quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
Estados Unidos — declínio ou hegemonia
"A narrativa bíblica do sonho de Nabucodonosor no Livro de Daniel, em que o jovem judeu cativo em Babilónia reconstrói e interpreta o sonho do Rei, dá-nos a primeira versão da ascensão e queda dos impérios: o gigante da cabeça de oiro, os braços de prata, o ventre e as pernas de bronze e os pés de barro representava esses impérios antigos — o Caldeu, o Persa, o Macedónio de Alexandre, os Plotomeus e os Seleucidas, a todos os que foram oprimindo os judeus até à data da redacção do livro.
Estes impérios caíam e sucediam-se. Na moderna história europeia, desde o século XVI, também impérios e hegemonias se sucederam, na terra e nos mares.
O caso português não parece integrar-se nestes impérios euroglobais, pois mesmo no seu apogeu, nos princípios do século XVI, com o Brasil em ocupação e povoamento, as poucas fortalezas e feitorias nas Áfricas Ocidentais e Orientais, o controlo do comércio do Índico, faltou-nos alguma hegemonia na Europa para entrar no clube dos grandes impérios. Se o tivéssemos feito, teríamos sido os pioneiros entre 'os modernos'.
Não fomos. Mas os Habsburgos Carlos V e Filipe II, a França no tempo de Luís XIV e a Grã-Bretanha da Guerra dos Sete Anos à Grande Guerra foram sucessivamente as grandes potências.
E depois das rivalidades de entre guerras, os Estados Unidos apareceram em 1945, como a superpotência hegemónica, medindo forças com a Rússia soviética. Esta fragmentou-se no princípio da década de 1990 e os americanos ficaram sozinhos, super-potência única, primeira na força militar, na economia e também na imposição de modelos político-económicos, da cultura urbana dos jovens, dos modos ditados pela música, pelo cinema e pela televisão.
E agora? Vão manter a dianteira? Vão cedê-la aos chineses, cujos números económicos tanto impressionam? Vão decair devagar, como os impérios antigos, ou a hegemonia britânica, ou bruscamente como os japoneses dos anos 30 ou a URSS?
O 'declinismo' é uma escola universal, transversal a ideologias, épocas ou continentes. Os seus corifeus lêem nas tendências e casos do presente o futuro (difícil e decadente) que está para vir. O seu grande profeta no limiar do século passado, Oswald Spengler, escreveu dois grossos e primeiros volumes da História Política e da Civilização a falar dessa decadência do Ocidente.
Mas será que a decadência é irremediável e rápida? O império soviético, um império ideológico, territorial e militar, durou 40 anos e caiu entre a baixa dos preços do petróleo (para a qual Bill Casey foi determinante, ao convencer os sauditas), a derrota do Afeganistão e a utopia reformista de Gorbachev.
Será que o império americano, com tantas teorias declinistas — desde o impacto do Sputnik ao famoso livro de Paul Kennedy e às permanentes profecias do 'céu a cair' sobre os Estados Unidos —, vai conhecer a mesma sorte um quarto de século depois? Por agora não sabemos, pelo que podemos, livremente, entregar-nos à especulação histórico-filosófica e analítica, um prazer bem mais agradável, que debruçar e especular sobre as mágoas conjunturais deste país."
Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 29 de Novembro de 2013.
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