século XX aparecem algumas tendência “mundialistas” sempre nos contornos da maçonaria internacional. Há que dizer que a maçonaria foi o laboratório de ideias da burguesia laica, republicana e liberal. Já nos finais do século XX trabalhava com a ideia de “unificar a humanidade”. Esse projecto teve em 1945 um novo impulso até ao ponto que algumas correntes maçónicas considerarem a fundação das Nações Unidas como o inicio da “era da luz”. A partir de 1945 a soberania dos Estados nacionais ficou limitada face a uma entidade supranacional controlada durante 40 anos pelas duas superpotências. Quando caiu a URSS e depois da Guerra do Koweit afirmou-se que tínhamos chegado ao “fim da História”, ou seja, ao período onde não haveria conflitos nem contradições e que, por isso, não haveria História, havendo no seu lugar forças económicas que operavam a nível mundial e que contribuiriam para construir um “mundo feliz”. Hoje sabemos que a livre circulação de capitais levou directamente à globalização e a esta crise económica que é, ao mesmo tempo, a primeira da globalização e talvez seja a última: o capital açude à chamada de novos benefícios e ultrapassa fronteiras constantemente, passa de um país a outro, sem fixar-se em lado algum, sempre à espera de maiores expectativas de lucro. O resultado é a instabilidade económica internacional e a formação de “bolhas” que nascem, crescem, rebentam, semeiam a dor, a ruína e a crise em certas zonas do planeta, para transferir-se imediatamente a outras gerando o mesmo impacto. Resumindo, o grande inimigo do ser humano é, hoje, a globalização.
Como podemos combatê-la?
É evidente que a competição entre diferentes economias apenas é lícita e aceitável quando ambas têm as mesmas condições de vida, os mesmos níveis de desenvolvimento e o mesmo tipo de protecções sociais. Quando na Europa o salário médio é de mil euros (na Europa do Sul) e na China é de 175 euros é evidente que não há concorrência possível. A indústria de manufacturas mudará sempre para onde seja mais barato produzi-las: as economias europeias que não podem desvalorizar a moeda, o que fazem para “ganhar competitividade” são “desvalorizações sociais”, limitando e reduzindo os salários. Mas estes nunca alcançarão os níveis da China, muito menos os do Vietname (133 euros por mês), nem os de África (apenas 50 euros por mês)... Assim, para combater a globalização, o primeiro a fazer é um rearme tarifário. O segundo é criar zonas de livre mercado homogéneas, ou o mais homogéneas possível.
Como vê a crise actual? É uma consequência da globalização?
Sim, sem dúvida. Não creio que haja saída. Quando se resolver a crise na Europa (no próximo ano prevê-se um crescimento do PIB em Espanha e que a crise acabará com um crescimento reduzido), a crise rebentará no Brasil e noutras zonas da América do Sul e provocará a quebra brusca das importações da Europa, porá bancos europeus em dificuldades e voltará a aparecer no Velho Continente o fantasma da crise extrema. Creio que esta é a primeira grande crise da globalização, mas à medida que avança temo que também seja a última. Quem diz globalização diz instabilidade e não pode existir uma instabilidade permanente. Esta, antes ou depois, acabará por desintegrar o sistema económico mundial.
Não é apenas uma crise europeia. Como está a afectar outros países?
A crise actual começou nos EUA no Verão de 2007 e depressa contagiou a Europa. A livre circulação de capitais fez com que o contágio fosse especialmente rápido. Agora, o elemento central da crise foi o aparecimento de “bolhas”. A imobiliária e a do crédito foram as centrais. Os preços da habitação tinham subido excessivamente, construía-se mais do que se podia consumir e a um preço insuportável para as populações. Apesar disso, os bancos davam créditos fáceis porque acreditavam que o preço das casas continuaria a subir. Mas, de repente, tudo parou. A bolha rebentou. Os bancos ficaram descapitalizados e em bancarrota. Ora, este processo que se viveu no “primeiro mundo”, essencialmente na Europa e nos EUA, corre o risco de se reproduzir agora, exactamente com as mesmas características em países como o Brasil e outros da América do Sul. O capitalismo move-se sempre em busca de maiores benefícios e pouco lhe importa como se obtêm ou os ensinamentos de experiências passadas. O que importa é apenas o lucro imediato. Sim, a crise continuará nos próximos anos porque as exportações europeias para as zonas que proximamente se verão afectadas pelo rebentar de novas e sucessivas bolhas pararão bruscamente. E, quando a crise acabar na América Latina, rebentará na China. Não, não há qualquer possibilidade do sistema económico mundial sobreviver a estas crises sucessivas.
O sistema político actual tem alguma solução ou está submetido ao poder económico?
Creio que esta questão é o núcleo de todo o problema: a economia governa a política. Na globalização a democracia é uma ficção porque o capital é detido por estados maiores cada vez mais reduzidos. A política é luta, criação, destino. A economia é uma ciência auxiliar da política destinada a satisfazer as necessidades das pessoas, não o afã de lucro e de usura de reduzidíssimas elites económicas. É preciso não esquecer isto: enquanto a política não voltar a conter as mais enlouquecidas ambições dos senhores do capital, não há possibilidades de acabar com a crise. Agora, é evidente que os políticos actuais não têm capacidade nem formação, nem sequer interesse suficiente, de tomar as rédeas dos novos destinos das suas nações; isso apenas os verdadeiros estadistas são capazes de fazer e o que temos são pobres espertalhões, corruptos, incapazes, egomaníacos que constituem o essencial da classe política dirigente. Há que renovar esta classe política, forjar uma nova classe política que recupere o destino dos povos e imponha as directrizes políticas à omnipotência da economia.
Como vê a questão da imigração?
Creio que a imigração é uma ameaça contra a identidade europeia. Há duas ameaças geradas pela globalização: a deslocalização e a imigração maciça. Ambas têm como denominador comum a optimização dos rendimentos do capital.
Afirma que a família é a base da identidade. Há um ataque À família?
Qualquer sociedade articula-se em torno de uma comunidade básica. A tradição diz-nos que sempre foi em torno da família. Mas esta hoje está destruída. Gostava que houvesse um país europeu que aprovasse uma lei em defesa da família. Mas não espero nada nesta direcção, antes pelo contrário. A família era de tal forma tida como essencial que em Roma era considerada como uma instituição sagrada. Se olharmos para as orientações da UNESCO – matriz intelectual da globalização – veremos que os ataques à família são uma constante. E é a família a instituição em que se forja e transmite a identidade dos povos. Não é estranho que a UNESCO a considere como o principal inimigo a abater. Da mesma forma que nós a consideremos a primeira instituição a defender.
Entrevista de Duarte Branquinho publicada na edição de 8 de Outubro de 2013 do semanário O Diabo.
terça-feira, 5 de novembro de 2013
A garantia de vida é a renovação
"A garantia de vida é a renovação. A juventude revigora, mantém a actividade, impele ao descobrimento, ao avanço, ao entusiasmo e ao idealismo. A juventude é como respiração saudável, é confiança e alegria. Quando um organismo está prestes a parar, quando as células vão envelhecer e mirrar-se, quando as pessoas estão cansadas ou descrentes ou lhes apetece retirarem-se para gozar em sossego, quando as inteligências se tornam hipercríticas ou calculistas, então a juventude rompe toda essa bola de banha e levanta o seu grito insubmisso.
A juventude é, no presente, a afirmação do futuro e só por meio dela o passado pode achar vida, acção, alma. Cada época tem de ter a intervenção da juventude, ou, de contrário, o passado e o presente morrerão, submergidos no caos triunfante sobre o que se tornou antiquado e ronceiro. A juventude é a renovação, é a garantia de vida.
Cada geração tem, indispensàvelmente, a sua hora. Cultivar a juventude e dar-lhe o lugar e a oportunidade — eis a sabedoria dos velhos, a virtude dos prudentes, a vitória dos sábios.
E o que é juventude? Sempre e sempre é dedicação e vanguardismo, ideal e intransigência, saúde e claridade, fé e luta, irreverência e capacidade de sacrifício, camaradagem e iniciação.
Quem não pensa na juventude, e não entende a juventude, e não se torna jovem — morre, e merece morrer. Implacável, a juventude rebenta o lajedo, os jazigos e os bolores, quebra os vernizes e as máscaras, dispara o seu indómito caminho, com esta ou com aquela cor."
Goulart Nogueira
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
O Grande Amigo
"A distopia “1984”, publicada em 1949, onde George Orwell previa um mundo em guerra perpétua, controlado pela vigilância omnipresente de um sistema político que perseguia o pensamento independente e individual como criminoso, tornou-se uma referência durante a Guerra Fria, na qual se fizeram naturais paralelos com a realidade da União Soviética.
No entanto, a visão de Orwell apontava para mais longe. Apesar de o fim da Segunda Guerra Mundial ter trazido a esperança na paz, não assistimos ao “fim da História” e a realidade actual, sob a aparência de “mundo livre”, tem semelhanças assustadoras com a sua obra genial e premonitória.
A recente revelação de que os EUA vigiam os países “amigos e aliados” demonstrou que a nossa liberdade não corresponde à apregoada. Ao mesmo tempo, a ditadura do politicamente correcto persegue ferozmente qualquer um que se oponha à nova ordem estabelecida num mundo que – garantem-nos – está unificado pela globalização, para além de manter um verdadeiro ‘index’ de palavras e posturas proibidas.
É este o “Grande Amigo”, à semelhança do “Grande Irmão” orwelliano, que sob uma capa de protector nos oprime? Mais do que um país ou uma potência, o domínio é hoje exercício por um sistema internacional que se quer perpetuar.
Que fazer, então, perante o monstro? Dominique Venner questionava: como não ser rebelde hoje em dia? Existir, afirmava, é combater aquilo que nos nega.
Mas tais palavras, apesar de inspiradoras, podem parecer demasiado românticas. Numa época de conforto, hedonismo e resultados imediatos, qualquer corrida de longo curso – em especial uma em que o testemunho passa de geração em geração – é tida como inútil.
Pelo contrário. Como em “1984”, os membros da Fraternidade que se opunha ao regime sabiam que era improvável virem a ocorrer mudanças perceptíveis durante a sua vida. Por isso, eram os “mortos”, porque a sua única vida autêntica estava no futuro.
A mudança começa em nós e projecta-se nos nossos descendentes."
Duarte Branquinho
in "O Diabo", 29 de Outubro de 2013.
domingo, 3 de novembro de 2013
sábado, 2 de novembro de 2013
Entrevista com Constantino, militante do Aurora Dourada, depois do assassínio de dois militantes do partido
Há cerca de um mês, na sequência da detenção do secretário-geral do Aurora Dourada e de alguns deputados, entrevistámos Constantino, militante histórico do partido grego e um dos responsáveis da transmissão da Radio Bandiera Nera em língua grega. Voltamos ao contacto numa ocasião ainda mais triste, o homicídio de dois militantes gregos, Manolis e Giorgos, que teve lugar no final da tarde da última sexta-feira, junto à sede do Aurora Dourada em Atenas.
Depois das detenções, na última entrevista, desta vez as notícias são ainda piores. Em primeiro lugar, peço-te que faças uma reconstituição de tudo o que aconteceu.
A sede estava aberta, eram 19 horas. O edifício está situado na periferia norte de Atenas, numa zona "bem", muito frequentada. O Primeiro-Ministro retirou a protecção policial aos deputados e a todas as representações do partido. Por isso, estes dois rapazes, assim como um terceiro que foi ferido, todos jovens, estavam encarregados da segurança junto à sede. Como disse, a zona é muito populosa. Nisto, passou uma mota de alta cilindrada com duas pessoas. Dispararam, dois rapazes caíram e o outro conseguiu esconder-se, embora tenha sido atingido no peito. Os dois da mota desmontaram e atiraram à queima-roupa sobre os rapazes caídos, num golpe de misericórdia. Isto foi o que disseram todas as testemunhas.
Ou seja, estavam apenas três rapazes fora da sede do Aurora Dourada a fazer o serviço de ordem, e os outros militantes estavam todos no interior?
Sim, só aqueles três é que estavam cá fora, porque estavam a fazer o serviço de ordem. Todos os outros estavam dentro do edifício. De qualquer forma, este homicídio recorda-me bastante de Acca Larentia [n.d.r. ataque a tiro à sede do Movimento Sociale Italiano no bairro de Acca Larenzia, ocorrido a 7 de Janeiro de 1978 em plenos Anos de Chumbo, no qual morreram três jovens activistas do Fronte della Gioventù: Franco Bigonzetti, Francesco Ciavatta e Stefano Recchioni]. Não sei o que vai acontecer amanhã, mas tenho a certeza que isto é uma armadilha do sistema.
Na entrevista que fizemos no mês passado, falaste de forma profética dos anos 70 italianos. A situação grega actual é ou pode tornar-se semelhante à daquele período?
Sim. Eu próprio estou neste momento a traduzir um livro italiano sobre os Anos de Chumbo, com declarações e comentários de camaradas italianos que viveram esse período na primeira pessoa, para que os mais jovens, que não fazem ideia da situação italiana daquela época, possam assim conhecê-la. E perceber que a situação exige muita prudência. O próprio porta-voz da Aurora Dourada afirmou ontem, na televisão grega, que é preciso ter muita calma. Eu tenho receio pelos mais jovens: devem entender que isto é uma armadilha do sistema. Não acredito que isto tenha sido organizado pela extrema-esquerda. Acho que foram os serviços.
Mesmo depois da detenção do nosso secretário-geral, as sondagens continuavam a dar-nos mais de 10%. Eles têm de encontrar uma forma de destruir o nosso movimento. Querem encontrar uma maneira de desacreditar a esquerda e a direita anti-mundialistas e fazer do Primeiro-Ministro o "salvador da pátria".
Ou seja, na tua opinião a autoria desta ataque não pode ser atribuída directamente à extrema-esquerda. É preciso olhar para outro lado?
Sim, não acredito que matariam dois simples militantes de base do movimento. O secretário-geral do partido e outros dirigentes com visibilidade já não têm protecção policial, não teria sido muito difícil tentarem matá-los. Não os acho tão estúpidos ao ponto de criar um problema destes para matar três militantes de base.
Como está o rapaz ferido?
Está mal. Os médicos mantêm-no vivo, à espera de melhoras, mas encontra-se em estado grave.
Qual foi a atitude da imprensa grega perante estas notícias?
Falaram mais do tiroteio no aeroporto de Los Angeles do que do assassínio dos nossos rapazes em Atenas. Para o rapaz anti-fascista morto no mês passado fez-se um minuto de silêncio e já lhe foi dedicado o nome de uma rua. Para os nossos nada. Falarão qualquer coisa hoje, e depois nada. Foram mortos dois fascistas e vocês sabem melhor que eu o que significa "matar um fascista". Infelizmente, o mesmo se aplica aqui.
Repito, tenho receio da reacção dos mais jovens, especialmente nos subúrbios de Atenas, onde os rapazes poderão ver apenas "o inimigo", o antifa, e não a verdade.
A situação está muito tensa.
Qual foi a reacção dos políticos e do governo grego?
A maior parte dos políticos tentou instrumentalizar a situação, dizendo ou dando a entender: "Viram? Devem votar nos moderados para salvar a pátria". Para eles a vida humana não conta. Só interessam os votos.
A tal estratégia da "oposição extremista".
Sim, a estratégia da tensão. Há um jornalista, de esquerda mas intelectualmente honesto — se é que ainda há alguém assim à esquerda — que fala há meses da estratégia da tensão. Ele viveu em Itália e conhece o fenómeno. Nós vivemos quase 40 anos depois daquilo que a Itália passou na década de 70.
E a estratégia, na tua opinião, pode funcionar junto da opinião pública?
É uma bela pergunta. Na semana passada organizámos uma manifestação junto à nossa sede nacional.
É verdade, as pessoas têm medo, a economia acabou, quem manda agora está no estrangeiro, os nossos políticos são fantoches que dançam a música tocada pelos bancos mundiais. As pessoas pensam unicamente na forma como vão pagar os impostos de amanhã e levar as crianças à escola. Tentam criar pânico para fazer as pessoas voltar a votar nos velhos partidos e não em quem combate a mundialização. Mas não sei se a estratégia deles vai funcionar. As pessoas estão cansadas. Os 5% de gregos (agora talvez 10% ou 15%, de acordo com as sondagens) que votam no Aurora Dourada fazem-no, não porque são fascistas ou nacionalistas, mas porque acreditam na nossa batalha.
Quem orquestrou tudo isto sabe-o. Não serão certamente os serviços secretos helénicos, mas gente de fora.
Antes das despedidas, quero agradecer-te a ti, à vossa rádio, a todos os camaradas italianos e a todo o mundo pelo apoio, que para nós é emocionante. Chegaram contactos da América do Sul, Espanha, Rússia, Polónia, Inglaterra. E também ao Dimitris, que é o verdadeiro coração da RBN Hellas, e que há dois anos gere a redacção grega da Radio Bandiera Nera.
Traduzido e adaptado de uma entrevista à Radio Bandiera Nera.
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