segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Candidato

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“Agora só falta dinheiro e um candidato que possa ser treinado para assumir um ar «sincero». Deste novo ponto de vista, os princípios políticos e os planos para uma acção específica acabaram por perder a maior parte da sua importância. A personalidade do candidato e o modo por que ele é lançado pelos peritos de publicidade são as coisas que realmente contam.
De qualquer maneira, sob o aspecto de um homem viril ou de um pai amável, o candidato deve ser fascinante. Deve ser também um bom conversador que nunca aborrece a assistência. Habituada à televisão e ao rádio, esta assistência está acostumada a ser distraída e não gosta que lhe peçam que se concentre ou faça um esforço intelectual prolongado. Todos os discursos feitos pelo conversador-candidato devem, portanto, ser curtos e incisivos. As grandes questões do momento devem ser tratadas, no máximo, em cinco minutos — e de preferência (dado que a assistência estará impaciente por passar a qualquer coisa de mais atraente do que a inflacção ou a bomba H) em sessenta segundos. Devido à natureza da oratória, houve sempre entre os políticos e os eclesiásticos a tendência a simplificarem extremamente as questões complexas. De um púlpito ou de uma tribuna, até os oradores mais conscienciosos acham muito difícil dizer toda a verdade. Com os métodos usados agora, para mercadejar o candidato político como se ele fosse um desodorizante, coloca-se positivamente o eleitorado ao abrigo de ouvir toda a verdade sobre o quer que seja.”

Aldous Huxley
in "Regresso ao Admirável Mundo Novo", Edição «Livros do Brasil», Lisboa.

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