quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O Fim da Ortografia

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“O Fim da Ortografia. Comentário razoado dos fundamentos técnicos do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)”, de António Emiliano, professor de Linguística na Universidade Nova de Lisboa, publicado em 2008 pela Guimarães, é uma segunda versão do texto apresentado nesse ano ao Presidente da República na audiência concedida aos signatários da petição “Em defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico”.

É um livro implacável que desmonta, tecnicamente, ponto por ponto, o Acordo Ortográfico, concluindo que se trata de “uma reforma ortográfica inexplicável”. Para António Emiliano, esta reforma, “por atentar contra a estabilidade do ensino, a valorização da língua e a integridade do seu uso, valores que a Constituição consagra e protege, (...) não serve o interesse de Portugal e deve, em consequência, ser impugnada e rejeitada.

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  1. Professor Antônio Emiliano: o senhor fez o que eu gostaria de ter feito. Embora tenha sido excelente aluna no Curso de Graduação em Letras na Universidade Santa Úrsula, com 38 notas dez e 28 notas nove no final, não tenho dúvida da minha incompetência para um trabalho desse porte. Na primeira investida, porém, de Huaiss contra a língua (um dos símbolos da pátria), eu, que estava com um humor cortante, fiz uma carta ao então Cônsul de Portugal no Rio de Janeiro indignada com a audácia de dois políticos importantes, um, o Primeiro-Ministro de Portugal, e o outro, talvez, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, que cumprimentaram um ao outro "por essa vitória POLÍTICA". (Lido em jornal, provavelmente "O Globo", a julgar pela época.) E foi o nojo dessa frase que me fez atacar sarcasticamente essa pretensão de mudança. Eu soube que essa história não tinha acabado quando, depois de algum tempo, o governo de Brasília estabeleceu uma data final para a adoção dessas mudanças BEM ANTES QUE TODOS OS OUTROS PAÍSES de Língua Portuguesa tivessem assinado. Há coisas muito esquisitas nesse "acordo" e a primeira coisa a notar é que, se alguma das partes não assina, ele é nulo. Outra e outra: o Português de certos países é absolutamente diferente do nosso, do de Angola, do de Portugal, e só não são outra língua porque têm a mesma estrutura sintática; e os pequenos países sem nenhuma hegemonia mundial também não têm dinheiro sobrando para pagar o que a mudança exige. Países pobres que possivelmente não terão bibliotecas, muito menos editoras. Ou leitores. Conversando com um amigo outro dia, saiu-me um insight: o Português é uma língua complexa e rica; o pensamento racional se inicia com o que se verbaliza; quanto mais refinada a língua, mais refinado é o raciocínio, mais sutis as percepções. O Brasil é riquíssimo em bens naturais; alguém duvida de que a "vitória política" não significa "vamos nocautear esses brasileiros"? Uma cópia dessa carta está nos arquivos da "Folha de São Paulo"; a outra, claro, se ainda existe, na casa do Cônsul no RJ, em Botafogo, que não deve ser o mesmo.

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