terça-feira, 23 de maio de 2023

O Arqueofuturismo de Guillaume Faye reeditado

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Há livros que não devem ser postos nas prateleiras. Estas são as obras chamadas "clássicas" pelos seus leitores, que têm o prazer de as incluir no seu panteão literário. A biblioteca ideal de um jovem europeu será composta por obras literárias, filosóficas e políticas. Com o seu Archéofuturisme. Techno-science et retour aux valeurs ancestrales (“Arqueofuturismo. Tecnociência e regresso aos valores ancestrais”, inédito em português), Guillaume Faye fez jus ao seu título de artesão da palavra e do pensamento. O Institut Iliade reedita esta obra com um acento muito actual. Uma reedição salutar, ou mesmo indispensável, uma vez que as linhas de Faye permanecem muito actuais.

Publicado pela primeira vez em 1998 e reeditado em 2011, L'Archéofuturisme foi um marco no pensamento de Direita. O homem que foi um dos principais teóricos da Nova Direita e do GRECE, e uma das principais figuras do movimento identitário, fez um balanço da luta travada pela Direita durante anos, num livro escrito no início do século XXI, para chegar à conclusão de que a rivalidade entre tradicionalistas e modernistas na Direita tinha de ser ultrapassada, se quiséssemos esperar ganhar a luta contra os nossos inimigos comuns. Para o efeito, propôs um conceito essencial: o de Arqueofuturismo.


Na esteira de Nietzsche e de Giorgio Locchi, Guillaume Faye considera que uma catástrofe é inevitável e que conduzirá ao fim do mundo tal como o conhecemos e ao nascimento de uma nova civilização. O igualitarismo, a modernidade e o seu angelismo cada vez mais cego são males a combater graças a um "espírito arcaico", ou seja, a um pensamento pré-moderno, deliberadamente desigual, que está longe de um humanismo universal defendido por uma civilização que atingiu o seu ponto de ruptura.


Desta "convergência de catástrofes" devemos sair vitoriosos, combinando valores arcaicos e ancestrais com a tecnologia e a ciência. Negar a importância de um destes dois aspectos seria insensato e garantiria uma derrota indiscutível. Persistir numa disputa entre o regresso à tradição e o desejo de ir cada vez mais longe na tecnologia seria igualmente vão.


O balanço feito por Guillaume Faye no seu ensaio é incontestável e nada escapa à pena afiada de um homem que perscruta os acontecimentos que o rodeiam à procura de sinais desta "convergência de catástrofes". Da análise dos erros cometidos pela Nova Direita às questões sociais, nada escapa ao olhar de Guillaume Faye, que sente a urgência de uma terceira via: a do Arqueofuturismo. E Faye não se contenta em desenvolver conceitos livres de qualquer realidade, aplica-os e põe-nos em prática num conto que encerra o seu ensaio e que fará lembrar aos mais atentos distopias bem conhecidas, como Guerilla de Laurent Obertone...


O leitor não pode deixar de ficar impressionado com a lucidez do autor, cujas palavras, datadas de 1999, assumem um carácter quase profético. Este olhar cru sobre a realidade do seu tempo adquire uma tonalidade infelizmente demasiado actual. Reler ou ler Guillaume Faye torna-se uma obrigação para aqueles que querem estar preparados quando chegar o momento de construir uma nova civilização sobre as cinzas de um modernismo enlouquecido que, como Cronos, devora a sua descendência. Para sairmos vitoriosos da catástrofe, Faye convida-nos a seguir Evola e a "cavalgar o tigre", a agarrar a chama prometeica, sem nunca romper com a tradição e os seus mitos.



L’Archéofuturisme. Techno-science et retour aux valeurs ancestrales, de Guillaume Faye, co-edição L’Æncre / La Nouvelle Librairie, 2023, 456 pp. Preço : 21 €. ISBN : 978 – 2‑36876 – 090‑1.

domingo, 21 de maio de 2023

Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito

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«Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.»

Esta máxima de Friedrich Nietzsche foi passada à acção por Dominique Venner, há exactamente dez anos, no dia 21 de Maio de 2013, sob as abóbadas da catedral de Notre-Dame em Paris.


Esta morte voluntária não foi uma renúncia, nem um gesto de desespero, mas um germe, «como uma provocação à esperança e ao motim», um gesto realizado «com uma intenção de protesto e fundação» porque Dominique Venner sentiu o dever de agir «perante os imensos perigos para a nossa pátria francesa e europeia».

Espantando tanto os seus piores inimigos quanto os seus amigos mais próximos, Dominique Venner soube morrer como um Antigo Europeu, seguindo o exemplo de Catão de Útica, Séneca e Régulo. Nestes tempos em que se exibem vidas desprovidas de sentido, o seu gesto encarna uma ética da vontade, constituindo um apelo aos europeus ainda lúcidos, para além das massas anestesiadas. De portador da espada, Dominique Venner tornou-se portador da luz. Com a sua morte, ele transmitiu-nos uma chama que nunca se deve extinguir.

Desde este 21 de Maio de 2013, o tiro que o matou ressoa como o rugido sombrio e pesado que anuncia as tormentas e tempestades de um século de ferro e pavor que se abre diante de nós. Dez anos depois do seu gesto, os «perigos tremendos» que Dominique Venner evoca na sua carta-testamento estão mais próximos do que nunca. Como a imagem insana da Notre-Dame de Paris em chamas seis anos depois do seu último gesto, abrem-se desafios gigantescos diante dos nossos olhos: a invasão migratória, as crises morais, sociais, ecológicas, económicas, o regresso da guerra à Europa… Todos estes perigos se conjugam numa convergência de catástrofes que nunca levou tão alto a ameaça de aniquilação completa do nosso mundo.

Diante disto, somos os últimos dos europeus, «levando às costas o peso da mais gloriosa das heranças», carregados de quarenta séculos de História, mas, mais ainda, com a riqueza de uma concepção do mundo e de um certo tipo de um homem como nenhum outro, tal como foi cantado nos nossos contos épicos, nos poemas homéricos, nas Eddas, na matéria da Bretanha, na lenda dos Nibelungos…

O dia 21 de Maio de 2013 não significa um fim, mas um começo, um rito de fundação. Ao cometer suicídio na Notre-Dame de Paris, um lugar imemorial e sagrado, Dominique Venner abriu um caminho. Um «juramento silencioso» liga-nos agora pelo sangue derramado naquele dia sob a frondosidade de pedra da catedral. Cabe-nos, sempre, continuar um combate ético e estético. Face às tempestades de aço que estão por vir, cabe-nos sermos de novo «portadores malditos da força criativa», vigilantes e despertadores, pessimistas e alegres, tradicionalistas e revolucionários, meditativos e activos, presentes na rua e considerando sagrado o segredo das florestas.

Do despertar dos europeus, Dominique Venner não duvidava. Recusando submeter-nos a um suposto sentido da História, acreditamos, como ele, que a História é, pelo contrário, o domínio do imprevisto, que é antes de mais levada pela vontade dos homens, e juramos dedicar toda a nossa energia para que o que parece inevitável não o seja. Sem dúvida que não veremos o resultado, como aconteceu por exemplo na Reconquista que se estendeu por sete séculos, mas a nossa ardente vigília poderá um dia acolher depois de uma longa noite «aqueles que pronto aparecerão na nova manhã». Assim, como o Rei Artur regressando de Avalon, ou o Imperador Barbarossa dormindo sob as montanhas Kyffhäuser, a Europa conjurará o feitiço maligno que começou em 1914 e despertará para voltar a encontrar a História, e então será para sempre, fazendo desta forma seu o último oráculo da Pítia de Delfos.

sábado, 6 de maio de 2023

A presente imposição ideológica

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«A presente imposição ideológica, que descarta a biologia e outras minudências através de um processo orwelliano aparentemente liberal, é exercida sobre uma população de crianças e adolescentes. É parte de uma máquina de transformar em regra situações minoritárias e marginais, com as quais há, com certeza, que ter toda a atenção e compreensão, mas também a consciência de que não se tratam ou resolvem por decreto nem devem generalizar-se. Entretanto, a máquina vai-se tornando um perigo público, prometendo transformar o que aparenta ser uma questão acessória numa questão essencial para o futuro da sociedade.»

Jaime Nogueira Pinto

in "Observador", 6 de Maio de 2023. 

 
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