sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mein Kampus

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"Está a ocorrer uma mudança cultural nos campi universitários da América do Norte. Os estudantes acorrem aos serviços de saúde mental mais depressa do que podem ser tratados. Esta mudança está a definir uma geração e marca uma profunda mudança no ambiente mental dos campi de hoje. Há não muito tempo, os estudantes recorriam a ajuda em situações de crise particulares: uma relação desfeita, a morte de um ente querido, dificuldades com uma grande decisão. Hoje, no entanto, os estudantes queixam-se que a sua vida é a crise, uma sensação omnipresente de desolação sobre si e seu futuro que não existia há uma geração. Esta transição da excepção para a regra é nada menos do que uma mudança de paradigma social, que transformou o ensino superior de um espaço de exploração e liberdade para uma prisão da mente. Alimentados pelo stress, ansiedade, pressão e competição, muitos dos estudantes actuais lutam não só para aprender, mas também para sobreviver.
A dr. Erika Horwitz, directora dos serviços de saúde de uma das maiores universidades do Canadá, Simon Fraser, afirma que o ambiente hiper-competitivo das universidades, onde os estudantes são virados uns contra os outros num jogo de soma-zero para cada vez menos empregos, está a levar uma geração de jovens aos limites. "As actuais ideologias do sucesso e da beleza não têm precedentes... Chegam cada vez mais estudantes a queixar-se que não conseguem aguentar".
O número crescente de problemas psicológicos nos campi da América do Norte tem sido documentado pela Association of University and College Counseling Center Directors Annual Survey. Os resultados são alarmantes. Mais de dois terços dos centros de saúde para estudantes dizem que não têm recursos suficientes para lidar com o número crescente de clientes. 34% dos centros têm listas de espera em curso. A principal razão que leva os estudantes a pedir ajuda é a ansiedade (40%), seguida de perto pela depressão (38%). Além disto, o diagnóstico duplo está a crescer rapidamente, com muitos estudantes a chegar aos serviços com misturas perigosas de ansiedade, depressão, disparidade de imagem corporal e pensamentos suicidas. Todos os directores admitem que os números estão a aumentar.
Estes resultados indicam o que acontece quando a ideologia económica dominante, o neo-liberalismo, chega às ciências e às artes. O campus já não é um lugar para estudar Heidegger. Já não é um lugar para investigar a natureza relativa do átomo de Bohr. É um lugar para ultrapassar a concorrência, e a competição é feroz. É um lugar para aldrabar quando se pode, para escolher disciplinas fáceis com professores fáceis, para trocar aprendizagem por bajulação, para perguntar deliberadamente uma questão por aula, independentemente do interesse, só por aquela nota extra da participação, e para fugir para mundos privados e isolados quando a curva determina que apenas 20% podem ter aquele cobiçado A. Numa geração, a mensagem mudou. Este já não é um lugar para te encontrares; não é um rito de passagem cultural; é uma exigência cultural. Da primeira assinatura à cerimónia de formatura, a nova mensagem é clara: o curso de quatro anos não é suficiente; uma única falha pode arruinar as tuas hipóteses na universidade e, consequentemente, na tua vida. Esta mensagem está a ameaçar as nossas mentes mais brilhantes."

Darren Fleet
in "Adbusters", #96 Julho/Agosto 2011.

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