sexta-feira, 8 de novembro de 2013

"Os homens não podem prescindir de raízes"

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"Todas as grandes civilizações descansam sobre uma antiga tradição que atravessa o tempo e transporta com ela as chaves do reino. Todas têm por origem o livro ou a palavra de um sábio, de um profeta ou de um poeta fundador. A tradição chinesa com Confúcio, a tradição himalaia com Buda, a semita com Moisés e Maomé, a tradição hindu com os Vedas, a tradição europeia com Homero. A tradição não ensina a construir um computador. Revela os princípios de perpétuas regenerações. Saber que se é filho de Ulisses e Penélope e não de Maomé, Abraão ou Buda, não é indiferente."
Essa consciência favoreceu a espectacular modernização da China pelo regresso a Confúcio. Para os europeus, é um mistério perturbante. Impregnados por uma visão teleológica da história, pela cultura do progresso, pelo desprezo pelo passado e pela sua ausência de memória longa, encontram-se desamparados perante o descomunal movimento mundial de retorno identitário que vêem facilmente como uma regressão. Na sua cegueira, procuram soluções técnicas (políticas, económicas, organizacionais) para uma crise de civilização que é espiritual. (...) Desnorteados pela falta de memória identitária e pela sua terrível derrota histórica do século de 1914, não têm agora outra opção que não seja a de recorrer à fonte de energia espiritual donde surgiu o impulso inicial da sua civilização há vários milénios. Impregnar-se da exegese de Homero, para os europeus, de Confúcio para os chineses, de Maomé para os muçulmanos, é viver na companhia de modelos que alimentaram a parte mais autêntica das respectivas civilizações. Não é voltar para trás, é reactualizar os princípios vivos de um específico ideal de vida.
Os homens só existem pelo que os distingue: clã, linhagem, história, cultura, tradição. Não há uma resposta universal às questões da existência e do comportamento. Cada povo dá as suas respostas, sem as quais os indivíduos, homens ou mulheres, privados de identidade e de modelos, são precipitados numa perturbação sem fundo. Como as plantas, os homens não podem prescindir de raízes. Mas as suas raízes não são apenas as da hereditariedade, às quais se pode ser infiel; são também as do espírito, isto é, da tradição que cabe a cada qual reencontrar."

Dominique Venner
in "O Século de 1914. Utopias, Guerras e Revoluções na Europa do Séc. XX", Civilização Editora (2009).

1 comentário:

  1. "Os homens só existem pelo que os distingue: clã, linhagem, história, cultura, tradição. Não há uma resposta universal às questões da existência e do comportamento. Cada povo dá as suas respostas, sem as quais os indivíduos, homens ou mulheres, privados de identidade e de modelos, são precipitados numa perturbação sem fundo. Como as plantas, os homens não podem prescindir de raízes. Mas as suas raízes não são apenas as da hereditariedade, às quais se pode ser infiel; são também as do espírito, isto é, da tradição que cabe a cada qual reencontrar."

    Muito boa esta parte.
    Vou sacar isto "emprestado".

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