domingo, 21 de maio de 2023

Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito

0 comments
 



«Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.»

Esta máxima de Friedrich Nietzsche foi passada à acção por Dominique Venner, há exactamente dez anos, no dia 21 de Maio de 2013, sob as abóbadas da catedral de Notre-Dame em Paris.


Esta morte voluntária não foi uma renúncia, nem um gesto de desespero, mas um germe, «como uma provocação à esperança e ao motim», um gesto realizado «com uma intenção de protesto e fundação» porque Dominique Venner sentiu o dever de agir «perante os imensos perigos para a nossa pátria francesa e europeia».

Espantando tanto os seus piores inimigos quanto os seus amigos mais próximos, Dominique Venner soube morrer como um Antigo Europeu, seguindo o exemplo de Catão de Útica, Séneca e Régulo. Nestes tempos em que se exibem vidas desprovidas de sentido, o seu gesto encarna uma ética da vontade, constituindo um apelo aos europeus ainda lúcidos, para além das massas anestesiadas. De portador da espada, Dominique Venner tornou-se portador da luz. Com a sua morte, ele transmitiu-nos uma chama que nunca se deve extinguir.

Desde este 21 de Maio de 2013, o tiro que o matou ressoa como o rugido sombrio e pesado que anuncia as tormentas e tempestades de um século de ferro e pavor que se abre diante de nós. Dez anos depois do seu gesto, os «perigos tremendos» que Dominique Venner evoca na sua carta-testamento estão mais próximos do que nunca. Como a imagem insana da Notre-Dame de Paris em chamas seis anos depois do seu último gesto, abrem-se desafios gigantescos diante dos nossos olhos: a invasão migratória, as crises morais, sociais, ecológicas, económicas, o regresso da guerra à Europa… Todos estes perigos se conjugam numa convergência de catástrofes que nunca levou tão alto a ameaça de aniquilação completa do nosso mundo.

Diante disto, somos os últimos dos europeus, «levando às costas o peso da mais gloriosa das heranças», carregados de quarenta séculos de História, mas, mais ainda, com a riqueza de uma concepção do mundo e de um certo tipo de um homem como nenhum outro, tal como foi cantado nos nossos contos épicos, nos poemas homéricos, nas Eddas, na matéria da Bretanha, na lenda dos Nibelungos…

O dia 21 de Maio de 2013 não significa um fim, mas um começo, um rito de fundação. Ao cometer suicídio na Notre-Dame de Paris, um lugar imemorial e sagrado, Dominique Venner abriu um caminho. Um «juramento silencioso» liga-nos agora pelo sangue derramado naquele dia sob a frondosidade de pedra da catedral. Cabe-nos, sempre, continuar um combate ético e estético. Face às tempestades de aço que estão por vir, cabe-nos sermos de novo «portadores malditos da força criativa», vigilantes e despertadores, pessimistas e alegres, tradicionalistas e revolucionários, meditativos e activos, presentes na rua e considerando sagrado o segredo das florestas.

Do despertar dos europeus, Dominique Venner não duvidava. Recusando submeter-nos a um suposto sentido da História, acreditamos, como ele, que a História é, pelo contrário, o domínio do imprevisto, que é antes de mais levada pela vontade dos homens, e juramos dedicar toda a nossa energia para que o que parece inevitável não o seja. Sem dúvida que não veremos o resultado, como aconteceu por exemplo na Reconquista que se estendeu por sete séculos, mas a nossa ardente vigília poderá um dia acolher depois de uma longa noite «aqueles que pronto aparecerão na nova manhã». Assim, como o Rei Artur regressando de Avalon, ou o Imperador Barbarossa dormindo sob as montanhas Kyffhäuser, a Europa conjurará o feitiço maligno que começou em 1914 e despertará para voltar a encontrar a História, e então será para sempre, fazendo desta forma seu o último oráculo da Pítia de Delfos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

 
© 2013. Design by Main-Blogger - Blogger Template and Blogging Stuff