quarta-feira, 18 de maio de 2011

Roger Scruton e as vantagens do pessimismo

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«Pouco menos de um ano após a edição original no Reino Unido (Junho de 2010) chega no próximo dia 29 às livrarias “As Vantagens do Pessimismo” de Roger Scruton, o polémico intelectual conservador inglês.
Composto de 12 capítulos e um prefácio a obra acaba por abordar todos os aspectos do mundo em que vivemos, os leitores habituais de Scruton já sabem o que os espera: uma crítica mordaz à insensatez e à loucura dos tempos modernos. Um verdadeiro ‘page turner’, inédito num ensaio filosófico. Urge chamar a atenção para o prefácio, pese embora o acompanhamento mensal que devoto aos escritos de Scruton fui apanhado de surpresa pelo tom e pelas referências literárias constantes do mesmo: resume de uma assentada toda a teoria primitivista, do decrescimento e até da crítica anti-civilização como reflexo do raciocínio pessimista. Ignora, é certo, alguns autores como Zerzan e Benoist, mas o essencial está lá: “os transumanistas prometem alegremente um futuro como o de Huxley, em que a liberdade, o amor e o compromisso desaparecem, mas em que a sua perda nunca pode ser notada pela nova raça de supernerds transumanos.”
Toda a obra gira em torno da máxima de que a liberdade só pode advir da responsabilidade e que esta não surge sem a razão, a denuncia de que o mundo moderno, e as suas crises, têm por responsável uma “espécie de vício de irrealismo”, todas as decisões modernas partem do pressuposto da “melhor das hipóteses” ignorando sempre que algo pode correr mal e que a actual crise podia ter sido evitada se assim não fosse. O modo como o filósofo desmantela a abstracção do actual sistema económico é, no mínimo, brilhante.
Mas a principal surpresa foi o elogio a Maomé! Scruton é um dos mais vorazes críticos do Islão, o que o levou inclusive a ser orador convidado no congresso do Vlaams Belang, segundo maior partido da Flandres, de extrema-direita, em 2006: “fui porque só esta está disposta a debater a problemática da imigração”, diria mais tarde aos seus críticos, “fossem socialistas iria na mesma”. O elogio não se fica por Maomé, estende-se aos juristas e às leis islâmicas referentes à usura e à especulação, “obra do Diabo”, à banalização do empréstimo como “activo irreal”, com a promessa de uma produção futura, e não ocorreu aos optimistas que mil e uma coisas podiam impedir que tal se realizasse? Uma lúcida voz que alerta para a anormalidade da actual normalidade que “uma dose de pessimismo certamente preveniria”.»

Flávio Gonçalves
in "O Diabo", n.º 1792, 3 de Maio de 2011.

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