O acto trágico de sacrifício do historiador francês não foi uma desistência.
No dia 21 de Maio de 2013, Dominique Venner cometeu suicídio em frente ao altar da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Sem surpresa, as interpretações deste gesto multiplicaram-se e, além dos seus detractores, houve muitos que viram na sua morte voluntária um anúncio do fim, um baixar de armas de um soldado que perdera o sentido do combate.
No editorial do primeiro número desse ano de La Nouvelle Revue d’Histoire, revista que fundou e dirigiu, dedicado ao arquiduque Francisco Fernando, a propósito do dossier sobre o fim dos Habsburgos, Venner reflectiu sobre a morte. Nessas linhas expressou um paradoxo premonitório: «Morrer é por vezes uma outra maneira de existir. Existir face ao destino.»
Era um paradoxo digno de um «samurai do Ocidente», expressão que deu título a este editorial e ao seu livro-testamento publicado postumamente, além de se tornar uma descrição exacta de Dominique Venner. Esta é a melhor classificação para um combatente que lutou até ao fim e morreu de pé, depois de um percurso completo, de vida plena dedicada ao que acreditava e sentia.
Note-se que esta reflexão se situa também a propósito de um acontecimento histórico trágico que deu início ao que Venner tratou num dos mais importantes livros da sua longa obra publicada, O Século de 1914. Mesmo nos piores momentos, nem tudo está perdido e até a morte pode dar lugar a um renascimento. Por isso, concluía: «A morte não é a tragédia que parece, excepto para aqueles que choram sinceramente o defunto. Ela põe fim a doenças cruéis e interrompe a decrepitude da velhice, abrindo caminho para as novas gerações. A morte pode também ser a libertação de um destino que se tornou insuportável ou desonroso. Pode mesmo tornar-se um motivo de orgulho. Na sua forma voluntária, ilustrada pelos samurais e pelos “velhos romanos”, pode ser tanto o mais forte protesto contra uma indignidade como um desafio à esperança.» Foi esse desafio ao futuro que Dominique Venner lançou com o seu sacrifício.
Um ano antes deste editorial, Venner respondia lapidarmente a um leitor que o questionava sobre a sua visão optimista do futuro: «O meu “optimismo” não é beato. Não pertenço a uma paróquia onde se acredita que tudo acaba por se arranjar. Vejo perfeitamente tudo o que é negro na nossa época. Pressinto, no entanto, que os poderes que pesam negativamente sobre a sorte dos europeus serão minados pelos choques da História que hão-de vir. Para chegar a um autêntico despertar é ainda necessário que os europeus possam reconquistar a sua consciência indígena e a longa memória das quais foram desapossados. As adversidades que aí vêm ajudar-nos-ão libertando-nos do que nos tem poluído em profundidade. Foi a tarefa temerária a que me dediquei. Tem poucos precedentes e em nada é política. Para além da minha pessoa mortal, tenho a certeza de que os archotes acesos não se apagarão. É o que me transmitem os nossos poemas fundadores. Eles são o depósito de todos os nossos valores. Mas constituem um pensamento em parte perdido. Temos assim de reinventá-lo e projectá-lo no futuro como um mito criador.»
A mensagem inspiradora de Dominique Venner é a de que, mesmo numa Europa adormecida, é possível despertar uma consciência profunda e que, por isso, devemos recusar o fatalismo.
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