domingo, 1 de maio de 2011

Chamam a isto uma Esplanada?

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"Uma das expressões mais visíveis e omnipresentes da desordenação urbana em Lisboa são as esplanadas. Se é que se pode chamar isso ao par de mesas periclitantes com cadeiras de cores agressivas e um toldo encardido, que fingem sê-lo em muitas das ruas, ruelas e praças da cidade. É que esplanadas a sério em Lisboa, bonitas, homogéneas, confortáveis, arrumadas e regulamentadas, devem contar-se pelos dedos das duas mãos. O resto, é um salve-se quem puder. Melhor: um sente-se quem puder.
Na minha rua, por exemplo, há um restaurante cujo dono decidiu fazer uma "esplanada". Plantou duas mesas e quatro cadeiras à porta, permitindo a alguns clientes almoçar ou lanchar quase em cima dos automóveis e aspirar-lhes os fumos dos escapes, e reduzindo o espaço de circulação dos peões. Uma mesa mais, e as pessoas comiam à beira do passeio e os transeuntes passavam pelo meio delas, antes ficarem com umas nódoas de bacalhau ou de bitoque, do que serem atropelados.
Como esta esplanada minimalista, há muitas mais em Lisboa. E também esplanadas equilibristas (em ruas inclinadas), esplanadas-bunker (enquadradas por blocos de cimento desirmanados), esplanadas finórias (manhosas mas com toldos alvos), esplanadas com patrocínio (cadeiras e mesas a anunciar a mesma marca de cerveja) ou esplanadas-instalação (duas cadeiras sem mesa).
A Câmara de Lisboa vai regulamentar as esplanadas da Baixa. Tem de fazer o mesmo às do resto da cidade, ou, por este andar, o restaurante chinês do meu prédio ainda me põe uma esplanada temática à porta, entre os contentores do lixo e a loja de móveis do lado."

Eurico de Barros
in Diário de Notícias, 16 de Abril de 2011.

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