segunda-feira, 2 de maio de 2011

Entrevista com Marine Le Pen

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Como vê a situação na UE perante a crise económica e financeira actual?
A obstinação dos líderes europeus em salvar o euro a todo o custo condena os povos à austeridade e à pilhagem social. É espantoso o autismo das elites ultraliberais, que impõem às opiniões públicas as suas loucas certezas. Os planos de salvamento impostos à Grécia e à Irlanda e, talvez amanhã, a Portugal, criam dívida e sofrimento à custa do poder de compra e da prosperidade.

Disse que o euro está morto. Que devem fazer países como Portugal? A UE e o FMI não deveriam ajudar?
Os planos de salvamento têm a marca do FMI e das organizações supranacionais, com um único objectivo: salvar a moeda seja a que preço for. O pacto proposto pelos dirigentes europeus, com a bênção do FMI, criará regressão económica e social sem precedentes: baixa de salários, prestações sociais e pensões, aumento da idade de reforma... e tudo sem resultados, porque as taxas de juro da Grécia, por exemplo, voltam a níveis históricos!

Qual é a alternativa?
Relançar a economia com uma política monetário eficaz. Promover uma saída organizada do euro, reencontrar a liberdade monetária, para que os bancos centrais nacionais financiem o Tesouro sem terem de pedir dinheiro emprestado nos mercados internacionais, predadores. É preciso criar protecções razoáveis nas fronteiras.

Os portugueses imigrados em França são amigos da França e da FN? A sua presença é positiva para o país?
A FN não alimenta ressentimentos contra estrangeiros que respeitem as regras, princípios, valores e cultura do nosso país. É o caso dos portugueses, que sempre mostraram vontade de assimilação. A minha ‘cantina’, e dos dirigentes e pessoal da FN, é um restaurantezinho português ao pé da nossa sede. É muito caloroso.

Tem tido bons resultados eleitorais e boas sondagens. Como vê as próximas presidenciais, dentro de um ano?
Não sou obcecada por sondagens, mas é certo que há uma dinâmica à volta da minha candidatura. Traduz o desejo dos franceses de uma alternativa credível e eficaz ao sistema instalado há décadas e que conduziu o país ao caos económico e social. O povo percebeu que não há diferença entre o Partido Socialista, a ala esquerda do ultraliberalismo, e a União para um Movimento Popular (UMP), sua ala direita. Em 2012 vamos oferecer-lhes outra escolha ideológica: a nação contra a globalização.

Como vê o debate lançado pela UMP sobre o Islão e a laicidade?
É mais uma manobra do partido de Sarkozy para seduzir os nossos eleitores, mais vai sair-lhe pela culatra: divide a UMP. Mas não é razão para o promover. O que é preciso é aplicar a lei. Defendo que deve ser inscrito na Constituição que a República não reconhece qualquer comunidade, para evitar reivindicações comunitaristas. Não aceito que os contribuintes franceses financiem mesquitas ou outros locais de culto.

Que pensa da intervenção internacional na Líbia?
Sou contra. Há dois pesos e duas medidas: no Iémen, Síria e Bahrein também morrem muitos manifestantes vítimas da repressão e isso não interessa à comunidade internacional. Receio que na Líbia as coisas vão durar, porque este país — composto por tribos, minado por conflitos e com muita gente armada — parece mais o Iraque ou o Afeganistão do que a Tunísia ou o Egipto. Sarkozy sucumbiu de novo aos impulsos, sem reflectir sobre as consequências geopolíticas e militares. Acho, até, que se meteu nesta guerra devido à aproximação das presidenciais do que por outras razões... Não estou com o chefe de Estado e o Governo neste conflito, mas estou, firmemente, com as nossas forças armadas: receio pela vida dos nossos soldados enviados para lá.

Fonte: Expresso, 2/4/11.

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