quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Nacionalismo e Universalismo
"Para o Individualismo, (…) toda e qualquer espécie de Nacionalismo é absurda e indefensável. [...]
Considera-o a negação de todo o universalismo, a defesa dos exclusivos agressivos na ordem internacional, tendo a sua razão de ser naquela negação e nesta defesa, porque os sacrifícios que se exigem ao indivíduo em favor do egoísmo colectivo dos países desapareceriam ao desaparecer desta espécie de egoísmos, quando os homens, abolidas as fronteiras, passem a ser irmãos. [...]
No entanto, é errado supor que estes princípios procurem aniquilar e esmagar o homem. Aniquilado e esmagado, talvez seja o indivíduo que não ultrapassa o próprio egocentrismo. […] É pessoa, na medida em que se eleva a esse superior plano e repele o individualismo, perigo para os homens e os valores. Perigo para o homem, não sendo obrigado a elevar-se a nível superior a si próprio, perigo para os valores que se diz residirem no homem e que descem assim à esfera do particular.
Ensinar portanto que o Nacionalismo é uma doutrina divinizadora do Facto, materialista, bárbara, é desconhece-lo ou não o compreender.
O Nacionalismo é espiritualista e ético. Não é utopístico, evidentemente, e uma vez dito o que vale a Nação não elabora, abstractamente, um conceito desta, mas estuda-a e compreende-a no seu desenvolvimento orgânico, no tempo, sendo então um «empirismo organizador».
Ensinar que o Nacionalismo é a guerra em potência senão em acto, baseia-se, igualmente, no desconhecimento e na incompreensão. Já Sardinha exclamava ser possível reconstruir «o tipo histórico duma nacionalidade desligando-o por completo do ambiente em que houvesse de respirar e de se prolongar».
Quer dizer: a existência duma Pátria não se pode conceber sem a existência doutras, que são de facto o estrangeiro, mas em relação a nós, desempenhando uma função na própria consciência do nosso país.
Por isso o nacionalismo cuja ideia-força fosse a destruição dos outros povos seria antes um imperialismo internacionalista.
Repelindo o Individualismo na sua tradução interna, isto é, como Demo-Liberalismo, repelindo-o nas suas modalidades externas como cosmopolitismo que pretende abater as fronteiras para «libertar o homem», opondo-se ao mito duma Humanidade inexistente em relação a qual se pretenda organizar geometricamente o Mundo, afirmando o respeito pelas outras pátrias, afirmando a dignidade das totalidades humanas reais, afirmando a superação do indivíduo pela pessoa, o Nacionalismo surge como expressão verdadeira actual e concreta do Universalismo."
António José de Brito
in Mensagem, Nacionalismo e Universalismo, nº4, 3 de Abril de 1947.
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