sexta-feira, 3 de junho de 2011

A Guerra que fez

0 comments
 

"Os primeiros tiros contra o Forte Sumter foram disparados pela artilharia confederada, na madrugada de 12 de Abril de 1861; 33 horas depois, a guarnição unionista, sem baixas, rendeu-se e foi embarcada de volta ao Norte. Os atacantes também não tiveram perdas.
Quatro anos passados, a 9 de Abril de 1865, em Appomattox, na Virgínia, Ulysses S. Grant, pelo Norte, e Robert E. Lee, pelo Sul, assinaram o acordo que pôs fim à Guerra Civil americana.
Entre o derrotado Lee e o vitorioso Grant, as coisas correram com a cordialidade e respeito de camaradas de armas que a política tinha obrigado a enfrentar-se. Agora reconciliavam-se: os vencidos entregavam o armamento, mas os oficiais podiam guardar as armas pessoais e todos os sulistas levar de volta os cavalos, propriedade sua.
Entre estes dois episódios de brandos e correctos costumes, acontecera uma guerra em que tinham morrido 620 mil soldados (360 mil do Norte e 260 mil do Sul), mais 50 mil civis. A Guerra Civil é, ainda hoje, a primeira guerra em termos de baixas dos Estados Unidos.
Havia 30 milhões de norte-americanos em 1860: 20 milhões de brancos e meio milhão de negros no Norte e 5,5 milhões de brancos e 3,5 milhões de negros no Sul. Estes negros do Sul eram escravos, na sua maioria filhos de escravos, já que o tráfico cessara desde o fim do século XVIII.
Abraham Lincoln não acreditava na igualdade de brancos e negros, mas era pela sua igualdade legal, logo pela abolição. A maioria da população do Norte pensava como ele. Por isso quando foi escolhido pelo Partido Republicano e ganhou a presidência, os representantes de sete Estados esclavagistas reuniram-se em Montgomery, Alabama, e prepararam a Secessão, elegendo um Presidente alternativo — Jefferson Davis.
Lincoln procurou o diálogo com os separatistas; havia ainda Estados fronteiriços, oscilantes entre a Confederação e a União, e muitos no Deep South — pensava-se — eram leais à União.
Mas a economia do Sul vivia do algodão e este do trabalho escravo. A questão tornara-se vital e os sulistas temiam não só a abolição como a revolta dos ‘seus’ negros. O ataque ao Forte Sumter arrumou as dúvidas e em Maio de 1861, a divisão Norte- Sul era clara.
Uma guerra desigual: o Sul tinha um exército mais pequeno, de 900 mil homens contra dois milhões do Norte. Plantadores, agricultores e pioneiros, os sulistas estavam mais preparados para a ‘vida militar’. Em inferioridade de homens, território, economia e reconhecimento internacional, tinham de obter uma vantagem estratégica inicial e fixar aí uma negociação. Não conseguiram e no tempo longo foram esmagados.
A guerra civil americana foi a primeira guerra moderna — com espingardas de repetição, metralhadoras, caminhos de ferro e, no mar, os couraçados e o submarino.
Também houve inovação no financiamento: o Norte tinha recursos através das exportações de cereais para a Europa e a correspondente entrada de ouro e recorreu às obrigações do Tesouro e à emissão do papel-moeda.
O Sul era mais pobre, embora ali os ricos fossem mais ricos ou vivessem mais como ricos. A nostalgia de uma civilização rural desaparecida levou Mark Twain, Faulkner, Tennessee Williams, Griffith e Victor Fleming a romantizarem na literatura e no cinema o Sul e a Confederação.
Mas os grandes plantadores eram uma minoria. Embora dominassem o governo e a sociedade, a ideia dos ‘escravos felizes’ não conseguiu aguentar a pressão abolicionista que livros como A Cabana do Pai Tomás despertaram na opinião pública. E foi com base nessa ‘maldade’ dos ‘rebeldes’, que Sherman lançou a sua coluna negra através da Geórgia, queimou Atlanta e chegou a Savannah na véspera do Natal de 1864.
Partira, como Grant fizera antes a Oeste, o Sul a meio, e levara o terror e o medo ao coração da terra rebelde, mas os Estados Unidos iam renascer mais fortes desta guerra de irmãos separados."

Jaime Nogueira Pinto
in "Sol", 25 de Abril de 2011.

Sem comentários:

Enviar um comentário

 
© 2013. Design by Main-Blogger - Blogger Template and Blogging Stuff